Manuel Matola
O Município de Santa Cruz em Cabo Verde vai atribuir, ainda este ano, 60 bolsas de formação a cidadãos cabo-verdianos, incluindo os residentes na diáspora, que tenham competências reconhecidas, seja por experiência profissional, título académico ou outro, uma iniciativa que visa promover a criação de uma nova elite de empreendedores no Arquipélago.
Os jovens inscritos que obtiverem uma classificação de Excelente durante a época formativa, em que serão devidamente escrutinados à luz da sua competência, vão automaticamente ser convidados a integrar os quadros das empresas instaladas na Incubadora Santa Cruz Atlantic Business & Innovation (ISCABI), fruto de uma parceria público-privada entre o Município de Santa Cruz e uma entidade particular europeia.
As inscrições para a seleção e recrutamento de formadores locais tendentes à formalização da Bolsa de Formadores decorrem até ao dia 31 de julho. Os candidatos à formadores podem estar na diáspora ou em Cabo Verde. Os selecionados a essa categoria irão prestar serviços de formação nas seguintes áreas: Português (Avançado), Inglês (Avançado), Espanhol (Avançado), Marketing, Gestão de Empresas, Logística e Informática na Ótica do Utilizador. Já os formandos, serão todos de Cabo Verde e a residir no Arquipélago. A formação será “híbrida”: online e presencial.
“E até final do primeiro trimestre de 2021″, a ISCABI “será integrada na futura Incubator Network Atlantic Business & Innovation Hub com presença na África Ocidental e Austral”, disse a gerente do projeto, Andredina Cardoso, numa entrevista ao jornal É@GORA, que pode acompanhar a seguir.
Que projeto é esse?
A Incubadora de Santa Cruz Atlantic Business & Innovation (ISCABI) não é um projeto, já é uma realidade! Resulta da convergência de vontades do Município de Santa Cruz e de um parceiro privado europeu. E até final do primeiro trimestre de 2021 será integrada na futura incubator network Atlantic Business & Innovation Hub com presença na África Ocidental e Austral. Muito se fala da capacidade empreendedora do empresário cabo-verdiano mas se formos para além das frases feitas, constatamos a evidência que a grande maioria de empresas constituídas são microempresas que geram entre dois a seis postos de trabalho. Ora, reconhecendo nós no povo de Cabo Verde a capacidade supra mencionada, decidimos que era chegado o momento de se partir para o desenvolvimento de um novo paradigma: o das pequenas, e até médias empresas que desempenhem um papel relevante dentro, e para além, da comunidade onde se encontram. O futuro das empresas cabo-verdianas passa por não se cingirem apenas ao mercado do seu concelho ou da sua ilha, mas por conquistarem o mercado arquipelágico e, numa fase seguinte, virarem-se para a exportação. Estes novo paradigma apenas se efetivará se os nossos empresários tiverem acesso a competências nas áreas do networking empresarial internacional, do financiamento, etc. Mas como chegar às mesmas se não possuem os mecanismos que lhe permitam sobrelevar o seu framework mental para além da realidade do nosso concelho? É essa a missão a que se propõe a ISCABI.
Quantas pessoas pretendem formar?
Esta primeira época formativa tem como objetivo formar aproximadamente 60 indivíduos. Aqueles que obtiverem uma classificação de Excelente serão automaticamente convidados a integrarem os quadros das empresas instaladas na ISCABI. Os restantes formandos poderão inscrever-se na Bolsa de Emprego por nós gerida.
Tendo em conta a época pandémica em que vivemos, como será feita a formação nesta fase: presencial, ou online?
Os cursos contemplarão um modelo “híbrido” de sessões presenciais e de sessões à distância/online. Para tal contamos com um parceiro tecnológico internacional, com forte presença em África e que aportarão muito “mundo” aos nossos formandos..
A diáspora tem algum espaço?
A diáspora já está a desempenhar um papel de catalisador no arranque da ISCABI. Por um lado, existe um número considerável de membros da diáspora que se está a inscrever na Bolsa de Formadores (já que os cursos contemplarão um modelo “híbrido” de sessões presenciais e de sessões à distância/online – para tal contamos com um parceiro tecnológico internacional, com forte presença em África) e que aportarão muito “mundo” aos nossos formandos.
Por outro, a maioria das empresas que se pretendem instalar na ISCABI é parcialmente detida (direta ou indiretamente) por membros da diáspora cabo-verdiana na Europa (Bélgica, Reino Unido e Portugal, entre outros) e nos Estados Unidos. Os inputs da nossa diáspora são bem vindos porque contribuem para a diferenciação e reforço da qualidade desta iniciativa. O sucesso (leia-se, desenvolvimento sustentado) de Cabo Verde é indissociável da afirmação da sua diáspora enquanto agente de mudança. E essa força da diáspora será tão mais pronunciada, quanto maior for a sua ligação ao “arquipélago-mãe”. É uma relação com ganhos mútuos.
Quem são os beneficiários do projeto?
Uma incubadora de empresas não pode reduzir-se à dimensão do “senhorio” que possui e gere um espaço que arrenda a outros empresários para que estes se possam instalar. Tem de ser um viveiro: de conhecimento multidisciplinar (as soft-skills são ferramentas-chave desse conhecimento), de benchmarking, de experienciar, em suma, de crescer e de ousar. E é aí que nos posicionamos.
– Se as formações iniciam no último trimestre, quanto tempo dura e quanto tempo irá levar até ao arranque efectivo do projecto? ?
Começámos pela vertente da formação porque são evidentes as lacunas em determinadas áreas: empreendedorismo, exportação, etc… Para atrairmos projetos nacionais e internacionais a primeira competência-chave é ter capital humano devidamente preparado. E como para nós, o mérito é um dos valores que nos galvaniza, decidimos pela criação de uma bolsa de formadores: onde todos aqueles que tenham determinada competência reconhecida (seja por experiência profissional, seja por título académico, ou outro) se podem candidatar (enviando o seu CV para o email incubadora.formadores@cmscz.cv) e serão devidamente escrutinados à luz da sua competência. Os cursos (sem custos para os formandos selecionados) serão divulgados durante o terceiro trimestre.
Como é que pensam implementar?
Estando cientes que os critérios de excelência são condição sine qua non para integrar o mercado exigente que temos hoje. Considerando ainda que muitas vezes as oportunidades não se desenham da mesma forma para ambos os géneros, um dos cursos ministrados nesta primeira fase será a de Empreendedorismo no feminino. Num contexto nacional onde a taxa de desemprego e o emprego informal impactam de forma expressiva as mulheres, e tendo ainda em conta que 26% dos empregos são por conta própria (dado do INE, 2019,) não poderíamos deixar de dar uma atenção especial a este aspeto. O nível de desenvolvimento de uma nação também se mede pela participação plena da mulher em todas as esferas da sociedade e, olhando para a atualidade cabo-verdiana, onde apesar da recente aprovação da lei da paridade, constatamos a escassez de candidaturas no feminino à presidência dos municípios, mais aporta à nossa convicção de que estamos no caminho certo. (X)