Alexandra Silveira
Ministério do Turismo do Brasil confirma 1.708 retornos, mais de metade oriundo de Portugal, país onde os brasileiros são a maior comunidade estrangeira a residir no território português. Mas no aeroporto de Lisboa ficam outros tantos sem resposta.
Ao todo e até domingo serão 1.708 brasileiros a regressar à sua terra natal oriundos de Portugal, Marrocos e Perú em resposta ao estado de emergência derivado do Covid-19. Portugal lidera a lista com mais de metade – 883 – que regressam ao Brasil por três motivos, apurou o jornal É@GORA.
Primeiro, a situação irregular em que se encontram; segundo, a necessidade de apoio aos seus e terceiro as férias ou Erasmus interrompidos.
Na primeira situação, cabem todos os imigrantes sem a sua situação regulamentada ou sem um emprego formal que lhes permita ter acesso aos casos de apoio do Estado previstos agora perante o estado de calamidade.
Ellen, 34 anos, decidiu-se pelo regresso num ato de desespero. É esteticista e chegou a Lisboa no ano passado em busca de melhor segurança para as suas duas filhas.
“Saí do Brasil com uma mão à frente outra atrás, vim para Portugal porque é um país seguro e eu queria estar descansada com as minhas filhas. Cheguei e arranjei emprego num cabeleireiro. Por um valor mais barato, a dona permitiu que trabalhasse sem contrato nem recibos enquanto tratava da papelada”, diz ao jornal É@GORA.
Mas Ellen foi atraiçoada pelo imprevisto e agora que o cabeleireiro fechou ficam sem apoios estatais e sem meios para subsistir em terra estrangeira.
“Vou regressar para a casa dos meus pais onde tenho apoio e ao mesmo tempo tentar arranjar emprego no Rio porque as contas têm de ser pagas e duas filhas para criar”, lamenta.

Cabeleireiros, restaurantes, empresas de construção civil e limpezas de casas são opções para quem não tem documentos em dia e, infelizmente, são esses os primeiros a ceder em tempos de pandemia.
“Para as pessoas que ainda estão em processo de regularização, esperando que os títulos de residência sejam emitidos, ainda não sabemos como ficarão os apoios sociais no caso de perderem o trabalho ou terem que ficar em casa por conta dos filhos”, referiu a presidente da Casa do Brasil confrontada pelo jornal brasileiro, Tempo.
Mas com o fecho de fronteiras a situação precipitou-se e entre estar num país estrangeiro sem meios ou regressar para o país natal, a opção ficou clara para os muitos brasileiros que aguardam no aeroporto Humberto Delgado por voos.
Entretanto, questionado sobre os imigrantes não legalizados, fonte do SEF garante ao jornal É@GORA que “ninguém vai ficar por falta de apoio por via da incapacidade de serviço muito menos nesta altura”.
Há dois dias eram mais de cem os imigrantes com intenção de regressar, o número é muito oscilante, há quem vá desistindo pelo caminho mas há quem insista nos chamados voos de repatriamento.
Edson, 22 anos, está em Portugal naquilo que apelida de ‘semi-férias’, pois veio com uma missão.
“Comecei a tratar da minha vinda para cá para fazer um mestrado em Lisboa e, ao mesmo tempo, arranjar um ´part-time`. Foi uma decisão tomada com os meus pais. Agora estou na lista de espera para regressar, na esperança que façam um voo de repatriamento, porque não vejo outra alternativa”, relata.
Voos de repatriamento ou repatriação são medidas excecionais para situações excecionais. Neste momento, a resposta dos voos tem ficado aquém das necessidades dos muitos brasileiros que se mantém numa sala própria para os voos cancelados, dia após dia, desde que o surto de coronavírus se tornou uma calamidade e desde que o fecho de fronteiras foi anunciado.
A aproveitar-se de toda esta situação, os falsos bilhetes de viagem vendidos via Facebook numa tentativa de burla para a qual chamamos, desde já a atenção.
Para os que ficam há que reinventar soluções. Como aquela em que a plataforma Geni –rede de apoio criada com o objetivo de auxiliar as mulheres brasileiras em Portugal – partilha via rede social serviços variados que podem ser executados pelas suas aderentes de forma particular.
O Brasil lidera a lista de imigrantes em Portugal, com um total de 150.854, um número que aumentou 43% entre 2018 e 2019. (AS)