A história de uma ordem rejeitada pelos doentes angolanos em Portugal

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Manuel Matola

Pelo menos 17% dos 286 angolanos em tratamento clínico em Portugal ao abrigo da Junta Médica já regressaram a Angola, dos quais 16 partiram esta segunda-feira num voo humanitário da companhia aérea TAAG que transportou 230 passageiros. Mas os que ainda estão no território português lutam para não regressar, porque voltar é morrer.

Este é o segundo voo fretado pelas autoridades angolanas de Lisboa com destino a Luanda. O primeiro partiu na semana passada, tendo na altura transportado 229 passageiros, entre os quais nove imgrantes da Junta Médica que tinham terminado os seu tratamentos clínicos em Portugal.

Fonte da embaixada de Angola em Lisboa assegura ao jornal É@GORA que, “desde novembro, altura em que esteve aqui uma comissão do Ministério da Saúde (de Angola), já foram 22 doentes e 12 acompanhantes que se encontram em Luanda enquadrados nos serviços sanitários nacionais”. A esse grupo junta-se agora os 16 imigrantes angolanos que segunda-feira abandonaram Portugal, onde tem decorrido manifestações dos restantes doentes e dos seus familiares.

No fim de semana, um grupo de angolanos, incluindo parte dos doentes, voltou a realizar uma manifestação pacífica defronte da embaixada de Angola em Lisboa para denunciar que quando os doentes “chegarem ao território angolano irão assinar uma sentença de morte”, porque o país “não tem condições” para os assistir.

Nesta segunda-feira, os doentes, alguns deles com acompanhantes, começaram cedo a fazer o check-in no Aeroporto de Lisboa, com várias malas e outros pertences embalados, alguns dos quais após uma estadia de anos em Portugal, para onde vieram fazer tratamentos de que o sistema de saúde angolano não dispunha, segundo a testemunhou a Lusa.

Com estes doentes viajam também representantes do sistema de saúde angolano e ainda outros cidadãos que aproveitaram este voo humanitário para regressar, após ficarem retidos em Portugal devido às medidas adotadas pelo executivo português para combater a covid-19.

Recentemente, o secretário-geral da Associação de Apoio aos Doentes Angolanos em Portugal (ADAP), Vitorino Leonardo, que vive há 12 anos, dos quais quatro com um rim transplantado e agora a aguardar por um transplante de rim, considerou que não existem condições para o regresso a Angola.

“Se os doentes voltarem para Angola, eles estão a ir para a morte”, disse Vitorino Leonardo, lembrando quais os cuidados que os doentes mais necessitam: “são os oncológicos, os transplantados e os hemodialisados”.

Mesmo perante a recusa de alguns em regressar ao país, as autoridades angolanas asseguram, contudo, ter iniciado o regresso dos pacientes com alta e consequente desativação do setor.

A ministra angolana de Estado para a Área Social, Carolina Cerqueira, afirmou que a “maior parte dos doentes” já foi cadastrado, regularizado os subsídios em atraso numa ação conjunta com o setor da Junta em Portugal em colaboração com a embaixada em Lisboa.

“Existe a necessidade urgente, sublinho, urgente de refundação e redefinição do papel da junta de saúde de garantir a assistência no país de doentes em hemodiálises ou transplantados, oncológicos, ortopédicos, hematológicos e oftamológicos que correspondem a 91% das evacuações através da potencialização e melhoria das condições de atendimento e tratamentos nas unidades sanitárias a nível do país”, disse Carolina Cerqueira.

Defronte da embaixada de Angola em Lisboa, ainda houve um ecoar de vozes no protesto organizado pela Associação A Voz de Angola na Europa contra uma decisão que significa “sentença de morte”. (MM e Lusa)

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