Dília Samarth partilha pincel com embaixadores e pinta quadro em prol de Moçambique

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Artista plástica Dilia Samarth (centro) e embaixadores acreditados em Portugal que ajudaram a pintar a tela
Manuel Matola 

A artista plástica Dília Samarth recolheu vários símbolos culturais patentes nas bandeiras africanas, procurou perceber o mapa de Moçambique e com auxilio de embaixadores de África, Europa, Oceania e do Sudeste da Ásia pintaram um quadro em solidariedade às vítimas dos ciclones IDAI e Kenneth que assolaram o país.

O trabalho feito a vários mãos está agora estampado numa tela, revestida por meio de cores de África, que normalmente compõem o pano que constitui a principal indumentária da mulher africana que hoje, 31 de julho, comemora o seu dia.

“A intenção foi ser solidária e chamar atenção para o que aconteceu em Moçambique”, onde recentemente dois ciclones causaram quase 800 mortos, resume Dília Fraguito Samarth, que há mais de quatro décadas partiu forçosamente de Angola e fixou-se em Portugal onde continua a alimentar o seu imaginário de África através das artes plásticas.

Quando no primeiro trimestre do corrente ano, Moçambique foi assolado consecutivamente pelos ciclones IDAI e Kenneth, a pintora angolana ficou em choque com as imagens de destruição do centro e norte do país e pensou em colocar numa tela “referências para eternizar as províncias que ficaram submersas” na sequência dos desastres naturais.

“Recolhi alguns padrões da África do Sul, entrei também com cores de principais bandeiras africanas. Então, a cor que eu escolhi (para o quadro) tem a ver com isso, porque a natureza não morre”, diz.

Dília Samarth aponta as futuras crianças africanas, e não só, como o principal alvo deste trabalho de educação ambiental assente numa comunicação feita através de um pincel partilhado entre a pintora e diplomatas, alguns dos quais nem sequer sabiam “que tinham faculdades para pintar”, segundo reconheceu ao jornal É@GORA o embaixador da Guiné Equatorial, Tito Mba.

“Tem pequenas referências para eternizar as províncias que ficaram submersas, e estão num livro para que se estude, para que a educação seja o futuro de nós todos e dos outros que sobreviveram, (sobretudo) os meninos que ficaram vivos”, explica a artista plástica.

O esboço da tela “levou muito a pensar”, até porque, durante mais de dois meses, Dília Samarth teve que fazer pesquisa e estudos “para perceber o mapa de Moçambique”, e um trabalho de “levantamento das cores de África para entrar com as cores essenciais e dos países que possivelmente iriam colaborar no projeto”, garante.

Carregado de uma forte luz para dar vida às flores que a pintora decidiu colocar na peça artística, a tela reflete não só os símbolos que aparecem em algumas das bandeiras dos 54 países do continente africano, na verdade, “são de todo o mundo”, assegura a pintora em resposta à pergunta lançada pelo jornal É@GORA.

Aliás, “não é de lugar nenhum, porque o mundo é um” apenas, corrige a artista formada em Belas Artes.

Fazendo uma descrição detalhada do trabalho conjunto com os embaixadores de quatro continentes, Dília Samarth aponta pormenores que requerem alguma atenção ao olhar-se pela primeira vez para o quadro de flores de cores vivas que não só carregam significados próprios como também procuram estabelecer os laços de amizade entre os povos.

“Ele está aqui esboçado, com os contornos. Quem o vir bem parece uma flor. O mapa de Moçambique podia ser uma flor, se eu agora puxasse por ele, porque as flores são as nossas irmãs”, afirma a pintora.

A artista angolana falava aos jornalistas à margem da cerimónia de apresentação do quadro, numa cerimónia organizada pela Plataforma para o Desenvolvimento da Mulher Africana (PADEMA) alusiva ao Dia Internacional da Mulher Africana, que hoje se assinala, e cujas festividades foram antecipadas para o passado fim de semana.

Em declarações à imprensa, Luzia Moniz, presidente da PADEMA, entidade que é autora do ato de solidariedade, estabeleceu a relação entre os dois eventos que cruzam a pintura e a festa da mulher africana cuja vestimenta é assente no pano africano, que em Moçambique é comumente conhecido por capulana.

“A essência dos panos africanos é geometria e queremos com isso mostrar que o lado do vestuário, da indumentária das mulheres africanas também está presente neste certame” de pintura do quadro, explicou Luzia Moniz.

“É um evento importante, porque celebra a mulher africana. Celebrar as mulheres de todo um continente é celebrar metade da população do continente”, considerou, no entanto, a embaixadora da Argélia em Portugal, Fatiha Selmane, em declarações ao jornal É@GORA.

A diplomata argelina destacou o “papel muito importante” que “a mulher jogou na luta para a libertação do continente, no desenvolvimento económico do continente e na transmissão da cultura que foi escondida durante a colonização”.

Aliás, “é uma boa iniciativa que mostra que estamos na presença de uma sociedade acolhedora. E como África nós somos uno e a dor de um país africano é a dor de um país africano”, disse, por seu turno, a embaixadora da África do Sul em Lisboa, Mmamokwena Gaoretelelwe, que qualificou de “grandiosa” a ideia de pintar um quadro para posteriormente vender e as receitas reverterem em prol das vítimas dos dois ciclones que atingiram Moçambique este ano.

A esse propósito, Dilia Samarth afirmou: “se nós ouvíssemos muito bem a natureza, que agora estão a falar que nos destruiu, não tínhamos feitos os disparates que fizemos, nem ciclone estava a vir, se calhar”. (MM)

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