Manuel Matola
Os resultados das legislativas deste domingo que deram maioria absoluta ao PS permitirá aos socialistas materializar um dos atos políticos que há muito defendem: a extinção do SEF, que anulará a pretensão dos partidos da Direita que convergem na ideia da reverter uma decisão ainda pendente no Parlamento.
Mas a nova legislatura que confirmará a restruturação do SEF testemunhará a mudanças na composição da futura Assembleia da República no campo da imigração, dado que a socialista Romualda Fernandes é a única entre as três deputadas luso-guineenses eleitas em 2019 que se mantém no Parlamento. Joacine Katar Moreira e Beatriz Gomes Dias não foram reeleitas.
Pela primeira vez na História da Democracia portuguesa, o Parlamento terá um imigrante, líder de um partido da extrema direita, que vai estar em contraciclo com a única voz da imigração que se manterá no hemiciclo para ecoar os anseios da comunidade imigrante em Portugal: a luso-guineense Romualda Fernandes.
O partido da extrema-direita Chega elegeu o imigrante moçambicano Gabriel Mithá Ribeiro, que ocupa a vice-presidência desta organização política que se apresenta contrária à presença da comunidade migrante no território português e que no programa eleitoral foi perentório sobre o futuro do SEF: “A direita de direita travará o perigo socialista e dos aliados da extrema-esquerda que impuseram uma política de imigração extremista, descontrolada, que levou à extinção do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF)”.
Fim do SEF
Na proposta no campo da imigração, o PS entende que a reforma do SEF “garante uma separação orgânica clara entre as funções policiais e as funções administrativas de autorização e documentação de imigrantes, as quais devem ser asseguradas pelos serviços de registos e notariado e pelos serviços públicos setoriais; simplificando e encurtando os procedimentos de renovação dos títulos de residência em Portugal”.
Em novembro, o Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, promulgou o decreto do Parlamento que extingue o SEF, mas apresentou algumas reservas em relação ao documento aprovado pelos deputados que leva à extinção daquele órgão, pelo que remeteu a sua apreciação decisiva para posteriores decretos de execução do Governo.
Numa exposição entregue ao Parlamento, o PS decidiu adiar a extinção do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) por mais seis meses e apresentou duas razões para não dissolver o Serviço até o passado dia 11 de janeiro de 2022, data que entraria em vigor a nova Agência Portuguesa para as Migrações e Asilo (APMA).
Na altura, as deputadas socialistas Ana Catarina Mendes e Constança Urbano de Sousa apresentaram como primeiro motivo da proposta do adiamento da extinção do SEF a importância deste órgão “reforçar o controlo de fronteiras” devido à pandemia de Covid-19 e, segundo, a necessidade de se garantir que “não ocorrem alterações institucionais” ao controlo fronteiriço no atual contexto pandémico.
No projeto de Lei n.º 1026/XIV que prorroga o prazo de entrada em vigor da Lei n.º 73/2021, de 12 de novembro, as duas deputadas da força política que suporta o governo consideram que face à “evolução da situação epidemiológica em Portugal, nas últimas semanas, relativa à pandemia da doença COVID-19, prevê-se a necessidade de reforçar o controlo fronteiriço, designadamente no que concerne à verificação do cumprimento das regras relativas à testagem”.
No domingo, o Partido Socialista venceu com quase 42 por cento dos votos (elegendo 117 dos 230 deputados) num escrutínio em que o Chega se posicionou em terceiro lugar, mas com a indicação de ter apenas uma caraterística no hemiciclo: ser uma eterna voz de protesto.
Com o resultado alcançado pelo PS, o Chega não conseguirá fazer passar nenhuma das suas propostas legislativas, sobretudo, anti imigratórias. O líder do PS, António Costa, traçou a linha vermelha ao afirmar no discurso de vitória que não terá qualquer necessidade de diálogo com a força política liderada por André Ventura, a quem o acusa de ser um partido anti democrático.
Reposicionamento da voz da imigração na AR
O partido anti imigração terá pela primeira vez um grupo parlamentar que integrará o imigrante Gabriel Mithá Ribeiro, historiador moçambicano de ascendência indiana, síria e africana, reside há mais de quatro décadas em Portugal, onde se naturalizou português.
Nas recentes eleições autárquicas, Gabriel Mithá Ribeiro foi candidato à presidência da Câmara Municipal de Alcochete pelo partido que já protagonizou várias manifestação para contestar a existência do racismo em Portugal.
Mas o autor do livro “Colonialismo nunca Existiu” averbou uma derrota ao se posicionar na última posição entre os cinco candidatos à presidência da Câmara Municipal de Alcochete.
Com a saída de Joacine Katar Moreira (eleita em 2019 pelo LIVRE, partido que a retirou confiança política, permanecendo como deputada não inscrita) e a não reeleição este domingo da deputada bloquista Beatriz Gomes Dias, o próximo Parlamento terá apenas estes dois rostos da imigração.
O luso-moçambicano Gabriel Mithá Ribeiro poderá assumir um lugar de destaque na bancada parlamentar enquanto vice-presidente do Chega eleito por Leiria.
A deputada luso-guineense Romualda Fernandes manteve-se na 19ª posição, a mesma posição da de 2019, depois de uma primeira lista do PS a que o jornal É@GORA teve acesso ter-lhe colocado na 26ª posição como candidata às legislativas de domingo onde os socialistas conquistaram 21 lugares no círculo eleitoral de Lisboa.
Na lista de candidatos a deputados do Bloco de Esquerda, Beatriz Gomes Dias posicionou-se na quarta posição descendo um lugar comparativamente à anterior posição e, neste domingo, falhou o regresso ao Parlamento.
Os bloquistas perderam a terceira posição para o Chega elegendo apenas dois deputados para Lisboa numa lista encabeçada pela deputada Mariana Mortágua.
O Bloco de Esquerda passa agora a ser a quinta força política com assento parlamentar, com cinco deputados, depois de ter conquistado 19 parlamentares na última legislatura.
A bióloga portuguesa nascida na capital senegalesa, Dakar, Beatriz Gomes Dias é atualmente vereador na Câmara Municipal de Lisboa onde permanecerá. (MM)
Como e que uma criatura filho de português e imigrante isso e que um dia alguém me vai explicar . O racismo sempre pode contar com os colaboracionistas de serviço , esse e um deles