Manuel Matola
O filme “O Poeta da Ilha”, realizado pelo cineasta moçambicano Júlio Silva, vai ser exibido, este fim de semana, no Reino Unido, num primeiro evento do género organizado pela comunidade afro-portuguesa naquele país.
A iniciativa pretende contribuir para melhor representação de histórias afro-portuguesas no Reino Unido, onde, segundo a organização do evento, “as autoridades locais e os serviços sociais do Reino Unido nunca ouviram falar das comunidades de língua afro-portuguesa”.
“Também observamos que as comunidades de língua afro-portuguesa foram mal representadas no Mês da História Negra (BHM)”, revelam os organizadores da sessão que vai decorrer em Londres, na sexta-feira e sábado próximos.
“O Poeta da Ilha” relata a história de um poeta cabo-verdiano preso pela polícia política do regime colonial (PIDE) três dias antes do 25 de abril e 1974.
Já no dia 05 de julho, a longa-metragem gravada nas Ilhas de São Vicente e Santo Antão vai ter a sua estreia na Guina Bissau, segundo anunciou recentemente Júlio Silva, que vive em Portugal.
O filme tem merecido várias menções honrosas. Em 2022, cinco atores do filme foram premiados no Festival das Migrações, Culturas e Cidadania, o mais antigo e dos mais representativos festivais interculturais de Luxemburgo. O evento foi criado em 1981.
Além do ator João Graça, no elenco do projeto destaca-se Bia Barbosa, Rank Gonçalves e Mirita Veríssimo, que é igualmente produtora do filme “Poeta da Ilha”.
Júlio Silva é dos poucos cineastas rurais em Moçambique, sua terra natal, onde também desenvolve trabalhos como escritor, produtor musical, além de ser músico multifacetado com mais de 300 Cd/disco Vinil produzidos a nível dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (CPLP).
Em 2019, o Cineasta, Etnomusicólogo e Antropólogo Cultural moçambicano foi reconhecido como realizador do Ano pelo círculo de leitores dos Escritores Moçambicanos na Diáspora e ganhou também o Prémio de Melhor Documentário Júri Popular no Festival de FESTIN (Festival de Cinema Itinerante da Língua Portuguesa).
Há largos anos que Júlio Silva se tem dedicado ao cinema rural em Moçambique, após ter criado uma linha cinematográfica muito africana, que aborda a Cultura, História, realidade, o quotidiano e a língua, o que lhe tem valido prémios e convites de outros países da CPLP para lá fazer alguns filmes.
No Brasil também arrecadou pelo menos dois prémios com os filmes “Escravatura” e “Chikuembo-1”, produzidos antes de “O Poeta da Ilha”.
A longa história sanguínea faz de Júlio Silva um verdadeiro imigrante, pois o cineasta é bisneto de alemães, holandeses, brasileiros e cabo-verdianos, uma fusão que o ajuda a saber contar as pequenas histórias de ir e vir pelo mundo também graças à sua veia de Antropólogo cultural. (MM)