Um suposto advogado, que se fazia passar por especialista em “direito de imigração”, foi detido em França, indiciado de angariar imigrantes brasileiros em situação irregular no Reino Unido, aos quais prometia a legalização e nacionalidade portuguesa, por supostamente ter “influências” no SEF.
A detenção ocorreu na quinta-feira última, na sequência de um mandado europeu, mas o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) confirmou o caso em nota divulgada esta terça-feira, na qual assinala que o homem de nacionalidade estrangeira não revelada é o principal suspeito da prática de sete crimes de burla qualificada, de seis crimes de auxílio à imigração ilegal com intenção lucrativa e de cinco crimes de usurpação de funções, todo eles praticados entre 2017 e 2018.
“Fazendo-se passar por advogado, assegurava ter contatos privilegiados junto do SEF. Desta forma, celebrava pretensos contratos de prestação de serviços jurídicos e emitia pretensos documentos com validade jurídica, destinados a salvaguardar os interesses das suas vítimas, mediante a promessa de que era advogado ou jurista especializado em ´direito de imigração`”, refere o comunicado do SEF.
De acordo com a nota, o suposto especialista em “direito de imigração” celebrava os falsos contratos de mediação jurídica, “a troco de milhares de libras esterlinas e euros”, assegurando que promoveria a vinda dos imigrantes brasileiros para Portugal “sem que os mesmos tivessem qualquer enquadramento legal e sem encetar qualquer diligência com vista à sua legalização”.
Assim que os brasileiros chegavam a Portugal e “encontrando-se as vítimas já em situação de debilidade financeira”, o suposto advogado “contava com a colaboração de uma técnica de contas, já constituída arguida, que a mando dele praticava alguns atos formais junto das finanças e da segurança social”, conta o SEF.
“Já em Lisboa, o detido reunia-se esporadicamente as vítimas, às quais assegurava serem estas as últimas diligências para conclusão da prometida legalização e cobrando mais algumas centenas de euros”, indica a nota.
“Agora, o homem que se fazia passar por advogado será presente à autoridade judicial portuguesa para primeiro interrogatório e aplicação de medidas de coação”, garante a polícia migratória portuguesa.
Em junho, o SEF anunciou que um outro arguido que se identificava como advogado nas redes sociais como o Facebook e nas páginas conotadas e frequentadas pela comunidade brasileira na região de Lisboa foi acusado pelo Ministério Público de prática de 85 crimes de burla qualificada e de falsificação de documentos, num caso relacionado com a legalização de imigrantes, maioritariamente brasileiros, que “se encontravam em situação particularmente vulnerável” em Portugal.
Segundo o SEF, nesses meios digitais, o alegado advogado, que recebia pelos serviços quantias pecuniárias que variavam entre 150 e 350 euros, dava garantia aos seus interlocutores de que, “por via dos seus conhecimentos jurídicos e contactos dentro do SEF”, podia agilizar e tratar dos processos de residência em Portugal, “conseguindo, nomeadamente, efetuar marcações para atendimento de forma célere”.
Inicialmente, o negócio correu sem sobressaltos, “atendendo à dimensão do esquema e ao volume de cidadãos ludibriados”, ao ponto de, ao suposto advogado, se ter juntado um seu parceiro para trabalhar na empreitada, conta o SEF na nota a que o jornal É@GORA teve acesso na altura.
Entretanto, o esquema dos dois indivíduos foi mais tarde desmantelado pelas autoridades migratórias portuguesas e o Departamento de Investigação e Ação Penal de Lisboa acusou-os de prática de 85 crimes de burla qualificada e de falsificação de documentos.
Atualmente, os cidadãos oriundos do Brasil representam a maior comunidade estrangeira em Portugal e, segundo o Relatório Anual de Segurança Interna de 2018, correspondem a 75% dos quase quatro mil imigrantes que foram barrados à entrada no território português só no último ano, o que os coloca no topo da lista dos cidadãos estrangeiros que os serviços migratórios de Portugal recusaram conceder autorização para entrar no espaço territorial português no ano passado. (MM)