O Congresso de 1958 instou que fosse criada uma data que celebrasse o dia Africano da Liberdade, o qual simbolizaria a determinação dos povos africanos, com vista a se libertarem do domínio verdugo e de exploração dos estrangeiros. Percebe-se facilmente que a OUA fora criada para incentivar a contínua e total descolonização dos países africanos.
Volvidos cinquenta e nove anos desde a criação da Unidade Africana a 25 de Maio de 1963, em Addis Abeba, Etiópia, tendo sido substituída pela União Africana, um dos objectivos principais que levou a sua criação foi alcançado, que é, a descolonização total de África (República do Sara é um caso à parte).
Apesar da descolonização total do continente africano, o sexto objectivo que é o de: coordenar e harmonizar as políticas dos Estados membros nas esferas política, diplomática, económica, educacional, cultural, da saúde, bem-estar, ciência, técnica e de defesa, está efectivamente em vinhas d´alho faz tempo; por que vejamos:
– Ao nível da coordenação e harmonização de políticas dos Estados Africanos, o continente continua a não adoptar políticas que o tornem autónomo ou verdadeiramente independente das antigas potências colonizadoras, a voz, entenda-se, a decisão dos países africanos em relação a certas matérias de cariz político-diplomático não é respeitada, é descartável, os seus dirigentes continuam reféns em todos os aspectos aos países colonizadores, tudo por falta de união e sobretudo organização que faça frente aos gurus colonialistas, que o digam os líbios que viram seu presidente, Coronel Muammar Muhammad Abu Minyar Al-Gaddafi, simplesmente- Kadaffi, a ser assassinado e assistem sofrivelmente o país a ser saqueado e destruído, sob olhar impávido e sereno dos países africanos, que não sabemos se estão a pôr de molho as suas barbas; por isso mesmo, a harmonização política e diplomática é um verdadeiro fracasso.
– Em termos de desenvolvimento económico, a África continua na cauda, os níveis de crescimento económico que ano após ano alguns países experimentam só ficam mesmo nos papéis, infelizmente não se repercutem na vida real das populações. O relatório humano de desenvolvimento de 2003 das Nações Unidas dava conta de que 25 das 54 nações africanas foram classificadas como tendo o mais baixo nível de vida entre as nações do mundo inteiro, contribui para essa desgraça a corrupção que é quase uma gangrena dos dirigentes africanos, por que à África recursos minerais não falta.
A educação, a cultura, a ciência e a tecnologia podem estar no mesmo nicho nesta nossa reflexão, por não se dissociarem e os outros resultarem basicamente de uma educação de qualidade, coisa que África está longe de proporcionar aos seus filhos, com alguma excepção de países como Marrocos, Egipto, Líbia de Kadaffi, Tunísia, Argélia e África do Sul.
Os países africanos continuam a não colocar a educação no centro de atenções para capitalizarem o seu crescimento e desenvolvimento sustentáveis, engane-se quem pensa que o desenvolvimento do continente africano dependerá da boa sorte, nenhum desenvolvimento sustentável é fortuito.
Dizíamos que sem educação não há ciência, não há tecnologia, não há cultura, lato senso, não há bem-estar também. Por incrível que pareça, a elite africana não educa os seus filhos nos seus países (em África), quem tem possibilidades financeiras leva os seus filhos para estudarem na Europa e Estados Unidos, onde se sabe que a educação é, deveras, de qualidade até que sobra.
– Os poucos africanos que saem instruídos com alguma qualidade dentro do continente africano, nos países sem histórico de qualidade em Educação, o fazem por prodígio, talvez. Diga-se, em abono da verdade, prodígio mesmo, naqueles casos em que a sorte acompanha os audazes.
Em África a saúde é remendada, emendada, remediada, à semelhança da educação a saúde em África está muito doente, é um bem ao alcance de poucos, tudo que é endemia, pandemia, surto, aliás, tudo que se chame doença por aqui grassa e devasta o pobre africano, excepção da COVID-19 que foi justa com todos. Os serviços nacionais de saúde são dos mais frágeis e débeis do mundo, o que realmente contrasta com alguns dinheiros que são alocados para a sua melhoria (nalguns) países.
Mutatis mutandis, nos países onde há alguma qualidade na educação, também há alguma qualidade na saúde, razão por que, por vergonha, alguns líderes africanos com pouca vergonha preferem ir morrer à África do Sul, Marrocos, Tunísia, Argélia, Egipto, lembrem-se países africanos bem cotados em termos de educação com alguma qualidade e os líderes africanos sem vergonha preferem ir morrer à Europa ou Estados Unidos.
Então, com todos esses males apontados aqui, cuja principal bandeira é a corrupção que nasce da ganância dos africanos, da insensibilidade dos seus líderes, da falta de comiseração para com o próximo, o que nos preocupa é, sem aporias, saber como sair desse labirinto que os próprios estadistas africanos ajudam a construir. Vamos continuar por quanto tempo mais em vinhas d´alho?
No nosso ponto de vista, a fórmula já anda inventada, cabe aos africanos aplicá-la, respeitando a sua realidade ou contexto, a começar pela aposta séria (e não de inglês ver) na educação, saúde, ciência, tecnologia, todos outros factores que geram desenvolvimento vão resultar da boa governação que ainda é uma miragem, por isso, a África está mesmo em vinhas d´alho. Como sempre, a diáspora africana é chamada a ajudar a tirar o continente em vinhas d´alho.(X)