Consultora Nutricional
Até o momento o que já sabemos sobre a variante encontrada no Reino Unido?
O Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge estima que, desde o início de dezembro, tenham sido registados a circular em Portugal um acumulado de cerca de 30 mil casos da variante inicialmente encontrada no Reino Unido.
Especialistas explicam o comportamento da nova estirpe britânica – Quais são as suas características? Qual a sua prevalência no mundo e em Portugal? Afecta a eficácia das vacinas?
Vamos por partes. Primeiro:
Quais são as suas características?
Esta variante tem um número bastante grande de mutações comparado com o das outras variantes. Ao todo possui 23 mutações. Sendo que “Seis (6) delas são silenciosas e não causam nenhuma alteração nas proteínas e depois há dezessete (17) outras – já foram descritas noutras linhagens – que estão relacionadas com a forma como o vírus se comporta”, relata Sónia Gonçalves, cientista do Instituto Wellcome Sanger (no Reino Unido). As mutações que mais preocupam os cientistas são as oito encontradas na proteína da espícula que é responsável pela entrada do SARS-CoV-2 nas células humanas.
Relata ainda que tem havido imensos estudos à volta da variante, que têm demonstrado que é “mais transmissível”. É mais fácil espalhar-se e contagiar outras pessoas do que as variantes anteriores que estavam em circulação.
Apesar de alguns estudos preliminares concluírem que parece não causar mais severidade na doença, o facto de ser mais transmissível também irá aumentar as hospitalizações e consequentemente a mortalidade.
Cabe ressaltar que se faz necessário mais estudos e provas para compreender como o vírus se comporta.
Qual a sua prevalência no mundo e em Portugal?
Neste momento, já chegou a cerca de 60 países, incluindo Portugal. Prontamente, atingiu uma elevada prevalência em Londres e no Sudeste de Inglaterra, de acordo com os Centros de Controlo e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos.
O Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA), através do Núcleo de Bioinformática do seu Departamento de Doenças Infeciosas, estima que, desde o início de dezembro, tenham sido registados, a circular em Portugal, cerca de 30 mil casos com a variante recentemente identificada no Reino Unido (VUI-202012/01). Tendo em conta os dados da semana 02/2021 (11-17 janeiro), na qual foram confirmados laboratorialmente cerca de 10 mil casos diários, a prevalência estimada da nova variante foi de cerca de 13%.
Relativamente à variantes do “Brasil” não foram identificados nenhuns casos. A da “África do Sul” há até a data um caso em Portugal.
Afecta a eficácia das vacinas?
Neste instante, os estudos já divulgados sugerem que não, entretanto, a comunidade científica tem informado que é preciso continuar a avaliar o impacto da variante na eficácia das vacinas e se precisam de ser actualizadas.
Os impactos sobre a Segurança Alimentar e Nutricional
Cabe destacar que a Organização Mundial da Saúde (OMS) tem sublinhado que não há provas de que os alimentos ou a cadeia alimentar estejam a participar na transmissão do vírus.
Os impactos da COVID-19 sobre a segurança alimentar e nutricional são heterogêneos, pois resultam de elementos relacionados aos fatores de risco até agora identificados para o pior prognóstico clínico da infeção pelo coronavírus, tais como obesidade e outras doenças crónicas, e as diferentes formas de má nutrição que se agravam no contexto de emergência sanitária.
Quanto aos consumidores em geral, a pandemia agregou um novo contingente populacional que agora experimenta a sensação de insegurança alimentar, seja por receio de falta de alimentos ou pela preocupação com a segurança sanitária dos mesmos. São importantes as ações que garantam o abastecimento, ponto central do sistema alimentar, e de educação em saúde voltada às boas práticas de higiene, tanto no âmbito doméstico como no varejo de alimentos.
Em tempos de recolher obrigatório em muitos concelhos do país e numa altura em que passamos mais tempo em casa há que ter cuidado com a alimentação.
A Direcção-Geral da Saúde preparou um programa alimentar. As orientações foram elaboradas para os períodos prolongados de isolamento durante primeira vaga da pandemia. Contudo, estas dicas são válidas a qualquer altura, principalmente agora, para este momento de nova vaga e nova variante, até porque o objectivo do manual é a alimentação saudável e evitar sucessivas idas aos espaços comerciais.
O que muda na nossa alimentação nas diferentes fases da pandemia e diante da nova variante?
Tecnicamente as condutas nutricionais precisam ser mantidas, e não há mudanças, o que se faz necessário é reforçar a capacidade de se manter uma disciplina alimentar e conseguir manter-se saudável tanto fisicamente quanto mentalmente. Cá estamos no contexto das medidas de confinamento e distanciamento social novamente.
A lavagem das mãos, as medidas de etiqueta respiratória e de distanciamento social são as medidas mais importantes para prevenir a propagação da doença pelo novo coronavírus (COVID-19) e suas variantes.
Contudo, sabemos que um adequado estado nutricional e de hidratação contribuem, de um modo geral, para um sistema imunitário optimizado e para uma melhor recuperação dos indivíduos em situação de doença. Em contrapartida, é sabido que as medidas adotadas para a prevenção da propagação da COVID-19, nomeadamente o isolamento preventivo (profilático), poderão contribuir para alterações no comportamento de compra e de consumo de alimentos, que poderão ser eventuais obstáculos a uma alimentação saudável. Um menor consumo de alimentos frescos, poderá comprometer a ingestão adequada de frutas, hortícolas e outros produtos frescos. Sendo uma situação sem precedentes, não existe ainda evidências que nos permita conhecer o impacto das medidas de contenção social nos hábitos alimentares da população, porém alguns fatores associados a este período de confinamento podem levar-nos a equacionar um eventual impacto negativo.
Para mais, a presença dos sintomas de ansiedade, angústia e depressão, podem ser comuns neste contexto e a associação entre a ansiedade, a depressão e uma maior ingestão energética, bem como ao aumento do consumo de alimentos com elevado teor de gordura e hidratos de carbono sobretudo os simples (açúcar) e ainda podem ser acompanhados de uma ingestão deficiente de micronutrientes.
Ademais, durante este período de contenção social, ouvir ou ler continuamente sobre a pandemia pode aumentar os níveis de stress e medo. Consequentemente, o stress ativa mecanismos de recompensa nos indivíduos que os pode levar a um aumento da ingestão alimentar, principalmente pela procura de “alimentos de conforto” com elevado teor de açúcar e gordura, comportamento habitualmente designado por “food craving”. Embora existam alguns estudos que demonstrem uma relação entre o aumento do stress e um maior Índice de Massa Corporal (IMC), a evidência permanece ainda pouco consistente. Existem potenciais mecanismos que podem contribuir para a relação entre stress e o ganho de peso, incluindo a diminuição da atividade física, o aumento do comportamento sedentário, alterações hormonais relacionadas com o stress, alterações nos padrões alimentares, diminuição da duração do sono e o aumento do “food craving”.
Diante dos factores expostos acima, faz-se de grande relevância um “reforço” da promoção da alimentação saudável durante o período de confinamento e distanciamento social no contexto da COVID-19 e suas variantes.
Medidas de Promoção da Alimentação Saudável:
Fazer uma lista de compras organizada – a lista de compras é uma ferramenta essencial para assegurar a compra de todos os alimentos que necessita, permitindo evitar as idas frequentes ao supermercado;
Considerar a importância de incluir maioritariamente alimentos que fazem parte de um padrão “alimentar saudável”;
Optar por alimentos que tenham um prazo de validade mais longo;
Os alimentos com menor durabilidade podem ser adquiridos, contudo, devem estar presentes em menor quantidade e deverão ser os primeiros a consumir;
Preferir alimentos de elevado valor nutricional em detrimento de alimentos com elevada densidade energética (ou seja, reduzir o consumo de alimentos que fornecem muita energia, mas poucos nutrientes);
Assegurar a compra de produtos frescos, como frutas e hortícolas, preferindo aqueles que apresentam uma maior durabilidade e/ou produtos congelados para o caso dos hortícolas e mediante a capacidade de armazenamento;
Quando disponíveis, os serviços de entrega ao domicílio podem ser considerados como uma possibilidade.
Nas idas às compras devem ser asseguradas todas as precauções para minimizar o risco de infecção:
Evitar o manuseamento dos alimentos a não ser para colocar no carrinho de compras;
Cumprir as distâncias de segurança;
Evitar tocar nos olhos, nariz e boca com as mãos;
Higienização adequada das mãos antes e depois da ida às compras;
Adotar as medidas gerais de etiqueta respiratória (não usar as mãos ao tossir ou espirrar, usar um lenço de papel ou o antebraço).
Alimentos a ser concedido de preferência:
Cereais de Pequeno-Almoço – Boa durabilidade, elevada riqueza nutricional, não necessitam de ser armazenados no frigorífico;
Pão – Boa durabilidade, elevada riqueza nutricional;
Hortícolas – cenoura, cebola, courgette, abóbora, brócolos, couve-flor, feijão-verde e alho. Os hortícolas de folha verde e o tomate, também poderão fazer parte da lista de compras, mas em menor quantidade e deverão ser consumidos nos primeiros dias. Os produtos hortícolas congelados podem também ser uma boa opção;
Frutas – destacam-se as seguintes variedades: maçã, pera, laranja e tangerina. Outras variedades com menor durabilidade podem ser também adquiridas, mas em menor quantidade;
Ovos – Boa durabilidade, elevada riqueza nutricional, não necessitam de ser armazenados no frigorífico;
As conservas de pescado também podem ser utilizadas para algumas das refeições e o pescado e carne poderão ser adquiridos quer em congelado ou fresco, contudo o pescado e a carne frescos devem ser utilizados para os primeiros dois/três dias após a compra;
Se ao final do 3º dia não tiver utilizado toda a carne fresca adquirida, para aumentar a sua durabilidade, pode congelá-la ou então confecionar para consumir mais tarde. Os alimentos confecionados conservam-se bem e com qualidade por um período de 3 dias no frigorífico;
Atenção aos alimentos perecíveis, sendo. Não consuma nenhum alimento cuja aparência, cor, sabor ou odor tenham características diferentes do habitual;
Leguminosas (feijão, grão, ervilhas, lentilhas) – tanto as versões em conserva como as secas podem ser opções a considerar. As leguminosas têm proteínas de elevada qualidade;
Leite – Boa durabilidade;
Iogurtes – Avaliar capacidade de armazenamento no frigorífico;
Para famílias que apresentam crianças pequenas – não esquecer alguns alimentos exclusivos para os mais pequenos, como as papas de cereais infantis e os boiões de fruta;
Frutos Oleaginosos (nozes, amêndoas, avelãs) – Podem ser uma boa opção como snack, elevada densidade nutricional, fonte de fibra, ricos em vitaminas como a vitamina E e minerais, produtos com elevada durabilidade;
Beba água ao longo do dia e sem açúcar – Manter um bom estado de hidratação é essencial, beba por dia 1,5 a 1,9L de água (8 copos de água);
Faça uma alimentação completa, variada e equilibrada, seguindo os princípios da “Roda dos Alimentos”
Data da última revisão: 24 de janeiro de 2021
Fontes consultadas:
Website Oficial da DGS https://www.dgs.pt/
Website Oficial da Organização Mundial da Saúde (OMS): https://www.who.int/
Website Oficial: Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA)
http://www.insa.min-saude.pt/instituto-ricardo-jorge-confirma-aumento-esperado-da-prevalencia-da-variante-do-reino-unido-em-portugal/
https://www.publico.pt/2021/01/13/ciencia/noticia/importante-accao-rapida-conter-maximo-transmissao-nova-variante-1946032