(Consultora de Imagem)
Mas esta edição da British Vogue gerou muita polémica junto dos leitores, principalmente do continente africano, uma vez que as modelos apresentam as suas peles extremamente escurecidas e os seus cabelos não são naturais, muito pelo contrário.
Segundo a cabeleireira responsável Virginie Moreira, de descendência Cabo-verdiana e Guineense, os penteados foram inspirados nos seus ídolos de infância/juventude como por exemplo Diana Ross in The Supremes, anos 60. A Maquilhadora, Ammy Drammeh, de origem Gambiana, que diz que queria afastar o cliché de uma imagem tribal africana e se inspirou numa fotografia de Grace Jones.
Verdade é que a primeira impressão geral dos leitores, na diáspora, foi de contentamento por ver mulheres negras como capa de uma revista, algo que sabemos que é pouco comum, apesar de bem mais frequente do que era antigamente. Eu mesma fiquei radiante quando vi as primeiras fotografias publicadas, mas ao mesmo tempo intrigada com o facto de o tom das peles estarem muito alteradas.
Em conversa com um amigo, que vive na Tanzânia neste momento (pois alguns países africanos que manifestaram contra) ele diz-me que foi apenas uma estratégia de venda. Apenas para atrair consumidores da comunidade negra e não propriamente para exaltar ou reconhecer a beleza da mulher negra. A ex-editora-chefe, Alexandra Shulman, já tinha referido que mulheres negras desconhecidas nas capas de revista vendem menos.
Esse meu amigo ainda salientou que os penteados usados nas modelos remetem para a Era Vitoriana, época em que mulheres brancas tinham mulheres negras como escravas em suas casas.
É certo que a escolha das pessoas para ser capa de uma revista é com base na imagem que mais pode vender e é também positivo que hoje a mulher negra possa igualmente vender.
Mas esta capa não só as escureceu e as colocou perucas com penteados de mulheres brancas, como também as vestiu de forma uniforme, em tons escuros, pouca luminosidade que quase impede de as distinguir.
Será que todos os envolventes nesse ensaio fotográfico não tinham conhecimento da mensagem que iriam passar? Ou vamos acreditar que se basearam nos ídolos da cabeleireira e na referência da maquilhadora, onde Grace Jones aparece de facto com uma pele bem escura, mas o cabelo é natural?
Quer-se celebrar a “ascensão” da beleza da mulher negra mas não pode ser tribal, mas ao meso tempo deve ser extremamente escura. Será que “usaram” estas modelos para experimentos, realizações individuais e fetiches?
“Gosto de ver a representatividade mas ainda espero pelo espaço e tempo onde a mulher negra pode existir
na própria pele, corpo e cabelo. Como realmente é, sem ajuste!”
Comentário de um leitor
Foram vários os comentários e diferentes opiniões – contentes sim por ver mulheres negras na capa mas o porquê de serem moldadas – desde o fetiche por peles escuras, pois as marcas ainda defendem que a pele escura é a verdadeira essência da beleza negra; a uniformização dos tons de pele e da roupa que limita a expressão da sua individualidade. Será necessário escurecer peles para enfatizar a beleza negra? Uma capa feia pelo olho branco.
O atual editor-chefe, Edward Enninful, de origem galesa, não se pronunciou além do enfatizar as modelos africanas que se apresentam cada vez mais em maiores números nas passerelles e representantes das grandes marcas no mundo da moda e da beleza.
Na minha opinião e concordando com o meu amigo, sabemos que um movimento deste ainda gera “barulho” e ainda mais com todos os incrementos. E o barulho…vende! (X)