Manuel Matola
O imigrante afegão Nasir Ahmadi diz estar com “medo do futuro” e, numa petição, pede que Portugal acolha a mãe e a irmã, uma ativista na capital afegã, Cabul, onde a qualquer momento “os talibã vão bater a porta e levá-las à prisão ou matá-las”.
“Estou com muito medo em relação ao que vai acontecer depois do dia 30 quando o governo norte-americano e a NATO saírem do país”, diz Ahmad Nasir ao jornal É@GORA falando numa voz embargada sobre o risco que a sua irmã Lida Nasir corre por ser ativista dos direitos humanos no Afeganistão, onde “as mulheres não podem sair de casa” por receio dos talibã.
Após ver o Presidente norte-americano, Joe Biden, reiterar há dias que as tropas norte-americanas vão abandonar definitivamente o solo afegão na próxima terça-feira, Ahmad Nasir suspeita que, no minuto em que o último militar ocidental deixar aquele território, haverá retaliação dos talibã, sobretudo, contra duas das mais importantes mulheres da sua vida: a mãe e a irmã, uma ativista dos direitos humanos.
“Com certeza que eles vão procurar as pessoas que trabalhavam como ativistas ou na defesa dos direitos humanos. Eles vão matar todas essas pessoas”, afirma ao jornal É@GORA Ahmad Nasir numa conversa telefónica a partir do Porto onde reside desde 2016, ano em que chegou ao território português na condição de refugiado.
Desde que lançou petição – com mais de mil subscritores -, o imigrante Nasir Ahmadi está a viver momentos de total agonia, pelo que pretende obter uma resposta urgente das autoridades portuguesas para que a mãe Roshan Noori, que está doente sob cuidados da irmã sejam colocadas em Portugal.
“A minha irmã era ativista em Cabul [onde] as mulheres que trabalhavam fora de casa, hoje, têm problema de segurança, porque os talibã não vão deixar que essas pessoas que estavam no governo, nas ONG em prol da liberdade das mulheres e pela democracia trabalhem. Elas estão em rico. Eu pedi ajuda do governo para salvar a vida delas. Elas estão muito tristes, pois, cada dia, estão a contar o tempo em que os talibã vão bater a porta e leva-las à prisão ou matá-las. Para eles as mulheres não são nada. Por isso que também estou muito triste”, diz ao jornal É@GORA.
De acordo com o Alto Comissariado das Migrações, Portugal está a preparar uma lista prioritária de afegãos que o país deverá receber nos próximos dias: 466 cidadãos, incluindo crianças.
Embora a mãe e a irmã do Nasir Ahmadi não vivam “muito distante do aeroporto”, pois dista “quase cinco ou seis quilómetros”, o receio do imigrante afegão aumenta quando se lembra que os talibã impõem que as mulheres só podem sair de casa acompanhadas por alguém de sexo oposto.
“O problema é que a minha irmã e a minha mãe não têm homem em casa. [E mais]: as mulheres que trabalhavam para as organizações representam um crime para eles [os talibã]. A minha mãe depende da minha irmã. Ela está doente”, diz Nasir Ahmadi expectante de que o governo português ajude a ambas a conseguirem ter um documento que permita chegar perto das forças norte-americanas e da NATO estacionadas no aeroporto de Cabul e saírem do Afeganistão. (MM)