Manuel Matola
A jurista Antonieta Rosa Gomes, a primeira mulher a candidatar-se às presidenciais na Guiné-Bissau, acaba de publicar “A Chave da Lusofonia”, um livro de poemas expressos em versos líricos, onde também “fala sobre o imigrante” enquanto “cidadão do mundo em todas as suas vertentes de ser diferente e ser igual”.
“Há poemas que refletem muito bem o mundo. Eu falo até da globalização utópica, de crianças em refúgio”, diz a advogada sobre o livro escrito com um propósito: “É uma forma de exprimir (sentimentos) e uma forma de luta” em prol da lusofonia.
Imigrante em Portugal, onde é deputada municipal, Antonieta Rosa Gomes considera que o livro é útil “não só para os cidadãos lusófonos, mas também aos cidadãos do mundo que se reveem na base da igualdade racial e da diversidade”.
Por isso, a escritora defende a necessidade de se “continuar a construir essa lusofonia com reforço da cooperação, com a livre circulação de pessoas e bens que ainda não existe”.
“A Chave Lusofonia é a nossa própria construção contínua desta sociedade” que fala português, pelo que é preciso “continuar a construir essa lusofonia com reforço da cooperação, com a livre circulação de pessoas e bens que ainda não existe”, disse entrevistada pelo programa Savana, da Rádio Cruzeiro de Odivelas, realizado e apresentado por Celso Soares.
Antonieta Rosa Gomes, que é também autora do livro de poesias intitulado “Retratos de Mulher” (2013) e tem poemas publicados em várias Antologias poéticas, é de opinião de que “a chave da lusofonia vai ser justamente o ponto máximo quando se promover essa real integração”.
“No meu livro de poesia eu digo que a chave da lusofonia vai ser justamente o ponto máximo quando se promover essa real integração”, até porque é preciso “potenciar a cultura para impulsionar a economia” dos países lusófonos, afirmou a antiga ministra da Justiça e ministra dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação Internacional da Guiné-Bissau.
“A cultura é chave da lusofonia. Nós temos aquilo que nos une e que é comum: a língua, que é uma componente cultural que nos aproxima. Mas como temos diversidade cultural, aí a língua é uma grande riqueza que deveria incidir, que a própria organização deveria promover e muito. Evidentemente que já se fez (algo), mas ainda há muito a fazer a nível cultural”, refere.
Numa análise ao atual papel da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), Antonieta Rosa Gomes frisa que “não se vê intercâmbio cultural” no seio da organização que congrega os nove estados que têm o português como língua oficial.
A atuação da CPLP “deveria ser uma boa forma de promover essa nossa diversidade cultural, porque veja bem: na lusofonia as línguas nos unem e os países que fazem parte da organização vão com a sua vertente cultural enriquecer a lusofonia. E essa forma cultural não deve ficar de fora do contexto cultural lusófono”, sublinhou.
Consolidação
Para a pesquisadora e Doutorada em Estudos Africanos, àquela organização “falta uma política de promoção cultural da lusofonia que leve em conta e respeite a diversidade cultural. Somos diferentes, mas ao mesmo tempo iguais. E essa diversidade cultural é preciso dar-se força e isso não depende só de um país. Tem também a ver com a contribuição económica”.
À pergunta se a lusofonia ainda está em construção contínua, Antonieta Rosa Gomes responde afirmativamente e justifica: É que “ainda não chegamos a uma consolidação”. Porquê?: “É que dentro da própria lusofonia temos territórios descontínuos. Exemplo, temos territórios que estão na América, em África e Ásia. Esses territórios descontínuos acabam por ser uma mais valia mas ao mesmo tempo produzem efeitos diferentes da própria lusofonia”.
Comparando com uma comunidade similar, a então governante considera que nesse aspeto “a francofonia está melhor que a lusofonia em termos de realizações, intercâmbio e funcionamento”, visto que, “para começar, a lusofonia é uma organização de base cultural linguística”.
Contudo, defendeu, “para se ser membro da lusofonia deve haver critérios-compromissos e um desses compromissos para a integração na organização deve ser a língua”, disse numa alusão à Guiné-Equatorial, cuja entrada na CPLP não foi consensual. (MM)