
A deputada única do Livre, Joacine Katar Moreira, garantiu hoje que “está completamente fora de questão” renunciar ao mandato, uma decisão que, à ultima hora, o partido decidiu remeter para a próxima direção da força política que será eleita este domingo em congresso reunido no fim de semana em Lisboa.
“Eu não vou renunciar para que as pessoas que votaram nessa eleição não se sintam defraudadas”, disse Joacine Katar Moreira, reagindo à proposta apresentada há dias pela assembleia do partido LIVRE no sentido de retirar a confiança política à deputada, que em diferentes intervenções procurou defender-se das acusações de, “por opção própria, reiteradamente”, ter prescindido de representar o partido no Parlamento.
“Sabem, mesmo que independentemente do resultado que saia desse congresso, eu vou garantir para não deixar órfãos as pessoas que confiaram em outubro e nos elegeram. Vocês sabem e têm a consciência dos resultados e dos efeitos (dessa decisão). Vocês fazem ideia que uma deputada não inscrita quase não fala, não tem assessores, tem um se… não sabem disso? São vocês é que vão decidir se vão silenciar as 57 mil pessoas que votaram porque queriam ter uma voz na Assembleia (da República). Se vocês querem substituir a minha voz, lamento informar: elegeram uma mulher que gagueja muito bem, que nunca escondeu isso. Elegeram uma mulher negra que foi útil para a subvenção. Tem que ser útil para vos defender”, disse Joacine Katar numa das intervenções dirigia especialmente à mesa da Assembleia do partido Livre, no congresso, que integra o atual líder do partido, Rui Tavares.
Há dias, a Assembleia do partido Livre decidiu propor ao congresso a retirada da confiança político à deputada Joacine Katar Moreira, a quem acusam de, “por opção própria, reiteradamente” ter prescindido de representar o partido no Parlamento.
Mas aquele órgão máximo entre congressos da formação política liderada por Rui Tavares reconhece que essa decisão trará “consequências gravosas” para organização.
Hoje, o membro do Conselho de Jurisdição do Livre, Ricardo Sá Fernandes, avisou à entrada do congresso que “esta rutura pode ser o suicídio do Livre”.
Em declarações aos jornalistas, no intervalo do encontro, o líder do LIVRE disse que aquela formação política achou que os próximos órgãos do partido é que têm melhores condições para decidir sobre o futuro da deputada no Parlamento.
Os próximos órgãos, sobretudo a assembleia, irão concluir o processo de forma “justa”, “transparente” e mais “humana”, disse Rui Tavares, que votou na proposta da retirada de Joacine Katar Moreira da Assembleia da República.
Numa primeira intervenção no início do congresso, a deputada luso-guineense – que foi cabeça de lista do partido Livre às legislativas-2019 – exibiu documentos que comprovam o seu trabalho desde que foi eleita parlamentar há mais de dois meses.
“Isto é uma época de imensa iniciativa, mas a iniciativa mais importante de hoje é felicitar o facto de se terem deslocado até aqui hoje. Eu nunca vi tantas pessoas do partido unidas. Nunca vi e efetivamente não faço ideia de onde vieram a maior parte dos indivíduos aqui. Isto é fundamental para qualquer partido que queira alguma resiliência, união. Infelizmente o elemento desta união não é necessariamente a união”, assinalou, durante a intervenção.
Prosseguindo, Joacine Katar Moreira disse: “É irónico. Mas não é anormal numa democracia. É hábito no nosso partido, no PS, no CDS e noutros. Isto é a normalidade democrática. Mas o elemento fundamental tem de ser a ética e a verdade. Sem a ética e sem a verdade nós nunca estaremos na normalidade”.
Naquela que foi a sua primeira declaração pública sobre o assunto nos últimos dias, a deputada única do LIVRE considerou que a moção apresentada pelos cinco membros do partido e que está a ser discutida no congresso feria o seu bom nome e a sua dignidade.
“A proposta apresentada pela assembleia fere a minha honra”, disse Katar Moreira. “
Vim aqui porque o meu objetivo era fazer parte, ser igualmente uma agente de ação, de mudança absoluta. Foi por isto que cantámos a ironia de vamos dar um pontapé no estaminé, de que não íamos ser iguais aos outros e que as estruturas melhorem”, acrescentou.
Falando pela segunda vez do centro do IX Congresso do partido LIVRE, Joacine Katar Moreira contestou a proposta do seu afastamento do Parlamento num tom exaltado.
“Isto é ilegal, eu acho que isto é ilegal”, disse no final da intervenção. (MM)