A Plataforma de Reflexão Angola (PRA), uma associação independente de defesa da diáspora angolana em Portugal, exortou esta quarta-feira a Islândia a suspender “todas as relações comerciais com Angola em defesa dos direitos humanos”, até que seja esclarecido o caso “Fishrot Files” sobre corrupção nas pescas envolvendo Angola.
Numa carta endereçada ao embaixador da Islândia para Portugal, Kristján Andri Stefánsson, a Plataforma de Reflexão Angola justifica a exortação baseando-se nos documentos que a “WikiLeaks” publicou no passado dia 12 de novembro “demonstrando o envolvimento de um dos maiores gigantes mundiais no setor da pesca – a companhia islandesa Samherji – num esquema de corrupção e suborno com ligações aos governos da Namíbia e Angola e também ao banco Norueguês DNB, usado para a realização dos pagamentos ilícitos e lavagem de dinheiro”.
“Este caso é só mais um entre muitos, infelizmente. Mas o facto de acontecer num setor tão vital como a pesca e o corruptor ser uma empresa Islandesa, um dos países que simplesmente não tolera a corrupção, torna-o num exemplo paradigmático daquilo que vimos dizendo: que a situação em Angola é incontrolável, e que sem o apoio da comunidade internacional nunca mais conseguiremos libertar-nos do roubo sistemático dos nossos recursos naturais”, refere Manuel Dias dos Santos, porta-voz da PRA, em nota enviada ao Jornal É@GORA.
A organização representante de angolanos na diáspora, que disponibilizou ao Jornal É@GORA a carta enviada ao diplomata islandês, diz temer que em “Angola nada seja feito, ao contrário da Namíbia onde já há ministros acusados e contas bancárias congeladas”.
A associação que promove a cidadania ativa em prol da defesa dos direitos fundamentais de cidadãos angolanos que vivem em Portugal e no estrangeiro recorda a situação do ex-vice-Presidente angolano Manuel Vicente, acusado de corrupção e branqueamento de capitais em Portugal, mas “que vive tranquilamente em Angola sem que seja dado andamento ao seu processo há mais de um ano”.
“Em Angola nada mudou. As cadeiras são as mesmas, só são diferentes as pessoas que agora estão sentadas, incluindo o Presidente. A exploração dos recursos e do povo não parou, bem pelo contrário. E faz-se com a conivência de países que, como Portugal, parecem não se importar de ir lavando o dinheiro sujo que chega de Luanda”, referiu Manuel Dias dos Santos.
A associação exorta por isso o governo da Islândia a “clarificar se já contactou as autoridades angolanas e a intervir em favor do povo através da garantia de que as investigações em Angola resultarão no apuramento das responsabilidades e punição de todos aqueles que estiverem envolvidos no esquema”.
Na carta dirigida ao representante diplomática islandês em Portugal, a PRA apela para que “sejam suspensas todas as relações comerciais entre a Islândia e Angola enquanto o caso não for esclarecido, em defesa dos direitos humanos e do desenvolvimento sustentável”.
Os cidadãos angolanos residentes no estrangeiro, membros da Plataforma, exigem, por outro lado, que “seja devolvido o produto da exploração ilegal dos recursos pesqueiros pela Samherji através da criação de um fundo destinado a financiar iniciativas de desenvolvimento e de combate à corrupção em Angola”.
“É corrente dizer-se que África só produz Estados falhados, mas convém que as pessoas se comecem a perguntar em benefício de quem se perpetua a corrupção e a exploração dos recursos naturais em países como Angola”, assinala Manuel Dias dos Santos.
Para o porta-voz da PRA, neste caso de corrupção nas pescas, “há responsabilidades partilhadas” entre os envolvidos até porque, conclui: “toda a gente aqui sabe que o regime angolano é altamente corrupto, e ainda assim os nossos governantes são recebidos com palmas”. (MM)