Podemos, sem dúvidas, considerar a escrita como uma das maiores invenções do homem, desde que está na terra. Das tabuletas de Argila, Óstraco, Papiro, Pergaminho às máquinas de escrever, muito caminho se fez. Houve “ziguezague” nessa trajectória, pois, a escrita já se mostra como sendo uma das tecnologias mais sofisticadas até aqui inventadas pelo homem. Surgiu o cinema que veio reavivá-la com a necessidade de legendar, os telemóveis por via do SMS vieram a revigorá-la, o nascimento da informática veio robustecer ainda mais a escrita, só para citar estes acontecimentos.
Diferente do código oral, a escrita exige uma aprendizagem especial, ou seja, quem quiser se apropriar do código escrito, tem de passar por alfabetização para dominar os símbolos convencionais que encerram a escrita. É, geralmente, formal, mais cuidada, obedece ao uso de sinais convencionais- a pontuação, acentuação e coloca o escrevente diante de uma arquitectura de dificuldade que lhe permite pensar para elaborar o que pretende transmitir.
No quotidiano, deparamo-nos com alunos, estudantes e até professores com brutais dificuldades na escrita. Não conseguem verter suas ideias no papel, quando é necessário pela via escrita. Não usam adequadamente a pontuação e acentuação para transmitir as suas ideias, numa só palavra, falta competência escrita em muitos angolanos, muitos dos quais com formação superior que envergam casacos e gravatas à espera de uma oportunidade para serem chamados de senhores engenheiros ou doutores.
Diante dessa constatação, empírico-observacional, uma coisa é certa, a escrita é mesmo um verdadeiro Calcanhar de Aquiles nas escolas angolanas. Urge repensar e refundar a didáctica da escrita nas nossas escolas. Não se aprende a escrever em uma única classe, nível ou ciclo escolar. Aprende-se a escrever ao longo de toda a vida. Os ciclos escolares são apenas as diferentes etapas curriculares por onde o aprendente se vai adequando às circunstâncias de alfabetização.
Com o nosso posicionamento, queremos tão-somente chamar atenção que a estratégia de passa-culpas (os professores das universidades culpabilizam os de II ciclo, os do II ciclo culpabilizam os do I ciclo e os do I ciclo passam a culpa aos do Ensino Primário) que se vem verificando, quando se diagnostica ou se detecta alguma falha no sistema de ensino-aprendizagem, no que respeita à aquisição e ao desenvolvimento de uma determinada habilidade, em nada ajuda a resolver os problemas da escrita que amofinam a escola angolana.
Todos os actores/intervenientes, desenhadores e gestores da política educativa são chamados a reflectir sobre o porquê da falta gritante da competência escrita nos alunos hoje, estudantes amanhã, doutores, professores, engenheiros e médicos amanhã. Perguntas como estas perecem-nos pertinentes:
a) Aplica-se a didáctica da escrita ou para escrita nas escolas angolanas?
b) Em que classe se ensina a escrita e quem tem o perfil adequado para ensinar a escrita aos alunos?
c) O ciclo de alfabetização, em que se começa a ensinar a escrita, concretamente o ciclo primário tem professores que preenchem os requisitos necessários para didactizar a escrita?
d) Há nas escolas angolanas, nos seus diversos subsistemas/ciclos, instrumentos apropriados para avaliar a habilidade de escrita dos alunos?
e) Ensina-se a escrita nas escolas para depois se aprender ou é um acto fortuito que se circunscreve a um exercício simplista de aquisição?
Poder-se-ia apresentar uma infindável lista de perguntas a respeito da falta da competência escrita em muitos angolanos: mas trazemos estas para uma reflexão que se quer profunda, séria, sólida e comovente.
Ressalte-se que a falta de competência escrita é um problema e desafio que devem ser encarados com muita seriedade, pois, ler, escrever e calcular são destrezas básicas, partes integrantes de objectivos fundamentais no processo de ensino-aprendizagem. Devem adquirir-se no ensino primário e, por conseguinte, se vão desenvolvendo nos ciclos posteriores. (X)