Manuel Matola
O candidato luso-canadiano que lidera a coligação do PSD em Sintra, Ricardo Baptista Leite, defendeu hoje a integração de refugiados naquele Concelho, onde promete implementar um programa de Mentoria denominado “Manas e Manos” que visa identificar jovens estrangeiros provenientes de condições económicas desfavoráveis, os de situação de risco particularmente por condições socioeconómica ou por famílias desestruturadas. Em entrevista ao jornal É@GORA no último dia de campanha às eleições municipais que se realizam no domingo, o médico que tem dupla Cidadania Portuguesa-Canadiana (natural de Toronto, Canadá) falou sobre o seu projeto político assente no lema “Vamos Curar Sintra”, uma autarquia que é dirigida há oito anos pelo socialista Basílio Horta.
Qual é a sua grande prioridade?
A razão pela qual decidi candidatar-me tem a ver com duas razões fundamentais: primeira, o facto de ser médico e ter começado a minha carreira no Amadora Sintra, onde conheci muitos problemas de integração social, profundas desigualdades e muita pobreza que existe no Concelho (de Sintra) e que é preciso inverter. A segunda coisa foi ter sido vice-presidente da Câmara de Cascais, que é um Concelho exemplo se comparado com Sintra. Analisando a situação, eu andei meses na rua a ouvir as necessidades das pessoas que são muito claras. (Dizem): precisamos mais segurança. Vamos pôr mais câmaras de videovigilância e vamos reforçar os apoios às forças de segurança. Também vamos criar programas de integração social e Mentoria junto das pessoas com maiores situações de dificuldades, incluindo também nos bairros em que nós temos enorme diversidade étnicas e de nacionalidade. Temos de garantir esse apoio social. Por outo lado, a questão da saúde, um equalizador social fundamental e aí garantir médico de família para todos. Garantir que quem não tem dinheiro possa ter acesso aos medicamentos que precisa. Garantir que nós damos o apoio ao comércio local aos pequenos empresários que têm estado abandonados, sobretudo no contexto de pandemia e depois a limpeza urbana que é também outra forma de garantir mais bem-estar e o sentimento de segurança, e garantir melhor mobilidade (pois há) problemas de autocarros, falta de alternativas de transportes públicos. Há aqui muito trabalho pela frente. Por isso que estamos a apelar as pessoas para votarem na mudança pela nossa coligação Vamos Curar Sintra. Somos a única alternativa para substituir o poder de oito anos de governação de Basílio Horta que não vai fazer diferente nos próximos quatro anos.
Falou da questão a integração. De que forma Sintra está e deve estar preparada para a integração dos refugiados quer do Afeganistão ou de outros quadrantes?
Temos que garantir que nós reconstruímos Sintra a partir de cada rua, de cada bairro, garantindo que todos se sentem parte inclusivo do processo. Infelizmente aquilo que tem sido feito é que o processo de integração dos refugiados e de pessoas de outras nacionalidades tem sido ou ignorado ou abordado sempre no sentido em que apenas aumenta as tensões sociais. Dou um exemplo de um programa que temos no nosso programa eleitoral que se chama Manas e Manos, que é um programa de Mentoria em que vamos identificar um conjunto de jovens em situação de risco particularmente por condições socioeconómica ou por famílias desestruturadas, ou por virem de uma situação de serem refugiados ou de condições económicas desfavoráveis. Nós identificamos com psicólogos treinados para esse efeito em conjunto com pessoas na comunidade que já passaram por processos semelhantes e que possam fazer de mentores. Ou seja, acompanharem estes mais jovens para garantir no final do dia que estes que se sentem desamparados e sem esperança percebam que da parte do presidente de Câmara e do presidente de Junta há quem tenha fé neles, há quem acredite que eles podem atingir o potencial. Eu tenho dito: eu assumo uma luta radical pelas oportunidades de igualdade. Uma pessoa por nascer pobre, ou numa família desestruturada deve poder atingir o seu potencial de vida tal como qualquer outro. E isso é algo em que um presidente de Câmara, de uma Junta de Freguesia tem que ter como primeira missão.
Sintra tem sido apontado como o “pulmão do mundo” por causa do microclima. De que forma Sintra pode ser o espelho do mundo relativamente às questões de mudanças climáticas, olhando para o problema de desertificação em Portugal?
Ricardo Leite é médico. Estamos a viver uma situação pandémica, apesar de uma aparente melhoria. Qual é a sua prioridade olhando para o impacto que a pandemia da Covid-19 teve nas pessoas?
Felizmente as situações está a melhorar e nós temos que garantir que todo o Concelho se prepara para o chamado pós-pandemia, ou seja, começar a olhar o que vai ser a seguir e, nesse sentido, quando olhamos para os pequenos empresários, para o facto de ter aumentado o desemprego de quase 80% entre julho de 2019 e julho de 2021 – Sintra foi o segundo pior Concelho de toda a área metropolitana em Lisboa em termos de aumento de desemprego -. quando olhamos para as famílias que aumentaram brutalmente a procura de Bancos Alimentares, para alimentar os filhos, percebemos que a Câmara Municipal tem que dar uma resposta de emergência. E por isso um dos objetivos imediatos é criar um fundo de emergência para apoiar essa situação e depois garantir que temos um conjunto de estratégias económicas que falava há pouco para assegurar que depois desta alavancagem inicial, para sobrevivermos essa primeira fase, possamos todos crescer e quebrar os ciclos de pobreza que existem no Concelho de modo a termos um foco naquilo que é o crescimento económico para todos, não apenas para alguns, e garantir que isso se traduza no bem-estar para toda a população.
E a chamada “Bazuka Europeia” é o meio ideal?
Os instrumentos europeus são mais um instrumento. Infelizmente com o atual presidente da Câmara, apesar de ser da mesma cor do atual governo, não tem assegurado essas verbas para Sintra na mesma proporção que outros concelhos têm alcançado. Naturalmente que como presidente de Câmara, se eu for eleito, irei defender os interesses de Sintra junto das instâncias quer governamentais, quer a nível da União Europeia para garantir que nós consigamos ter os apoios necessários para fazer a transformação do Concelho que ainda para mais está muito mais atrasado do que Oeiras, Cascais, Mafra. Por isso, precisa de um investimento adicional para poder acompanhar e se Deus quiser por vias de nosso esforço ultrapassar esses concelhos.
Sintra tem quase 400 mil habitantes e não sequer uma Universidade. Qual é a sua visão relativamente a eventual implantação de uma Universidade?
Neste momento há duas academias que se instalaram no Concelho e isso é um passo que foi importante, mas claramente que a atração de indústrias do conhecimento para o Concelho de Sintra é fundamental. Não é apenas Universidade mas todo o ecossistema que possa ser gerador de trabalho qualificado. Hoje o principal empregador que existe no Concelho de Sintra é uma cadeia de supermercados. O segundo maior é a própria Câmara Municipal. Ou seja, nós estamos a falar de trabalho precário. Cada vez que há uma crise como a que houve na pandemia leva o disparar do desemprego. Nós, de facto, temos que mudar o nosso modelo de desenvolvimento, incluindo a atração deste tipo de academias para que através destas instituições do saber e de investigação se traduzam também em mais empreendedores, em mais empresas com emprego qualificado e com isso criarmos aqui um ciclo virtuoso de crescimento ao invés de um ciclo vicioso de pobreza que hoje temos. (MM)