Manuel Matola
O diretor-geral da Organização Internacional para as Migrações (OIM), António Vitorino, iniciou hoje uma visita a Moçambique, onde deverá se reunir com o Presidente da República, Filipe Nyusi, e escalar esta segunda-feira a província de Cabo Delgado para testemunhar o drama humanitária que se vive no norte do país assolado por ataques terroristas desde 2017.
Na manhã desta segunda-feira, o responsável da agência da ONU para as Migrações foi recebido em audiência pelo vice-ministro dos Negócios Estrangeiros e Cooperação, Manuel José Gonçalves.
Fonte da delegação da OIM em Moçambique assegurou ao jornal É@GORA que o diretor-geral da OIM se vai encontrar também com o chefe de de Estado moçambicano, com quem abordará a situação humanitária em Cabo Delgado, cujos conflitos são hoje relativamente diferentes.
É que “o combate aos grupos armados em Cabo Delgado ganhou um novo impulso com a recuperação da estratégica vila portuária de Mocímboa da Praia” no passado dia 08 de agosto, “numa operação conjunta entre as forças governamentais de Moçambique e do Ruanda. A reconquista de Mocímboa da Praia seguiu-se à perda pelos rebeldes de várias posições importantes, com as tropas dos dois países a anunciarem que continuam a perseguição aos insurgentes até aos seus últimos redutos”, noticiou há dias a Lusa, agência de notícias portuguesa.
Em Cabo Delgado, o diretor Geral da OIM vai inteirar-se da situação dos mais de 817 mil deslocados e um número incerto de refugiados que fugiram para os países vizinhos devido aos conflitos que já provocaram mais de 3.100 mortes, segundo estimativas do projeto norte-americano de registo de conflitos ACLED (Armed Conflict Location & Event Data Project).
Mas por detrás de números, António Vitorino testemunhará histórias de vida real de quem internamente teve que fugir de “aldeias em chamas” em Cabo Delgado onde sons de tiros e granadas de homens armados ecoam pelas ruas daquela província que acolhe um dos maiores projetos do gás natural a nível mundial.
Numa quarta-feira de março, Omar Adremar teve que fugir “com a esposa e o filho de 18 meses enquanto os sons de tiros e granadas ecoavam pelas ruas de Palma”, segundo relatou o próprio à equipa da IOM em Cabo Delgado, após escapar a morte na sua vila ocupada pelos rebeldes numa ação depois reivindicada pelo grupo ‘jihadista’ Estado Islâmico.
“Caminhamos três horas pela floresta para evitar as áreas de conflito”, disse Omar Adremar após chegar numa manhã num vôo que teve como destino a cidade de Pemba.
“Muitos dos meus amigos e vizinhos escaparam, mas outros desapareceram. Ficamos muito tristes com o que aconteceu”, disse o jovem moçambicano, segundo um comunicado divulgado na altura pela OIM, que se mostrava “profundamente preocupada com os relatos de violência contínua no norte de Moçambique que deslocou milhares de pessoas, a maioria das quais mulheres e crianças, de Palma para distritos vizinhos”.
Segundo cálculos da OIM, as mulheres e crianças são mais de três quartos dos deslocados interno que fogem aos conflitos do interior para a capital provincial de Cabo Delgado.
Sobreviventes disseram à equipa da OIM que fugiram para as florestas enquanto homens armados matavam seus familiares e queimavam suas casas. Muitos foram separados de seus entes queridos, ficando apenas com as roupas do corpo.
Na altura, o director-geral da OIM, António Vitorino, lançou um apelo aos doadores para ajudar a fazer face à situação dramática que se assiste naquela região de Moçambique.
“Denunciamos com a maior veemência estes ataques condenáveis a civis inocentes”, disse então António Vitorino, assinalando que as equipas da agência estavam a prestar auxílio aos “sobreviventes que chega(va)m em distritos vizinhos”, até porque “muitos foram separados de seus entes queridos, ficando apenas com as roupas do corpo”.
“Estamos a expandir os nossos esforços para atender às necessidades crescentes conforme mais pessoas chegam de Palma. Apelamos urgentemente à comunidade de doadores para nos ajudar a auxiliar as milhares de pessoas que fogem de homens armados e aldeias em chamas”, disse o diretor-geal da OIM, que agora vai assistir in loco o drama humanitário na província moçambicana rica em gás e com milhares de cidadãos na pobreza. (MM)