Manuel Matola
O Comitê dos cuidadores formais, que integra auxiliares de geriatria, sobretudo mulheres imigrantes em Portugal, vai realizar no próximo sábado, na cidade do Porto, uma megamanifestação contra as injustiças laborais, incluindo o assédio contra idosos e auxiliares de Saúde.
Em declarações ao jornal É@GORA, a auxiliar de geriatria Tânia Brunello, dinamizadora do “Movimento Força”, que está a trabalhar na implantação do Sindicato de cuidadores formais em Portugal, resumiu o propósito da manifestação que decorre no fim de semana, dia 11, entre às 16:00 e às 19:00.
“O nosso objetivo é chamar atenção da população e do governo português para a nossa causa”, justificou Tânia Brunello, referindo-se a eventuais atrocidades que têm sido cometidas no “mundo obscuro” das empresas prestadoras de serviços domiciliário que “dão golpes a funcionárias”, especialmente imigrantes recém chegados e que trabalham em situação irregular num setor onde muitas mulheres são alvo de maus tratos de utentes e dos próprios patrões que as “fintam” na hora de pagar os ordenados. Todos a recibos verde.
“A manifestação/desfile terá o seguinte trajeto: pontos turísticos do centro da cidade do Porto, com o objetivo de trazer alegria e conscientização da importância dos cuidados e direitos dos cuidadores e cuidados aos idosos em Portugal”, aponta a organização do evento que terá ações de teatro com bonecos gigantes a caricaturar as violações laborais.
A seguir ao protesto, estes profissionais pretendem intentar uma ação direta contra as empresas que prestam auxílio domiciliar e lares de idosos em Portugal.
“Pedimos investigação criminal em lares no Porto para averiguação de violência física, verbal, psicológica, assédio contra idosos e auxiliares de Saúde”, dizem os profissionais que igualmente querem ser indemnizados “por danos morais, psicológicos e físicos dos cuidadores formais, por excesso de trabalho, falta de pagamento, regularização dos contratos (falso recibo Verde)”, assentes “no Artigo 88 nos termos do art. 2º do Decreto-Lei n.º 406/74, de 29 de Agosto, alterado pela Lei Orgânica n.º 1/2011, de 30 de novembro”, dizem os requerentes.
Segundo o programa, a que o jornal É@GORA teve acesso, os manifestantes pretendem apelar à justiça face à “impunidade dos prestadores de serviço domiciliar que nos últimos anos vem tratando com desumanidade os cuidadores formais”, grupo profissional que Tânia Brunello garante ser vítima de violência física, verbal, psicológica, assédio, contratos sem valor, além de burlas relacionadas com falta de pagamentos de ordenados e sobrecarga de trabalho.
Em entrevista recente ao jornal É@GORA, Tânia Brunello contou que é, também, uma das várias vítimas destes “golpes aplicados pelas empresas intermediárias entre a família e o cuidador”, a quem estas omitem informações fundamentais para o exercício desta atividade, permitindo assim que os patrões, muito deles endinheirados, façam de tudo um pouco contra as funcionárias.
Há “mulheres que são contratadas para trabalhar e quando chegam ao local, os próprios utentes abusam-nas”, exemplifica Tânia Brunello, que nas redes sociais tem publicado ativamente vídeos de testemunhos de “muitas mulheres” que na primeira pessoa contam o que lhes aconteceu, depois de terem visto o primeiro vídeo-denúncia daquela escritora e cuidadora de idosos que ultimamente tem sido “vítima de perseguição e ameaças” de morte.
Recentemente, a brasileira Mércia Costa trabalhou como auxiliar de geriatria para a empresa Prioridade Serviços Seniores, detida pela empresária portuguesa Maria Júlia de Almeida, que deve ordenados a “várias pessoas”, incluindo “uma amiga [da Mércia] que foi para o Brasil” sem receber o valor os 1800 euros de valores em atraso.
Ao jornal É@GORA, a empresária portuguesa confirmou que “as contas da empresa estão a zero”, pelo que anunciou que a Prioridade Serviços Seniores iria decretar insolvência em setembro.
Embora tenha garantido que não havia “má fé” na sua atitude e que procuraria saldar a dívida, até hoje a cuidadora brasileira Mércia Costa ainda não recebeu o ordenado.
Em declarações recentes ao jornal É@GORA, Tânia Brunello também relatou o seu caso pessoal e apontou quem são o grupo-alvo preferencial destas empresas prestadoras de serviços domiciliário que os cuidadores formais pretendem processar judicialmente.
Muitas dessas mulheres são imigrantes “sem conhecimento da lei e que precisam de trabalhar para viver”, afirmou a pastora evangélica, assinalando que algumas falam de abuso sexual, assédio, são acusadas de roubo e espancamento” [dos utentes].
Questionada pelo jornal É@GORA sobre as denúncias destas mulheres que “chegam a quase 150”, Tânia Brunello explicou de forma precisa o que pretendia dizer com ‘abuso sexual’ neste setor.
“Violação sexual, exatamente. E eles ainda ameaçam que, se contarem, são expulsas porque não têm documentos”, que lhes permite trabalhar de forma legal em Portugal, afirmou apontando para casos reais de pelo menos duas dezenas de profissionais que cuidam de idosos em Portugal, algumas das quais, neste sábado, vão dar o seu testemunho no protesto na cidade do Porto. (MM)