Entrevista a empreendedora Sandra Raquel Costa, a Eng. Informática que faz assessoria sobre saúde do cabelo

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Sandra Raquel Costa, empreendedora

Sona Fati

Aos 28 anos, a empreendedora Sandra Raquel Costa presta assessoria a pessoas que pretendem ter melhores cuidados com o cabelo, um negócio que resultou de produção de conteúdos sobre cosmética num Blog que criou há 10 anos onde “escrevia muito sobre produtos de cabelo que existiam nos Estados Unidos da América”, mas que as pessoas tinham dificuldades em encontrar em Portugal. Após ser procurada para fornecer os produtos, abriu um negócio.

Hoje, a jovem empresária aconselha e direciona as pessoas a terem melhores cuidados com a saúde do cabelo na sua loja física – “Assim do Meu Jeito” -, que está localizada no centro de Lisboa, cidade que viu nascer e crescer essa alfacinha de pais são-tomenses, que se tornou proprietária de um negócio que está de vento em popa em plena pandemia, graças ao sucesso de vendas online. E explica os vários segredos. O primeiro: determinação.

“Eu sou uma pessoa muito determinada e persistente”, garante a Engenheira de Telecomunicações e Informática Sandra Raquel Costa em entrevista ao jornal É@GORA, que pode acompanhar de seguida:

É uma pergunta cliché, mas a Sandra nasceu cá em Portugal?
Sim, nasci em Lisboa.

É lisboeta, alfacinha…
Sim (risos)

E os seus pais são originários de onde?
São Tomé e Príncipe.

E conhece, já lá foi?
Já lá fui duas vezes: uma quando tinha um ano, pelo que não me lembro de nada; a outra vez tinha 12 anos. Ai lembro-me muito bem.

Há alguma previsão para lá voltar?
Sinceramente, não sei. Gostaria de voltar lá, mas não sei quando.

Vamos falar do seu negócio: produtos para o cabelo. O que destacaria sobre o seu negócio?
No meu negócio, além de venda de produtos de cosmética, tento sempre aconselhar e direcionar as pessoas para os melhores cuidados sobre o cabelo. Não é só a venda em si de qualquer produto, mas também o aconselhamento e o apoio a pessoas sobre questões relacionada à saúde do cabelo propriamente.

E é só o cabelo africano ou todo o tipo de cabelo?
Todo o tipo de cabelo, mas, é claro, mais direcionado para o cabelo africano, encaracolados. Mais esse tipo de cabelo. É o que eu tenho mais experiência também.

Há quanto tempo está nesse negócio?
Estou há sensivelmente três anos. Mas já tinha um Blog sobre cabelos. Já tenho Blog há 10 anos.

Então tudo começou com um Blog e depois passou para negócio?
Sim. E depois passou para negócio.

E o que motivou a passar para negócio?
Acho que eu escrevia muito no Blog sobre produtos de cabelo que existia nos Estados Unidos da América, e as pessoas tinham dificuldades de encontrar esse tipo de produtos. Muitas pessoas questionavam-me se eu podia arranjar, onde se pode arranjar. E foi aí que eu trouxe esses produtos para cá. Tentei com que eles estivessem disponíveis. Fui trazendo aos poucos. Um dos primeiros produtos que eu vendia era o creme de cabelo Talia e outro era o óleo de rícino jamaicano. Foram os primeiros produtos com que eu comecei.

Essa venda começou logo com a abertura de uma loja, ou foi venda online?
Na realidade, eu comecei venda online. Eu tinha um site muito para desenrascar. Era mais para vender e vendia muito pouco produtos. Comecei por esses dois e depois fui alargando, meia dúzia de produtos, não muitos.

Em que altura percebe que é momento certo para abrir a loja?
Foi no momento em que achei que eu queria passar para algo físico, queria aumentar o meu stock e não dava para ter em casa, ser algo pequeno. E também as pessoas perguntavam-me sobre (a disponibilidade de) outros produtos, tipos de produtos. E eu queria alargar um bocado o leque, então fui começando aos poucos com uma loja física pequena na Margem Sul e foi assim que fui crescendo.

E depois passou para Lisboa, Sete Rios, onde atualmente está?
Exatamente.

A Sandra é muito nova. A idade de uma senhora não se pergunta, mas se quiser nos avançar…
Não sei, eu já não me considero assim tão nova (risos), mas eu tenho 28 anos.

Com 28 anos, já proprietária de um negócio que, pelo aspeto da loja – aliás, a entrevista está a ser efetuada aqui na loja -, visualmente parece bem consolidado… O que a Sandra destaca na sua atitude para ter conseguido até hoje no negócio?
Eu sou uma pessoa muito determinada e persistente. Até tenho ajuda da minha mãe, que não só é assim também como eu, mas a minha mãe é aquele tipo de pessoas que mete muito na prática. Geralmente eu tenho as ideias. A minha mãe ouve as minhas ideias e quando digo vamos embora fazer já ela não deixa. Eu sou do tipo de pessoas que tenho as ideias, vou pensando no assunto, depois vou meter isso na prática. A minha mãe é do tipo oito ou 80: ela ouve as ideias e amanhã já está a tratar do assunto ou ver como é que essas ideias podem ser postas em prática.

Então há aqui um trabalho de parceria?
Sim, exatamente.

Com o apoio da mãe?
Sim.

O apoio é fundamental para qualquer empreendedor?
É. Eu acho que é. Bastante.

Muitas vezes há a ideia de que é preciso ter muito dinheiro, ter uma ideia brilhante, que ninguém teve e, por outro lado, dizem que as ideias já estão todas inventadas. O negócio de cabelos é um negócio que existe muito e a Sandra não se deixou amedrontar e avançou com o obetivo e intenção. O que diferencia de outro tipo de negócio?
Eu acho que é o facto de estar um bocado segura por eu já ter um Blog há já alguns anos e tinha um leque de pessoas que me seguiam e que se calhar confiavam no meu conteúdo e nas coisas que eu aconselhava. Mas aí depois vem a situação de que sim, elas podem comprar noutro sítio e não comprar só na minha loja. Hoje em dia os produtos já estão mais disponíveis e mesmo os produtos que antigamente eram raros. Mas ainda assim eu acho que é confiança e é o saber que eu consigo aconselhar, ou eu tenho um Blog em que as pessoas já viram os conselhos e viram os resultados. Então é mais por aí: invés de comprar numa loja em que, por exemplo, gastam 10, 20 euros e compram um produto cegamente, sem saber se vai resultar, muitas vezes as pessoas preferem vir cá e pedem primeiro o meu conselho e assim já se sentem um bocado mais seguras em saber o que é que hão-de comprar. Acho que é mais por aí. Mas, inicialmente, sinceramente, nem pensei muito nisso. Nem pensei: o que é que me iria diferenciar. Sinceramente eu pensei: vou arriscar e é o que toda a gente deve ter em mente. Mas acho que também é bom as pessoas pensarem no que é que lhes vai diferenciar. Toda a gente. Apesar de as ideias estarem todas inventadas, há sempre uma coisa que te diferencia de outras lojas, de outros negócios, quaisquer outras pessoas. Por exemplo, nós como seres humanos somos todos iguais, mas temos todos personalidades diferentes. Há sempre alguma coisa que nos diferencia. Em termos de negócios, como disse, inicialmente não pensei nessa diferenciação, mas hoje em dia eu consigo perceber qual é essa diferenciação. O que eu gostaria de aconselhar as pessoas é que tentassem perceber o que elas podem ter de diferente de outros negócios, porque há sempre alguma coisa que outros negócios não têm. E é tentar perceber o que é que falta nos outros negócios. Pode ser o preço, por exemplo, mas pode ser outra coisa qualquer. Ou a simpatia. Por exemplo, tens várias lojas de gelados e eles não têm um tipo de gelado. Ou às lojas todas de gelados que vais, as pessoas não são simpáticas. Tentar apostar mais na simpatia, na dedicação ao público e ser a distinção. Há sempre qualquer coisa que falta no mercado e não está tudo. E em Portugal falta muita coisa, não está tudo inventado. Ou tentar ver o que há noutros países e que falta aqui. Há países que estão mais desenvolvidos do que aqui em Portugal e tentar noutros países e até arriscar ir para esses países durante uns meses e tentar perceber que tipo de negócios há lá que não há cá e trazer isso para Portugal. Isso é uma boa forma de contornar essas questões de diferenciação.

A pandemia ainda continua e tivemos aquela altura em que muitos negócios tiveram que ser encerrados. Como é que a sua marca de negócios conseguiu sobreviver esse período?
Única e exclusivamente online, porque, aliás, sempre tive site online e isso ajudou-me bastante. Ter uma página online ajudou imenso muita gente a safar durante essa pandemia.

A loja já está aberta. Está tudo a funcionar. O fluxo de clientes ainda é o mesmo?
Inicialmente sentia que as pessoas ainda estavam a comprar muito online, ou seja, eu tive uma subida. Antes da pandemia eu tinha mais vendas na loja física do que online, mas pós-pandemia, agora, isso está a notar o contrário, principalmente este mês que tive que fazer o balanço. As coisas já estão a equilibrar. Já tenho exatamente quase os mesmos clientes online do que na loja física, tenho o mesmo volume de vendas. Mas até agosto estava muito mais online do que na loja física. Mesmo pessoas que vivem aqui em Lisboa preferem fazer compras online.

É mais prático, se calhar…
É, acho que as pessoas agora viram a facilidade que é fazer compras online e as pessoas não se importam de pagar porte de envio nem nada e moram aqui em Lisboa e é para enviar para Lisboa do que vir. Se calhar estão a trabalhar em casa, estão de pijama e pensam: preciso de produtos de cabelo, mas não me apetece ir à rua só para ir comprar. Acho que é mais nesse sentido.

E projetos futuros para o teu negócio: há ideias de expansão?
Sinceramente, ainda não tenho uma ideia para este negócio em si, mas eu tenho ideias de outras coisas que eu quero fazer. Não quero ficar só na área de cosmética. Eu sou uma pessoa que gosta de ter muita diversidade de áreas de várias coisas e também admito que sou uma pessoa que se cansa rapidamente da mesma coisa. Então não quero só focar nesse negócio. Eu gosto muito desta área de cosmética, mas não me quero só focar nisto.

Que mais valias é que desta em ter áreas diversificadas?
Porque é a segurança.

Monetária?
Sim, essencialmente isso. Acho que toda a gente deveria ter – mesmo quem trabalha por conta de outrém – deveria ter outra fonte de rendimento noutra área qualquer, porque nós agora com a pandemia vimos isso: houve vários negócios que se foram abaixo. Essencialmente estamos a falar de estética, área de restauração, agora já está a recuperar. Mas quem tem discoteca, bares…se a pessoa for concentrar-se só nisso, nesse tipo de área, se um dia for abaixo e a pessoa só vive disso…então é bom às vezes a pessoa abrir o leque e tentar diversificar um bocado.

O empreendedorismo está na moda, aliás, tem tido muita aceitação. Toda a gente quer ser empreendedora, muitas pessoas com espírito de que querem ser patroa de si própria. Como empreendedora nessas andanças já há algum tempo que conselho daria a quem viesse ter consigo e dissesse que quer começar um negócio, ou na mesma área que a da Sandra – na beleza dos cabelos ou noutra área -; o que aconselharia?
Primeiro perguntaria à pessoa se ela tem mesmo a certeza se é isso que ela quer fazer porque o que tenho notado é que muitas pessoas começam negócios para às vezes achar que vai ser mais fácil, ou que ser patroa de si mesma sem ter alguém a mandar em si, vai ser tudo mais fácil. Eu já trabalhei por conta de outrém. Trabalho atualmente por conta própria. Trabalho muito mais do que trabalhava antes, mas mesmo muito mais. Ou seja, a pessoa tem que ter uma paixão por aquilo que está a fazer. Se a pessoa não tiver essa paixão, o negócio não vai para frente. Eu diria, por exemplo, que a minha mãe ajuda-me muito. Às vezes ela vê-me a trabalhar e eu também puxou-a para trabalhar comigo e ela confessa mesmo que prefere trabalhar por conta de outrém, porque ela diz que tinha horários certos, saberia que chegava à casa àquela hora e não pegava mais no trabalho. Ou seja, a pessoa tem que ter mais disciplina para não desistir e também para saber gerir bem os horários e não estar a trabalhar 24/24 horas.

Relativamente a parte de investimento: se há negócios que precisam começar com quase zero, ou com muito pouco capital, há outros que exigem um bocadinho mais…
Acho que isso tudo depende do negócio para negócio. Mas eu falo, por exemplo, de lojas de venda de qualquer coisa: se a pessoa ainda não tem a certeza de que tem um leque de clientes, ou nunca teve uma loja antes, ou Blog, não é uma grande influencer, o meu maior conselho é a pessoa não arriscar logo tudo e começar aos poucos e ir vendo e ganhando seus clientes, e o dinheiro que faturar utilizar para investir mais e mais e ir expandindo. Não começar logo com tudo. Imagina que se quer ter a dúzia. Não começar logo com uma dúzia. Começar com meia dúzia, ou começar com três produtos de cada se for vender. Começar de forma pequena e ir expandido, isso se a pessoa não tiver um grande capital, ou se tiver um bocado. Se quiser arriscar e não tiver assim grande à vontade financeiramente, obviamente e claro, a pessoa deve, antes de investir isso tudo, criar uma boa poupança e não agir só por impulso. Ser também um bocado pensado.

A Sandra já pensou em fazer alguma mentoria sobre empreendedorismo?
Por acaso não. Só ontem estive a postar sobre isso, porque me despertou interesse. Eu gosto de tentar ajudar, ou encaminhar pessoas se estiverem um bocado aflitas sem saber o que fazer. Eu gosto de fazer, mas não é uma área que já domine, por isso não gosto de dar muitos conselhos, porque ainda não domino completamente uma área. Se eu tiver um momento em que eu já me sinta à vontade aí sim eu começo a fazer mentoria. (SF)

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