Experiência desafiante de ter vivido uma gestação gemelar

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Lectícia Trindade (Escritora)
A maternidade, por si só, é um momento difícil e pode até ser assustador para algumas mulheres. Tratando-se de uma gravidez gemelar, a situação (que por si só já não é fácil) torna-se duplamente difícil.
Tive a experiência de ter tido uma gravidez gemelar e por esse motivo venho partilhar convosco algumas informações que considero úteis para ajudar a lidar com essa nova situação.
É tudo muito semelhante a uma gravidez não gemelar, até ao momento em que te encontras no gabinete médico, a meio de uma ecografia e o médico diz: “temos aqui 2 fetos”. Nesse momento, tudo muda. Segundo a minha experiência, primeiro houve o bloqueio (que durou quase toda a sessão da ecografia) e, depois, houve uma explosão de sentimentos contraditórios (medo, receio, alegria, espanto, extrema felicidade).

A partir daí é informar aos familiares mais próximos e gerir a situação. Neste tipo de gestação, por ser de risco, passas a ser considerada “gravidez de risco” querendo isso dizer que todo o acompanhamento profissional passará a ser feito no hospital e passas a ter mais consultas do que é comum numa gravidez não gemelar. Há quem diga que, a nível de sintomas, estes são intensificados quando comparado a uma gestação gemelar, mas, pessoalmente, não notei essa diferença (relativamente à primeira gestação que fora não gemelar).

Os problemas mais comuns na gravidez gemelar

Para além de, naturalmente, o tamanho da barriga ser maior comparativamente a de uma gravidez não gemelar, existem outros problemas que são mais comuns acontecerem quando se trata deste tipo de gestação: Diabetes Gestacional e pré-eclampsia, hipertensão arterial, Edemas e caimbras. São questões que podem acontecer a partir do segundo semestre e são duas ou três vezes mais comuns de acontecerem em gravidez gemelar. Não se assuste, pois são situações que facilmente se pode controlar com prática de exercício físico moderado, sessões de drenagem linfática e uma dieta equilibrada, bem como aporte hídrico adequado.

Existe também um maior risco de haver um parto prematuro, e maior ainda, quando se trata de gémeos univitelinos (que dividem a mesma placenta). Normalmente, quando essa prematuridade acontece entre as 34 e 37 semanas, os bebés não sofrem de problemas maiores. Entre 28ª e 34ª semanas aumenta o grau da gravidade e da necessidade de terem que ter cuidados especiais.

Algo que para mim foi surpresa foi o facto de não poder ter acompanhante no momento do parto, mas isso ocorre uma vez que é considerado “gravidez de risco” e o parto deve ser feito na sala cirúrgica.

Existe muito o preconceito do género “são gémeos, o parto deve ter sido cesariana”…ou quando se diz que não foi, ouve-se comentários como “…Coitadinha, deve ter levado tantos pontos…”. Deixem-me que vos diga que o PARTO DE GÉMEOS PODE SIM OCORRER POR PARTO NORMAL E SEM QUE HAJA A NECESSIDADE DE EPISIOTOMIA (corte do períneo).

Outra situação que para mim fora totalmente surpreendente prende-se com o facto de não ter tido suporte dos profissionais de saúde, proactivamente, para cuidados aos recém nascidos, na primeira noite após o parto (mas acredito que não tenha sido de forma negligente. Deve ter havido uma avaliação acerca de parâmetros como a minha idade ou o facto de já ter tido outra experiência enquanto mãe). Lá estava eu, sozinha durante a noite, a tomar conta de 2 recém nascidos, em simultâneo. Claro que os profissionais disseram que os poderia chamar caso precisasse de algo, mas nunca pensei ter aquela “prova de fogo” logo na primeira noite. Facto é que não houve necessidade e a prova foi concluída com sucesso.

Apesar de haver a amamentação, os pediatras aconselham introdução de leite artificial para complementar a alimentação, uma vez que normalmente os gémeos nascem com peso inferior a dos bebes que não o são.

Em casa

Chegando a casa, é a gestão de uma realidade totalmente diferente, que dificilmente é conseguida sem o apoio de alguém que esteja sempre connosco. Idealmente, seria o pai, mas na impossibilidade recorre-se às avós ou tias dos bebés.
Em casa as coisas são muito mais reais e são complicadas. É necessário grande poder de gestão do stress e apelar a todos os santos (dependendo da importância que cada um dá à religião). A compreensão, aceitação e comunicação são fulcrais nesta fase. Eu e o meu marido optamos por fazer com que eles ficassem coordenados a nível das rotinas (horas de dormir, horário de alimentação, horário de banhos, horários de lazer) porque, apesar de ser mais trabalhoso, acaba por nos dar mais tempo para fazer outras coisas. Aconselho vivamente a quem tem gémeos que os alimentem em simultâneo, que os ponha para dormir em simultâneo e façam com que eles façam tudo em simultâneo.

Por vezes o facto de terem que tomar leite artificial pode nos deixar um pouco triste, mas acaba por ser muito vantajoso porque assim podemos ter um apoio maior na altura de os alimentar.
Devemos ter em atenção que o facto de serem gémeos não quer dizer que sejam iguais. Até porque não existem duas pessoas iguais. Têm personalidades diferentes, características diferentes, gostos diferentes e, no caso dos meus, caras diferentes.
Passamos por situações desafiantes dia após dia, mas são essas mesmas situações que nos faz crescer e sentirmo-nos mais fortes e mais capazes no que concerne à maternidade.

Se é difícil cuidar de gémeos? É. Mas é uma experiência tão enriquecedora e desafiante que eu desejo a todos os que acabaram de ler este artigo. (X)

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