Dia da Superdotação: Brasileiros criam projeto inovador que revoluciona a Ciência

Manuel Matola

Uma empresa que integra dois investigadores brasileiros, um dos quais imigrante em Portugal, acaba de criar um projeto inovador considerado um marco histórico na Ciência por ser capaz de descobrir a pontuação do QI no indivíduo a partir de testes genéticos.

A especialista em Genética, Bianca Pizzato, e o neurocientista luso-brasileiro, Fabiano de Abreu, uniram os seus conhecimentos para criar essa revolucionária abordagem que utiliza dados brutos dos testes genéticos do cliente fornecidos por empresas como MyHeritage, 23andMe e TellmeGen, permitindo que os indivíduos descubram a sua pontuação de QI genético.

O anúncio do trabalho desenvolvido pelo Centro de Pesquisa e Análises Heráclito (CPAH) foi feito na véspera da celebração do 10 de agosto, Dia Internacional da Superdotação, uma capacidade que atinge somente 5% da população mundial, estimada em 8 mil milhões. A data é assinalada anualmente pela Organização Mundial da Saúde (OMS) quer para reconhecer a importância e apoiar pessoas com altas habilidades intelectuais, quer para reforçar a necessidade de as demais pessoas entenderem as especificidades desse público – os superdotados.

Em nota, os pesquisadores Fabiano de Abreu e Bianca Ribeiro Pizzato, graduada em Ciências Biológicas, especialista em Biologia Molecular e em Reprodução Humana Assistida, e mestre em Genética, explicam como ocorre o teste realizado pelo CPAH, entidade que colabora com renomadas empresas de testes genéticos, no exercício de terceirização de laboratórios em França e nos Estados Unidos da América.

“Com a possibilidade de adquirir o teste de sequenciamento completo, o relatório pode inclusive analisar mutações raras, abrindo portas para uma compreensão mais aprofundada da genética associada à inteligência”, explicam os investigadores, afirmando que “o número de relatórios emitidos pela empresa está a crescer, permitindo a análise de autismo, TDAH, e outros transtornos, bem como aspectos relacionados à personalidade e nutrição”.

O banco de dados do CPAH foi construído com base em evidências científicas de estudos de associação genética e genómica ampla, criteriosamente avaliados quanto a metodologia empregada e força das associações, asseguram os pesquisadores.

“Essa iniciativa brasileira promete revolucionar o entendimento da inteligência humana e trazer novos insights para a área da genética e neurociências”, lê-se na nota.

Um dos principais pontos sobre superdotação que gera dúvidas são as sociedades de alto QI, que “são grupos seletos que reúnem indivíduos com altas habilidades cognitivas”, diz o neurocientista luso-brasileiro Fabiano de Abreu, uma das pessoas que possui um dos maiores QIs do mundo e por isso conseguiu entrar em algumas sociedades de alto QI mais restritas a nível global.

Em nota enviada ao jornal É@GORA, o neurocientista e a pesquisadora Bianca Ribeiro Pizzato, que trabalhou como Analista de Laboratório na área da Genômica com Sequenciamento de Nova Geração e desenvolvimento do painel de genes de fusão utilizado no diagnóstico genético de tumores sólidos, lembram que essas instituições “possuem critérios rigorosos de admissão” e apenas pessoas com altos índices em testes de QI podem se tornar membros.

“Elas são fundamentais para a interação entre os participantes e estímulo ao seu desenvolvimento”, diz Fabiano de Abreu.

Já Bianca Ribeiro Pizzato destaca que a inteligência é “um traço complexo altamente poligênico [ou seja, tem um carácter fenotípico resultante da ação de diversos gene] e multifatorial”.

Mas apesar de todo esse processo de comprovação e testes existem pessoas que conseguem se destacar de tal forma que são aprovadas em diversas sociedades com alto nível de restrição, como é o caso do luso-brasileiro Fabiano de Abreu, que é membro da Sigma Xi, da Society for Neuroscience nos Estados Unidos e também da Royal Society of Biology no Reino Unido, bem como da APA – American Philosophical Association.

Em janeiro passado, Fabiano de Abreu e uma outra neurocientista, Roselene Espírito Santo Wagner, alertaram a sociedade para a necessidade de saber identificar alguns sinais desenvolvidos pelos potenciais portadores de Quociente de Inteligência (QI) muito alto, que nem sempre são evidentes a “olho nu”.

Desde o apetite por informação e conhecimento à capacidade de entender rapidamente argumentos sem a necessidade de muita explicação, os académicos lançaram uma questão ao público em geral para os ajudar a saber identificar o potencial deste grupo social que representa uma minoria na sociedade.

“Já parou para pensar como as pessoas com alto QI descobrem que o tem?”, perguntavam os académicos doutorados em Neurociência para, de seguida à questão por si levantada, responderem: “Nem sempre é tão evidente a ´olho nu`, mas existem características bem específicas” desconhecidas por famílias, incluindo a de migrantes.

De acordo Fabiano de Abreu, “as pessoas com alto QI têm apetite por informação e conhecimento, que inclui não apenas curiosidade, mas também uma verdadeira necessidade de estímulo intelectual”.

Além disso, acrescenta o neurocientista, existe a capacidade de entender rapidamente argumentos sem a necessidade de muita explicação, talvez até antecipando a conclusão final antes de se chegar a ela.

“Identificar implicações e consequências interessantes de seus argumentos que você mesmo não havia considerado. Também há exibições de perceção rápida, forte capacidade de aprendizado e habilidades substanciais de resolução de problemas. Um amplo escopo e/ou profundidade de conhecimento. A capacidade de perceber e apreciar os talentos e realizações relevantes dos outros”, enumerou.

Acrescentando, a neurocientista Roselene Espírito Santo Wagner disse, na altura, que “além da busca incessante por informações, intelecto elevado”, os portadores de Quociente de Inteligência (QI) muito alto “têm poder de comunicação não verbal e linguagem corporal” adequada.

Mas na data em que se comemora o Dia Internacional da Superdotação, Fabiano de Abreu revela que uma das principais características de pessoas com alto QI é a sua facilidade de esquecer informações.

“Mas por que isso acontece?”, questiona, para de seguida acautelar que essa tendência de esquecimento fácil das coisas por parte dos superdotados.
não deve ser encarado como um problema.

Segundo o neurocientista, “o facto de uma pessoa com superdotação esquecer mais facilmente não significa necessariamente que ela tenha uma certa dificuldade em memória, e sim que o cérebro dela utiliza o esquecimento como recurso para potencializar o seu funcionamento”.

Fabiano de Abreu aponta quatro razões para pessoas com alto QI esquecerem com mais frequência:

01 – Carga cognitiva

“Pessoas com alto QI geralmente possuem mentes altamente ativas, pensam em várias coisas ao mesmo tempo e estão constantemente processando informações. Esse alto nível cognitivo pode levar a uma ‘sobrecarga’ que pode afetar a memória” Explica Dr. Fabiano de Abreu.

02 – Complexidade

“Pessoas com alta inteligência têm uma maior tendência a se aventurar em atividades mais cognitivamente complexas, o que pode colaborar para que informações mais triviais ou com menor relevância tenham menos atenção e sejam esquecidas mais facilmente”.

03 – Mente inquieta

“Indivíduos com alto QI possuem cérebros mais acelerados e inquietos, em uma procura constante por novidades e conhecimentos, fazendo com que haja constantemente um acúmulo de informações e isso prejudica o acúmulo e a manutenção de novas memórias”.

04 – Cérebro otimizado

“Já existem estudos que reforçam que a alta capacidade do cérebro de uma pessoa com superdotação funciona de forma otimizada e mais rápida, ou seja, é mais acelerado e para manter essa velocidade é necessário que algumas memórias sejam deixadas de lado em prol de ‘manter o sistema funcionando'”, conclui Fabiano de Abreu. (MM)