Eneida Marta no FMM Sines: “Considero-me uma revolucionária”

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Eneida Marta, cantora e defensora dos direitos humanos

Diz que faz “revolução” com a sua música. A cantora de intervenção e defensora de causas humanitárias, Eneida Marta, quer ver investimentos na educação em defesa dos direitos das crianças na Guiné-Bissau.

A embaixadora da música guineense, com projeção internacional, pede ao próximo executivo, encabeçado pela coligação “PAI – Terra Ranka, empenho e seriedade na governação, para fazer jus às expetativas dos guineenses no país e na diáspora. A artista, com mais de 20 anos de carreira, atuou este sábado (22/07) em Porto Covo, na abertura de mais um Festival Músicas do Mundo (FMM) de Sines.

Através das suas canções, Eneida Marta mantém sempre uma forte ligação afetiva à Guiné-Bissau, sua terra natal. Em cada espetáculo, a cantora guineense, natural de Bissau, expressa isso e não deixa de surpreender o público. “Sempre temos algo de novo para mostrar”, revela ao Jornal É@GORA pouco antes de subir ao palco, em Porto Covo, onde atou no último sábado, 22, no primeiro dia da 23ª edição do Festival Músicas do Mundo (FMM Sines 2023).

“Eu considero-me uma revolucionária”, afirma na entrevista que se seguiu ao sound check que antecipou o concerto bastante aguardado pelo público. “Faço a revolução na minha música”, precisa, realçando a sua faceta de cantora de intervenção que não se coíbe a fazer crítica social, mas que também canta a liberdade e o amor.

Nessa qualidade, Eneida Marta não se coloca em posição alheia à atualidade no seu país, agora que foi eleito um novo governo depois das eleições legislativas de 4 de junho deste ano, que deram vitória com maioria absoluta à coligação Plataforma Aliança Inclusiva (PAI) – Terra Ranka. “Acho que qualquer guineense de sã consciência desejaria prosperidade, sem sombra de dúvidas”, afirma a artista otimista. “Todos nós estamos ansiosos por esse dia”, da tomada de posse do novo executivo. “É o maior sonho. É o maior desejo neste momento de qualquer guineense”, expressa a cantora com uma carreira de mais de 20 anos.

“Com essa coligação só espero o melhor”

Eneida Marta espera “o melhor” do novo executivo e acredita na seriedade e boa fé de Domingos Simões Pereira, presidente do Partido para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) que liderou a coligação.

“É o meu ídolo. É daquelas pessoas que eu admiro como político e como ser humano”, elogia sem vacilar. “Com essa coligação só espero o melhor”, afirma otimista, a transparecer o desejo de ver enterrado o período crítico e de instabilidade política que marcou a sociedade guineense nos últimos anos, depois da dissolução do Parlamento.

“Acredito que cada um deles [que integram a coligação] tem a mesma vontade e sede de desenvolver a Guiné-Bissau”. Mas também acredita que os guineenses na diáspora, nomeadamente em Portugal, estão desejosos de dar o seu contributo, depois de anos de incerteza devido às constantes crises políticas que obstaculizaram planos e impediram o regresso ao país de origem.

“A necessidade de estar na Guiné-Bissau é algo urgente”, exorta, embora reconhecendo que nunca faltou vontade por parte dos imigrantes guineenses em regressar ao país para dar o seu contributo pelo desenvolvimento do país. “Não temos que ter medo”, reforça, apelando os seus conterrâneos a não se divorciarem da Guiné-Bissau.

Contra o casamento precoce

Na qualidade de Embaixadora do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) – cargo que exerceu recentemente a convite da Organização das Nações Unidas –, quer que “tudo” seja feito em prol dos direitos das crianças da Guiné-Bissau, nomeadamente nos domínios da saúde e da educação. Esta é uma das carências que regista no contexto nacional.

“O que eu desejaria realmente para uma criança é o básico”.

Quando assumiu aquela missão, Eneida Marta abraçou várias causas, entre as quais o combate à Mutilação Genital Feminina (MGF) e o casamento precoce de raparigas guineenses. Defensora de causas humanitárias, a intérprete apostou mais neste último item que considera ser uma das aberrações” ainda vigentes na Guiné-Bissau e nalguns outros países de África. Enquanto embaixadora – adianta com um sorriso –, foi possível avançar com uma lei que passou a condenar o casamento precoce e a MGF como crimes.

Foi uma das conquistas enaltecidas pela cantora, graças ao papel de influenciadores e “fazedores de opinião” desempenhado por muitos guineenses de boa vontade. “As pessoas vêem-nos como referência, como exemplo. Só temos que fazer o bom uso dessa posição que ocupamos e fazer com isso boas ações”, diz.

Pará lá destas temáticas, a artista está focada nos seus projetos musicais. No concerto deste sábado, em Porto Covo, além de “Family”, acabado de lançar, Eneida Marta presenteou o público com “Nha Sunhu”, um dos seus trabalhos de qualidade que transporta esperança de uma Guiné-Bissau melhor.

Depois de FMM Sines, tem concertos marcados em Angola, voltando após isso à Guiné-Bissau. Não revela mais pormenores uma vez que “está a fechar a agenda”, com a previsão de mais espetáculos no inverno.

“O ano passado foi fraquinho. Este ano, sentimos mais gás” – considera –, em consequência dos efeitos da pandemia da COVID-19 que obrigou toda a gente a estar confinada. (JC texto e fotos).

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