Manuel Matola
A morte do músico angolano Waldemar Bastos, na madrugada desta segunda-feira em Lisboa, provocou uma reação de choque seio da diáspora lusófona em Portugal, que continua a enviar mensagens de pesar pela partida de “um dos mais notáveis representantes de projeção internacional” de Angola.
Desde políticos a organizadores de espetáculos que durante o dia souberam da notícia sobre o artista nascido na província de M’Banza Kongo, a inesperada morte do “´kota” foi comentada por muitas personalidades que lembram a grandeza do “embaixador” do “afro-luso-atlântica”, como o próprio Waldemar Bastos definia a sua sonoridade.
A jornalista Paula Cardoso, autora do Afrolink, projeto que junta profissionais africanos e afrodescendentes residentes em Portugal – ou com ligação ao país –, com o propósito de partilhar experiências, valorizar competências, criar alianças, divulgar e suportar negócios, lembrou que “antes de M’Banza Kongo ser reconhecida como Património Mundial da Humanidade, já Waldemar Bastos a colocava nos roteiros internacionais”.
E foi em nome da coletividade musical, que General D., um dos pioneiros do hip-hop em Portugal, endereçou uma mensagem de condolências ao “amigo e colega” Waldemar Bastos, a quem desejou um eterno descanso, num único parágrafo de dois períodos.
“Meu amigo e colega, caminhe em Paz Guerreiro 🙏🏿🙏🏿🙏🏿🙏🏿Vamos todos sentir a tua falta”, escreveu General D. na sua página pessoal do Facebook sobre a morte do músico cuja avó ordenou ao “menino para não fala” política”.
Até porque “não há ´Muxima` como a de Waldemar Bastos” é “tanta pena” que Angola a lusofonia tenha perdido um músico desta dimensão, lembra a deputada Joacine Katar Moreira.
O embaixador de Angola em Portugal, Carlos Alberto Fonseca, lembrou em nota que “as artes e a cultura angolanas estão de luto pelo desaparecimento de um dos seus mais notáveis representantes de projeção internacional, cujo legado permanecerá com destaque no acervo musical nacional” de Angola.
Segundo o gabinete de comunicação do Ministério da Cultura, Turismo e Ambiente de Angola, o músico, compositor e intérprete angolano, de 66 anos, morreu vítima de cancro em Lisboa onde estava em tratamentos oncológicos há um ano.
Músicos como Aline Frazão, Paulo Flores, C4Pedro e Anselmo Ralph, o ativista Luaty Beirão e o escritor Kalaf Epalanga usaram as redes sociais para recordar o ‘kota’ Waldemar Bastos, que morreu hoje aos 66 anos.
Aline Frazão, numa mensagem partilhada no Twitter, fala num “dia de luto para a música angolana”. “Ficam os seus discos, o seu legado musical imenso, a sua inesquecível voz…Obrigada, ‘kota’ Waldemar Bastos”, escreveu.
Luaty Beirão, que enquanto ‘rapper’ é Ikonoklasta, escreveu, numa mensagem dirigida a Waldemar Bastos: “Obrigado por partilhares um pouco da tua luz, apesar de tanto terem feito para apagá-la. Descansa em paz mô kota, em guerra está quem por cá permanece”.
Paulo Flores expressou, no Facebook, “gratidão pelo exemplo, pela musicalidade, pela espiritualidade e pelas palavras” de Waldemar Bastos. “Descansa em paz, obrigado por sempre”, escreveu.
A cantora Pérola, também no Facebook, defende que “o grande” Waldemar Bastos “jamais será esquecido”.
No Instagram, C4Pedro diz que “Angola tornou-se um país extremamente pobre” com a morte de Waldemar Bastos, cuja voz considera “uma das sete maravilhas do universo”.
“Obrigado por teres sido fiel a ti mesmo e parabéns pela verticalidade que te caracterizou durante esta rica trajetória”, escreveu o cantor, lembrando que o tema “Filho do Mato” é a prova da “eterna admiração” que sente por Waldemar Bastos.
Anselmo Ralph recordou “mais uma grande voz angolana que se cala”, mas cuja “grande arte fica, com uma voz e timbre muito peculiar e sentimental”.
“Tive a honra de orgulho de crescer a ouvir esta grande voz. Muito obrigado pelo seu contributo grande mestre”, escreveu o cantor.
Waldemar Bastos foi hoje recordado também, entre outros, pelo diretor do Festival Músicas do Mundo, que decorre anualmente em Sines, mas este ano não se realizou devido à pandemia da covid-19.
Carlos Seixas, no Facebook, fala na morte de “um músico maior”. “Na memória ficam canções intemporais, uma voz de dor e de esperança, uma discografia única no cancioneiro angolano e de língua portuguesa”, salientou.
O cantor, galardoado com o prémio de New Artist of the Year nos World Music Awards em 1999, foi distinguido há dois anos com o Prémio Nacional de Cultura e Artes, a mais importante distinção do Estado angolano nesta área.
Apresentando-se com uma sonoridade que o próprio definia como “afro-luso-atlântica”, Waldemar Bastos foi também o único não fadista a cantar na cerimónia de transladação, no Panteão Nacional, em Lisboa, do corpo de Amália Rodrigues, de quem era amigo. (MM e Lusa)