A “limpeza étnica” dos imigrantes das listas de candidatos a deputados às legislativas-2022

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FOTO: Getty Image ©

Manuel Matola

O luso-angolano Nuno Carvalho encabeça a lista do PSD em Setúbal às legislativas de 30 de janeiro, mas em quase todas as forças políticas da Esquerda à Direita ideológica houve praticamente uma “limpeza étnica” dos rostos da imigração sobretudo femininos em posição elegível a candidatos a deputados à Assembleia da República.

Com a saída de Joacine Katar Moreira do hemiciclo no qual chegou como a primeira mulher cabeça de lista na História da democracia portuguesa em legislativas, as duas outras deputadas luso-guineenses, Beatriz Dias Gomes e Romualda Fernandes, não só não assumem esta posição como também uma delas desce do anterior lugar de fácil elegibilidade ao próximo Parlamento mesmo permanecendo nas listas dos seus partidos.

O jornal É@GORA consultou os nomes de candidatos submetidos ao Tribunal Constitucional até a passada segunda-feira – data limite de entrega – pelos partidos atualmente com assento parlamentar e notou que as figuras da imigração estão praticamente ausentes entre os nomes propostos para candidatos a deputados quer do Partido Socialista, dos sociais democratas, bem como do Bloco de Esquerda, Iniciativa Liberal, PCP, Os Verdes e o Chega, este último partido da extrema-direita e anti-imigração cujas sondagens apontam, entretanto, para um crescimento galopante podendo eleger eventualmente até 25 deputados nas legislativas do próximo mês.

Entre os partidos que propuseram algum nome que realmente seja conhecedor dos desafios da população migrante em Portugal – por ativismo – há um denominador comum: todos indicaram um e único candidato a deputado às eleições de janeiro.

Nuno Carvalho é um jovem luso-angolano que aos 14 anos de idade começou a sua militância na Juventude Social Democrata (JSD) e, hoje, aos 39 anos, surge pela segunda vez, em legislativas, como cabeça de lista ao círculo eleitoral de Setúbal, no âmbito do processo de renovação e rejuvenescimento encetado pela principal força política da oposição em Portugal, liderada por Rui Rio: o Partido Social Democrata (PSD).

Nas legislativas de 2019, a deputada e ativista luso-guineense Joacine Katar Moreira foi a única mulher cabeça de lista eleita pelo LIVRE, na capital portuguesa, onde três meses depois de tomar posse apresentou a sua demissão por divergências com o núcleo duro do partido de Rui Tavares que lhe retirou a confiança política.

Hoje, o jovem social democrata é o único candidato com ligação à imigração que lidera uma lista partidárias às legislativas de 2022.

A deputada socialista Romualda Fernandes mantém-se na 19ª posição, em 2019, depois de uma primeira lista a que o jornal É@GORA colocar-lhe na 26ª posição na lista socialista às eleições de 30 janeiro, enquanto a bloquista Beatriz Gomes Dias desceu um lugar comparativamente à eleição anterior, posicionando-se agora na quarta posição numa lista encabeçada em Lisboa pela deputada Mariana Mortágua do Bloco de Esquerda, cujas sondagens apontam para uma queda do terceiro lugar a ser ocupado eventualmente pelo partido Chega, liderado por André Ventura.

Numa entrevista recente ao jornal É@GORA, a socióloga e jornalista angolana Luzia Moniz mostrou-se “apreensiva” com a futura representatividade negra na composição da Assembleia da República prevendo um resultado favorável a uma extrema-direita “galopante” nas eleições legislativas de 30 de janeiro de que resultará um Parlamento da ´era pós-Joacine` que, disse, poderá primar pela marginalização de temas da imigração.

Os habituais partidos de Esquerda quebraram assim uma regra que se pretendeu introduzir em crescendo há dois anos quando, primeiro, pelas mãos do partido LIVRE, que elegeu Joacine Katar Moreira, apareceu a primeira cabeça de lista no centro de Lisboa com uma agenda claramente pró-imigração.

Agora o LIVRE anunciou a sua intenção de concorrer às próximas eleições com o líder desta formação política Rui Tavares, que reaparece como candidato por Lisboa, a assegurar lutar no Parlamento também pelos problemas das minorias, incluindo os imigrantes mas, de acordo com algumas sondagens, o partido desaparece do radar das intenções de votos na ‘era pós-Joacine’.

Entre os candidatos de partidos do PCP, Os Verdes, CDS, Iniciativa Liberal e o Chega, cujas estratégias eleitorais sempre estiveram fora do radar dos eleitores da imigração, assiste-se ao respeito da velha tradição da ausência integral dos protagonistas das lutas pró-imigração nas presentes listas.

Apesar de as listas destes partidos não integrarem imigrantes, os próximos passos eleitorais passarão por ecoar a habitual narrativa de inclusão pela voz dos desconhecidos candidatos a deputados aos problemas reais de um grupo social que é agora alvo de uma “limpeza étnica”, um termo cunhado por Rui Rio aquando da escolha dos seus candidatos às legislativas de 2022. (MM)

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