Entrevista ao músico romântico português Hélder Barradas: Sou “mais acarinhado pelo povo brasileiro”

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Manuel Matola

O jovem compositor Hélder Barradas é hoje um dos maiores sucessos num dos palcos improváveis para vender a música romântica portuguesa: o Brasil, a nação lusófona com mais imigrantes a nível mundial, cujo público feminino é quem mais tem contribuído para o artista português ser um destacado ídolo no universo latino. Admira Tony Carreira.

“Nunca tive em mente que o meu projeto pudesse ir além fronteiras. As coisas têm acontecido pouco a pouco. O que eu sinto neste momento é que sem essa preocupação eu consegui alcançar outros países, nomeadamente, Brasil, Colômbia, Argentina, Espanha, portanto, alguns países latinos”, diz Hélder Barradas, que lamenta o facto de o público português “ser um bocadinho preconceituoso” em relação à música romântica.

Como é que os leitores do jornal É@GORA saberiam quem é o Hélder Barradas se tivesse que descrever a si próprio?
Desde criança sempre fui uma pessoa interessado pela música. No entanto, sou alguém que decidiu apostar na música pouco a pouco. Nunca criei grandes expectativas, mas felizmente (a carreira) tem estado a correr bem e já vou com quase 50 temas originais.

Isso num espaço de quanto tempo?
Há sete anos. A minha primeira experiência de música foi em 2013. Foi quando fiz um tema que dediquei aos Bombeiros, o qual teve mais de um milhão de visualizações nas redes sociais. Portanto, este tema foi ao fim ao cabo o que acabou me lançando à música, em 2013. Em 2014 gravo o meu primeiro álbum Labirintos do Amor, álbum esse que teve algum sucesso. Senti uma aproximação do público e, a partir daí, foi sempre tentar remar contra a maré. As coisas da música não são fáceis, mas senti-me privilegiado pelo facto de ter conquistado um público que conquistei até hoje mesmo sem grande ajuda a nível de assessoria.

A falta de assessoria é um problema que os músicos enfrentam?
Sim, é um problema que todos os músicos enfrentam porque são áreas que exigem algum poder financeiro e nem sempre é fácil porque, por vezes, não sentimos o retorno. Estarmos a investir na música e não termos retorno a nível financeiro, por exemplo, por não termos espetáculos frequentemente isso acaba por nos deixar um pouco fragilizados e limitados.

Mas este problema é reflexo da migração da música para o digital: o de as pessoas ficarem com a ideia de sucesso dos músicos pelas visualizações dos seus temas quando na verdade o problema central ainda não está resolvido?
Sim, por vezes, a gente consulta a página de um artista e acaba por nos induzir em erro. Para quem está de fora pode-lhe parecer que o artista está a ter muito sucesso quando (essa leitura) não corresponde à realidade. Eu por acaso sou uma pessoa que tem TIDO algum cuidado nessa área. Evito ao máximo querer passar para fora algo que não é real. Gosto de viver na realidade.

Relativamere às suas músicas, em que álbum vai agora?
A seguir ao Labirinto do Amor já lancei mais três. Em 2016 um álbum que tinha como título VozES do Tempo, produzido com outro produtor, Luís Mourinho. Foi um álbum que já ressentiu bastante melhorias porque o objetivo de qualquer artista é tentar progredir na carreira mas de uma forma mais sólida, digamos, melhorar sempre ao longo do tempo. E isso é evidente neste disco Vozes do Tempo. Em 2017 lancei um outro CD. Esse não foi lançado fisicamente, mas está disponível nas plataformas digitais, que é o Apenas Eu, que foi um CD também composto por alguns temas da minha autoria; outros da autoria do meu produtor. Lá está: mais uma vez senti melhorias, porque é esse o nosso objetivo – melhorar sempre ao longo do tempo. Em 2020, lancei este que é o meu mais recente álbum – Intuição – que (olhando para as redes sociais, principalmente no Facebook) está a ter muito procura. É um álbum que na minha opinião tem bastante qualidade e que tem tudo para que o sucesso seja maior que os anteriores.

E essa “Intuição” num ano como o 2020 faz todo o sentido?
Não (até porque) na altura eu tinha apostado este álbum. Aliás, comecei a gravar em 2019, embora só tenha sido lançado em 2020. Eu tinha em mente produzir, lançar e vender mesmo em formato físico. Devido à pandemia foi tudo cancelado. Como não pude lançar o CD fisicamente e não pude apresentar o meu trabalho a nível de espetáculos, apostei nas redes sociais e é isso que tenh estado a fazer até à data: partilhar os vídeoclipes nas redes sociais e estou a ter um retorno positivo.

Face ao que diz, insisto na pergunta anterior: o digital é a saída para música ou é uma “rampa” que pode induzir em erro?
Acho que o formato digital é importante. Acho que é o futuro. As pessoas cada vez mais, quando têm vontade de ouvir uma música, por norma, já apostam mais no formato digital.

O Hélder tem tido muitos espectáculos – não só olhando para o atual período como também nos anteriores?
Sim, tive bastante espetáculos em anos anteriores (pois) 2020 foi para esquecer. Foi tudo cancelado. Tinha algumas coisas pelo menos alivanhadas, mas devido à situação foi tudo cancelado. Foi um ano que espero que consiga esquecer, porque foi muito mau. Para 2021, ainda não tenho nada marcado, mas também por opção minha. Enquanto eu não me sentir confortável com a situação que está a acontecer eu não irei fazer espetáculos de maneira nenhuma.

A “Intuição” o que é que lhe diz?
Era a intuição que eu tinha, de que tudo ia dar certo e acabou por dar errado, mas há que pensar positivo.

Para 2021 a intituição diz-lhe o mesmo ou o contrário?
Espero que o ano 2021 nos traga coisas boas não só para os artistas, mas para a sociedade em geral porque as pessoas estão a ficar cansadas desta situação. Espero que agora após a vacinação tudo possa melhorar e que tudo volte a vida normal.

Insisto neste ponto relativamente às plataformas digitais: houve durante a pandemia algumas plataformas que foram criadas para a apresentação de espetáculos e até remuneráveis. Esta é uma saída que os músicos exploraram muito, pouco ou não é de todo um sucesso?
Acaba por ser sempre um sucesso. Uma vez que estamos privados de fazer espetáculos é sempre uma opção. Houve vários artistas que acabaram por fazer espetáculos em várias plataformas digitais. A nível de divulgação, uma vez que ficamos também limitados de poder ir às televisões – embora já estejamos a voltar à normalidade -, as plataformas digitais foram fundamentais, pelo menos durante este período e acho que poderão ser fundamentais no futuro. Como disse anteriormente o futuro vai passar um bocadinho por aí.

Quando o Hélder se apresenta ao público quais são as questões mais frequentes que o público faz relativamente ao estilo musical?
As perguntas mais frequentes do público são: em que é que me baseia para criar os temas; o porquê de eu ter seguido um estilo de música romântica; o porquê de eu gostar de estar tão próximo do público.

E que respostas dá?
Às vezes na brincadeira as pessoas questionam-me se sou mesmo assim, ao que eu digo: sim, gosto mesmo de estar com o público. Em relação à música romântica (a resposta) é que foi sempre uma música com que eu me identifiquei, talvez pela forma de estar na vida, pela minha infância. Fui criado a ouvir música romântica. Talvez seja por aí que eu tenha vertido por este género musical. Se calhar também pela imagem com que eu me apresento em palco. À segunda pergunta: o porquê de eu eu acarinhar o público e ter interesse em estar com as pessoas? Porque é a minha forma de estar na vida. Gosto de conhecer pessoas novas. Gosto de acarinhar a quem me acarinha. A terceira: Se as letras que escrevo se baseiam em situações reais, ou são ficcionadas. As letras são baseadas em factos reais. Temos sempre conhecimento de histórias de pessoas. As letras também são sempre compostas de uma forma muito carinhosa porque eu sou uma pessoa que valoriza muito a letra da música. Acho que as letras são fundamentais e terão que transmitir sempre uma mensagem. Portanto, as minhas músicas, por norma, têm sempre algo a transmitir às pessoas. E fundamental também é que além além de transmitir mensagem, as pessoas se identifiquem com essa mensagem. Se calhar por esse motivo é que conquistei tanta gente e as pessoas perseguem porque grande parte delas se identifica com as minhas letras. Claro que isso também enche-me de orgulho porque é sinal de que o meu esforço e o trabalho que tenho feito estão a correr da forma que planeiei desde início.

O Hélder tem um público-alvo que quer atingir em termos de faixa etária?

Sim. Mais de 90 por cento do meu público é feminino. A faixa etária poderá andar entre os 35 e 60 anos. É um público com que eu me identifico e que posso considerar (em termos de preferênciais musicais) acima da média, que me trata bem e que está sempre presente, e isso é fundamental.

Qual é a sua opinião em relação ao trabalho colaborativo entre os músicos: tem ou não havido?
Esta é uma pergunta um pouco difícil de responder porque, infelizmente, temos andando um bocadinho afastados uns dos outros. Não há espetáculos. É um bocadinho difícil nós conseguirmos elaborar algum trabalho conjunto, sobretudo com a minha banda. Poderá haver alguns ensaios. Eu por acaso não tenho feito. Desde que começou a pandemia, afastei-me completamente e não tem sido muito fácil estarmos juntos.

Mas neste momento há necessidade de um maior trabalho colaborativo entre os artistas?
Acho que essa aproximação já deveria ter sido feita há mais tempo. Em Portugal andamos todos a correr ao mesmo e acabamos por nos atropelar uns aos outros. Eu costumo sempre dizer isso, é a minha posição desde que entrei na música: acho que os músicos deviam ser mais unidos para que também a música portuguesa pudesse evoluir, e acho que de certa forma tudo seria muito mais fácil. Isso não sei se irá acontecer ou não no pós-pandemia, mas por aquilo que eu conheço do mundo da música, acho que, infelizmente, vai continuar a haver desunião.

Mas qual é a razão dessa desunião?
Como não me encaixo nesse perfil, não faço ideia. Se calhar porque se preocupam mais com o sucesso do colega do que em tentar corrigir erros que foram cometidos pelo próprio trabalho deles. Eu pelo memos sou assim: não me preocupo com sucesso de ninguém. Simplesmente olho para o meu trabalho. Tento usufruir e explorar o máximo das críticas que fazem para corrigir erros que cometi. E este é o meu foco, sempre foi e será sempre no futuro.

Gostava de me concentrar aqui no álbum Intuição lançou em 2020. Pela caraterística do ano, o álbum Intuição fára com que o Hélder olhe para outros espaços territoriais como o melhor espaço para promover a sua música ou, em 2021, a ideia é focar-se em Portugal para promover o álbum que a pandemia acabou atrapalhando?
Nunca tive em mente que o meu projeto pudesse ir além fronteiras. As coisas têm acontecido pouco a pouco. O que eu sinto neste momento é que sem essa preocupação eu consegui alcançar outros países, nomeadamente, Brasil, Colômbia, Argentina, Espanha, portanto, alguns países latinos. Isso sem haver essa intenção. Acaba por ser prestigiante para mim e é óbvio que me deixa feliz por saber que o meu trabalho já conseguiu passar para lá do nosso país, embora por outro lado fique um bocado triste. Por exemplo, falando do Brasil: Neste momento sinto que acabo por ser mais acarinhado pelo povo brasileiro do que propriamente em Portugal. Como português, acho que temos que valorizar mais aquilo que é nosso. Atualmente isso não se sente, embora ache que já foi pior. Já começam ouvir um pouco mais da música portuguesa, mas acho que ainda é pouco. Deveríamos valorizar mais aquilo que é nosso.

O português ainda não está romântico. Seria essa a justificação?
Também. Não é o português não ser romântico. É que o português é um bocadinho preconceituoso. A mulher e nota muito, mas o homem é preconceituoso. Não se considera romântico. Há qualquer coisa (que manifesta) com o facto de estar a ouvir música romântica. Isso é errado porque nós devemos ser como somos.Se gostamos de música romântica não há mal em ouvir e não custa nada dizer que gostamos de música romântica porque não faz sentido estarmos a enganar a nós próprios. Eu pelo menos sou assim, muito direto: se gosto, gosto, se não gosto, não gosto. E acho que as pessoas deveriam ser todas assim. Vamos imaginar Tony Carreira. Quando se fala dessa personalidade – que é uma pessoa que eu admiro bastante -, toda a gente diz coisas (boas e más) sobre ele mas, no fundo, a gente vê os espetáculos que ele dá, estão completamente a pinha e cheios. Portanto, as pessoas parece que gostam mas têm preconceito de dizer que gostam e isso não será um bom caminho.

Falamos aqui das plataformas digitais. Para além destas plataformas aonde é que se poderão encontrar os trabalhos do Hélder?
Os álbuns novos não estão à venda em nenhuma superfície comercial porque não foram lançados fisicamente.

Refiro-me aos primeiros…
Vozes do Tempo está esgotado. Estiveram à venda na FNAC. Acho que nessa altura estão esgotados, segundo a informação que recebi da editora. Podem também contactar-me pessoalmente, ou pelas redes sociais. Terei todo o gosto em dar ou vender a essas pessoas. Não terei problema nenhum. (MM)

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