13% dos imigrantes moçambicanos regressaram ao país devido à Covid-19, diz ONU

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Manuel Matola

A Organização Internacional das Migrações (OIM) diz que pelo menos 13% dos mais de 11 milhões de moçambicanos residentes na diáspora decidiram regressar ao país após a eclosão da pandemia da Covid-19 que, de acordo com o Presidente de Moçambique, Filipe Nyusi, matou um imigrante moçambicano na Alemanha e testou positivo noutros 10 nacionais que vivem no estrangeiro.

“Na diáspora, contamos com dez compatriotas nossos infetados, dos quais sete totalmente recuperados, dois em tratamento médico e, infelizmente, um perdeu a vida” na Alemanha, onde residia desde os anos 80, afirmou esta quarta-feira o chefe de Estado moçambicano, dia em que decidiu prorrogar o estado de emergência até 30 de maio, devido à crise pandémica provocada pelo novo coronavírus, para travar uma eventual pressão sobre o sistema nacional de saúde.

Filipe Nyusi, que anunciou ainda o registo de “76 casos positivos” de contaminação da Covid-19 “e nenhum óbito” no território moçambicano, considerou que “estes não são apenas números, mas vidas humanas”, pelo que as autoridades moçambicanas estão empenhadas “em tudo fazer” para proteger os cidadãos que vivem dentro ou fora do país.

Numa comunicação à Nação, o Presidente moçambicano disse que tem “constatado que, apesar do aumento dos casos de contaminação, há um relaxamento na postura” dos moçambicanos em relação à prevenção e à contenção da propagação da Covid-19.

“Esta situação pode conduzir, a curto e médio prazo, a um aumento exponencial de casos com consequências dramáticas para as famílias e para todo o país”, alertou Filipe Nyusi, que decretou o estado de emergência a 01 de abril e agora as prorroga por mais um mês, visando prosseguir com as “medidas excepcionais de prevenção e controlo” da doença.

Em Moçambique, o confinamento não é de caráter obrigatório, por isso o chefe de Estado moçambicano exortou a todos os cidadãos que saiam apenas em casos de extrema necessidade.

“Em palavras simples digo: Vamos ficar em casa”, apelou o Presidente moçambicano, numa declaração à nação transmitida pelas rádios e televisões nacionais.

Em nota enviada ao jornal É@GORA, a OIM Moçambique diz que “a preocupação com a potencial propagação da Covid-19 em Moçambique foi elevada no final de março, quando, segundo o Serviço Nacional de Migração de Moçambique (SENAMI), mais de 14.000 migrantes moçambicanos regressaram da África do Sul pela fronteira de Ressano Garcia num espaço de poucos dias, quando a África do Sul declarou o encerramento das fronteiras devido à Covid-19”.

Este número representa 12,7 por cento dos “mais de 11 milhões de moçambicanos que vivem no estrangeiro, sendo a África do Sul um dos principais destinos dos seus cidadãos” que ocupam “postos de trabalho nos setores mineiro e agrícola”, que “são a norma para os moçambicanos” naquele país vizinho.

De acordo com aquela agência das Nações Unidas, os imigrantes moçambicanos na África do Sul trabalham, “especialmente no setor formal”, estimando-se que “cerca de 24.000 moçambicanos” estejam “a trabalhar no setor mineiro”.

“Os dados agrícolas são menos completos, mas só na província de Mpumalanga, estimativas de 2004 indicavam que cerca de 80.000 moçambicanos trabalhavam em explorações agrícolas. A maioria destes milhares de moçambicanos regressou às suas comunidades de origem nas províncias do sul do país, nomeadamente, Maputo, Gaza e Inhambane, que são os principais remetentes de trabalhadores migrantes para a África do Sul”, assegura.

Por isso, a OIM Moçambique ativou a sua rede de agentes de saúde comunitários nas províncias do sul “para identificar os retornados nas suas comunidades de origem e assegurar que fossem alcançados com mensagens-chave de prevenção e quarentena”, face às preocupações que “aumentam com o potencial impacto de um surto de COVID-19 num país onde as questões de saúde pública incluem o VIH, a tuberculose, a malnutrição e as doenças não transmissíveis, especialmente a hipertensão”.

No comunicado, a OIM Moçambique recorda as declarações de um retornado ao pais, onde a agência da ONU tem apoiado os planos de preparação e resposta do governo moçambicano à Covid-19 através da implementação de uma estratégia centrada nas comunidades afetadas pela imigração.

“Fiquei muito assustado quando ouvi falar desta doença que está a matar pessoas em todo o mundo. Quando os casos começaram a ser confirmados na África do Sul, o meu empregador alertou para a gravidade da doença e para o encerramento iminente das fronteiras. Como devíamos regressar a casa, pensei que seria melhor regressar à minha família em Moçambique, porque em caso de infecção por esta doença eles poderiam tomar conta de mim. Cumpri a quarentena de 14 dias e continuo a ficar em casa com a minha família. Só saímos em caso de necessidade urgente. Todos os que entram em casa devem lavar as mãos com água e sabão”, conta o imigrante.

Em resposta a estas preocupações, a OIM Moçambique está a desenvolver esta ação financiada pela Protecção Civil e Operações de Ajuda Humanitária Europeias (ECHO) através de um modificador de crise, e pela Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID).

“Para identificar os retornados, os agentes de saúde comunitários da OIM baseiam-se nos registos dos trabalhadores activos da OIM, nos livros de registo das instalações de saúde, nas redes comunitárias e na liderança tradicional. Os líderes comunitários e os profissionais da medicina tradicional também têm prestado apoio”, lê-se na nota que explica como decorre o processo.

“Os retornados são contactados por telefone e os profissionais de saúde fornecem informações essenciais sobre quarentena obrigatória, medidas de prevenção e gestão da Covid-19 e formas de encaminhamento conforme necessário. Os retornados são igualmente questionados se os seus familiares apresentam sintomas e são encorajados a partilhar a mensagem com a família, amigos e vizinhos. Os dados dos retornados são partilhados semanalmente com o Ministério da Saúde”, diz.

A propósito, o Supervisor de Campo da OIM e Ponto Focal da Covid-19 em Inhambane, Andre Chambal, afirmou: “Este esforço tem um impacto positivo porque ajudamos a garantir a segurança das famílias dos migrantes” que após serem alistadas e mapeadas “sabem que podem ligar para as nossas linhas se tiverem sintomas”.

Citado na nota, Laissane Tivane, um mineiro que regressou à província de Inhambane, conta que ficou surpreendido quando recebeu o telefonema de um trabalhador de saúde comunitário da OIM a perguntar se estava bem e, de seguida, dar explicações sobre “os sintomas da COVID-19, as medidas de prevenção” e pedido “para ficar em casa até completar a quarentena obrigatória de 14 dias e para telefonar em caso de quaisquer sintomas”.

“O esforço começou no final de março. Até à data, foram chamados mais de 850 migrantes, e também os membros da família de cada migrante, para perguntar sobre a saúde de mais de 4.100 familiares”, sendo que para já “ninguém entre os migrantes que regressam ao país de origem e que são rastreados telefonicamente relatou sintomas relacionados com a Covid-19”, garante a OIM.

“Este esforço tem um impacto positivo porque ajudamos a garantir a segurança das famílias dos migrantes”, afirmou o Supervisor de Campo da OIM e Ponto Focal da COVID-19 em Inhambane Andre Chambal. “Listamos e mapeamos os retornados, e eles sabem que podem ligar para as nossas linhas se tiverem sintomas”.

Os trabalhadores comunitários de saúde da OIM têm operado nos últimos três anos num programa financiado pelos Centros de Controlo e Prevenção de Doenças (CDC) e conduzido em cooperação com a Associação Moçambicana de Mineiros e os Ministérios da Saúde e do Trabalho, Emprego e Segurança Social de Moçambique.

O programa transfronteiriço inclui exames de saúde ocupacional para os mineiros, bem como o acompanhamento de qualquer migrante confirmado com Tuberculose e seus familiares nas suas comunidades de origem moçambicanas, bem como nos locais de trabalho na África do Sul.

Em 2019, o programa proporcionou mais de 18.000 rastreios de saúde no trabalho aos mineiros que atravessavam a fronteira de Ressano Garcia para trabalharem na África do Sul, onde outros 141 trabalhadores migrantes receberam acompanhamento e apoio para completar o tratamento da tuberculose e foram rastreados 435 contactos domésticos para a tuberculose. (MM)

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