(Consultora de Imagem)
A imagem da mulher sempre foi ambígua. Aquele ser superior que dá a vida e é o pilar de uma família, mas também aquele ser inferior onde suas capacidades não vão além de cuidar de um lar.
A mulher sempre foi sujeita ao controle e julgamentos masculinos (muitas vezes condenada) devido ao seu comportamento. Na idade média quantas não forma apedrejadas e queimadas pela acusação de bruxaria?
Em culturas africanas e orientais as mulheres foram impedidas de estudar, porque para elas não era necessário uma vez que apenas deviam cuidar do lar, mas o principal objetivo era impedir o seu desenvolvimento intelectual. Uma mulher instruída é menos “domável”, é mais submissa.
A minha mãe, é a primeira rapariga depois de dois filhos rapazes, foi impedida de estudar para ajudar nas lidas da casa e cuidar dos irmãos mais novos. Ainda nos dias de hoje lamenta-se dizendo que o seu pai não a deixou estudar para não aprender a escrever cartas para os namorados, que uma mulher na escola era para aprender a ser atrevida.
O receio de uma mulher ter acesso à educação é a perda de controlo sobre ela, isto ainda acontece em muitas comunidades.
A mulher que não cumpre determinados requisitos é julgada até mesmo por outras mulheres. Mas isso fruto da construção que o homem fez da imagem da mulher para ter controlo sobre ela com alegação de ser “digna” de se casar.
Recordo-me de ver uma novela “Gabriela” onde a protagonista com o mesmo nome tinha um espírito livre e diziam-na que não era uma mulher de sociedade. Para poder integrar-se aceitou casar-se e logo quando percebeu que tinha também de se vestir de determinada forma, rejeitou ser “a tal mulher da sociedade”. Nessa mesma novela tinha uma casa noturna onde mulheres “não sérias” recebiam homens de prestígio para se divertirem, mas as mulheres sérias não podiam passar nem na porta, nem reclamar com os seus maridos por frequentarem esse espaço.
Mulher direita e seria é aquela que segue as normas ditadas pelos homens, é discreta em sua aparência e no seu comportamento, não fala muito e deve sofrer calada. Por incrível que pareça ainda hoje é assim, em pleno Século XXI. Temos como exemplo a polémica que a nova música da Soraia Ramos causou há poucas semanas atrás, que fala sobre o fim do seu relacionamento e a letra da música direcionada ao seu ex-marido mas quase todos os homens se sentiram tocados e muitos manifestaram seu descontentamento por ela ter trazido a questão a público. A polémica ficou abafada devido às notícias da invasão russa na Ucrânia.
Além do comportamento, a imagem da mulher sempre foi baseada na sua aparecia, seu corpo…sua beleza.
Ela deve ser bela e fisicamente perfeita,”…impecável. Independentemente do papel que desempenha.
Durante o confinamento vi muitas publicações (memes) de homens que gozavam com mulheres por estarem desleixadas em casa. Sabendo nós a sobrecarga de tarefas para gerir a casa, os filhos e seus horários de estudo online e ainda trabalhar remotamente.
Ainda dentro da ditadura da beleza as mulheres que se encontram em cargos políticos, quando os jornalistas publicam alguma notícia fazem sempre referência ao seu vestido, seus sapatos ou suas pernas. Há dias um amigo meu partilhou nas redes sociais uma notícia sobre mulheres ucranianas heroínas que estão alistadas na guerra. Elas aparecem todas loiras, bonitas, aprumadas e maquilhadas como se de um “fetiche” se tratasse.
Muitos caminhos já foram percorridos, muita conquistas alcançadas devido a mulheres que saíram à rua, levantaram suas vozes, bateram o pé e infringiram “leis” para que dias como hoje pudessem sem celebrados. Mas há ainda muito trabalho a ser feito, porque além de ainda estamos vinculadas a uma imagem voltada para um corpo belo e comportamentos adequados, muitas outras mulheres ainda não conseguiram o básico: acesso à educação.
Só seremos livres quando todas forem livres! (X)