Como conseguir ser imigrante num Reino Unido que se fecha ao mundo?

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FOTO: GettyImages ©️

Elisângela Delgado
(Economista e Mestre em Finanças Empresarias)
Os britânicos, descontentes com o funcionamento da Europa (UE), decidiram romper definitivamente com o acordo de parceria com os europeus estabelecida desde a sua criação. Os 52% da população que votaram a favor desse “divórcio” tinham como argumento um maior controlo da emigração e combate ao terrorismo.

Emigrar para o Reino Unido neste exato momento comporta dois problemas assinaláveis e imprevisíveis: primeiro, o do Brexit, e segundo, o da crise pandémica de Covid 19. Por isso, é uma decisão para os “amantes do risco”.

Eu vim no meio de todo este tumulto político e tempestade pandémica. Optei por embarcar nesta grande aventura como uma oportunidade única para dar um salto progressivo na minha carreira profissional.  A meu ver, após ser controlada a situação da pandemia, os profissionais das áreas financeiras irão certamente estar na linha da frente para ajudar na recuperação económica das empresas e dos países. Confesso que, inicialmente, tive alguns receios do “mundo desconhecido” que eu estava a trilhar. Porém, mesmo assim, continuava a acreditar no meu potencial, bem como no do país que agora escolhi para viver.

O Brexit tem impactos significativos e incalculáveis na vida de todos nós, sem exceção, principalmente nos imigrantes. A mobilidade do fator trabalho e das mercadorias está bastante restrita a todos os níveis.

Os europeus são considerados estrangeiros no território britânico, tal como os restantes países fora da União Europeia (UE), por esta razão é obrigatório que todos os emigrantes europeus residentes no Reino Unido efetuem o pedido do estatuto de residente temporário (Pre-settled) ou permanente (Settled) até junho de 2021, caso não o façam passam a estar ilegais no país, não podendo, em consequência disso, estudar ou trabalhar.

A legislação atual, para os que pensam realmente em emigrar para o Reino Unido, é bastante burocrática, salvo algumas exceções como, por exemplo, quem tenha um contrato de trabalho com uma empresa no Reino Unido, inscrição numa escola ou reagrupamento familiar.

As empresas de serviços financeiros sediadas no Reino Unido perderam o acesso ao mercado único da União Europeia (EU) desde o dia 01 de janeiro do corrente ano – logo quando o Brexit entrou em vigor. As empresas devem agora ter escritórios satélites em um dos países da União Europeia, se quiserem continuar a trabalhar com os clientes europeus, o que aumenta o custo e a complexidade dessas operações.

Desde o início do ano muitas empresas deslocaram a sua sede para outras cidades europeias, sobretudo para Amesterdão, tornado assim esta cidade como um novo centro financeiro da Europa.

As consequências finais do Brexit para o mercado financeiro londrino irão depender muito das decisões finais sobre o Acordo de Comércio e Cooperação da União Europeia (UE) com o Reino Unido, que está ainda em negociação. Na falta de um consenso sobre todos os tópicos mencionados no acordo de saída dessa parceria de forma a beneficiar ambas as partes, o documento não entrará em vigor. Caso isso aconteça, haverá grandes consequência em organizações, empresas e indivíduos que contam com os regulamentos europeus e as disposições acordadas ao abrigo do tratado da União Europeia (UE).

Apesar dos sérios constrangimentos do brexit, julgo que continua a valer a pena ser emigrante no Reino Unido, especialmente para os que já cá vivem. Também acredito que os ingleses irão sair desta crise económico-financeira, causada pela crise pandémica de Covid -19, mais rapidamente do que o resto da Europa.

O Reino Unido é um dos países mais influentes e poderosos do mundo. Dispõe da língua mais falada do mundo. O país figura no rating como a sétima maior economia do mundo. Londres continua a ser o principal centro financeiro global. A libra esterlina é uma moeda forte, superando as demais moedas. Tanto do ponto de vista da segurança-militar, desenvolvimento tecnológico, educação, inteligência artificial, desporto e nível de vida o Reino Unido ocupa lugares cimeiros. E mais, o Estado injeta liquidez na população para incentivar o consumo e para que as empresas não tenham perdas profundas neste período de crise (muitas famílias, a título exemplificativo, recebem um subsídio para evitar a pobreza extrema).

Estou otimista que o mercado de trabalho irá reabrir em alta, porque muitos profissionais saíram do país e muitos não conseguiram entrar desde o início do ano. Quando a oferta de mão de obra diminui ela tende a ficar mais valorizada.

Importa ainda salientar, em suma, que uma pessoa que trabalha no mercado financeiro britânico sai mais preparada para trabalhar, sem qualquer dúvida, em qualquer economia do mundo. (X)

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