Elisabeth Almeida
Ricardo, Adelaide, Mayara e Joana são autores de quatro canais de YouTube cujos conteúdos versam sobre temáticas diferentes e que têm sido um sucesso nos tempos de Covid-19, especialmente para imigrantes que encontram neste meio uma forma de democratização do conhecimento.
Há pelo menos 15 anos, as pessoas deixaram de utilizar livros e enciclopédias enormes para realizarem pesquisas para trabalhos académicos, receitas internacionais e dicas de reaproveitamento de alimentos.
Agora tudo está disponível em um clique em plataformas como o Youtube, que disponibilizam uma enorme gama de vídeos para os mais variados públicos com tutoriais de maquilhagem, dicas de viagem, aulas de idiomas, receitas, dicas de organização do tempo, vida saudável e debates sobre assuntos socioeconómicos.
A grande questão a ser discutida é como esta ‘ferramenta’ é utilizada, já que em tempos (ainda) de adaptação a uma nova realidade com a pandemia do novo coronavírus e as pessoas com mais tempo livre em casa. Como o Youtube pode servir como fonte de conhecimento e quais são os princípios utilizados por youtubers de nacionalidades diferentes? Para responder esta e outras questões o Jornal É@GORA tem algumas dicas de conteúdos que podem ajudar e muito no seu dia-a-dia.
O brasileiro Ricardo Ventura é dono do canal Não minta pra mim, já com quase 400 mil seguidores e uma enorme playlist de vídeos voltados para análise não verbal, comunicação persuasiva, palestras, treinamentos e entrevistas. Desde 2008 Ricardo dedica-se ao canal para compartilhar conhecimento adquirido em anos no mundo corporativo e em seu consultório, onde trabalhou como terapeuta holístico.
As análises feitas em seu canal e a explicação de pistas oculares e expressões faciais de discursos políticos e de celebridades rendeu grandes frutos.
“Quando eu comecei, lá atrás, eu tinha 20, 30 visualizações e quando batíamos mil visualizações eu ficava todo feliz já. Hoje eu tenho vídeos com mais de três milhões de acessos e em média cada vídeo nosso tem 100 mil visualizações e por mês cerca de três milhões de pessoas assistem o conteúdo. É como se mensalmente eu falasse para 30% da população de Portugal, por exemplo”, relatou Ricardo Ventura ao Jornal É@GORA.
“A ideia é sim ajudar às pessoas e por isso 90% do meu conteúdo é gratuito, sendo o meu grande fluxo de propaganda e eu recebo diariamente me agradecendo por ter saído de uma depressão; ter entendido seus próprios pensamentos; ter pedido perdão para o pai ou a mãe; perceber se o filho está sofrendo bullying, se seu pai ou avô está sofrendo maus tratos em uma clínica ou por cuidadores; abrir uma empresa e saber negociar seus produtos. De uma forma muito variada, as pessoas vêm agradecer pelo conteúdo e se animaram com o conteúdo. Sendo assertivas nas suas decisões, prestando mais atenção na comunicação como um todo e percebendo a mentira em um pronunciamento, nos seus negócios, seus amores”, explicou Ricardo, que também é autor de três Best Sellers voltados para a Programação neurolinguística (PNL).
Os vídeos mais falados do momento no Não minta pra mim são as análises sobre os pronunciamentos do ex-ministro da Justiça e o presidente Jair Bolsonaro, onde ambos têm discursos com informações que não coincidem. Só estes dois vídeos somam 760.799 mil acessos até ao momento e rendeu ao especialista em PNL entrevistas com apresentadores de renome para discutir o assunto.
As análises são feitas por meio de vídeos veiculados na Internet ou televisão e no decorrer do pronunciamento ou entrevista, Ricardo Ventura vai explicando cada sinal corporal diante do que é dito e seguindo da definição que o corpo sempre dá vestígios de que o locutor está nervoso, inseguro ou até mesmo mentindo. Entre as análises mais famosas estão os membros do Shark Tank Brasil; entrevistas com assassinos-confesso; políticos e declarações polémicas de celebridades e apresentadores, todas contam também com a opinião de Ricardo.
“O Youtube, sem sombra de dúvidas, é uma ferramenta de divulgação de conteúdo e é por isso eu digo que toda pessoa deve abrir um canal na plataforma e passar seu conhecimento com as outras pessoas e não deixar que seu conhecimento morra com você. Acredito também que toda pessoa é mestre e que toda pessoa aprendiz; não existe uma pessoa que seja tão inteligente que não possa aprender alguma coisa ou uma pessoa que seja tão ignorante que não possa ensinar ou compartilhar alguma coisa. Todas as pessoas, ou elas estão com o chapéu do mestre ou com o chapéu do aprendiz; sempre será assim”, conclui Ricardo Ventura.
Já a escritora Adelaide Miranda, que se identifica como “cidadã do mundo, tendo nascido em Angola”, é dona do canal que leva seu nome no Youtube e tem como grande viés abordar questões sobre empoderamento, finanças e gerenciamento do tempo. Além de youtuber, Adelaide é autora de oito livros, sendo três deles guias práticos sobre Educação Financeira; carapinha, sobre cuidados com o cabelo crespo e outro guia sobre proatividade.
“Eu abri o canal há 4 ou 5 anos, quando comecei a publicar os meus livros, mas na altura era apenas para postar os book trailers e acabei por não usar muito. Dois anos depois coloquei algumas entrevistas que tive na televisão e este ano iniciei um canal (dentro do meu canal) chamado Ponto de viragem, que é basicamente com dicas que eu lanço. Portanto, em noite de Lua Nova ou noite de Lua Cheia, com base na minha faceta de estimuladora para despertar às pessoas que elas podem e têm direito de correr atrás de seus sonhos” explica a autora.
“O meu nicho são os meus leitores e o meu conhecimento é fruto de muita leitura, muitos e muitos livros! São coisas que eu aplico e escrevo com dicas práticas para as pessoas começarem a andar a sua vida”, declarou a escritora, formada em engenharia.
Por ser uma escritora e focar em sugestões fáceis e motivacionais, Adelaide “se usa” como exemplo de gerenciamento de tempo e, principalmente, do uso do tempo com qualidade.
“Eu trabalho, cuido da casa e da família, como a grande maioria das mulheres no mundo, mas eu tento mostrar que mesmo com tantos afazeres é possível sim manter-se em forma, fisicamente e mentalmente, e que é possível ter um momento diário de autocuidado como meditação e uma boa leitura, mas é preciso ter organização e disciplina”, ensina Adelaide.
“Eu acordo todos os dias (literalmente) antes das 5 horas da manhã, para que meu dia renda e que eu possa ter momento focado apenas em mim; em preparar um bom pequeno almoço; fazer meus exercícios e me arrumar. Eu não assisto televisão e foco em usar cada minuto do meu tempo com coisas que vão agregar no meu dia ou no meu conhecimento. É um exercício diário, mas que rende bons frutos, já que eu termino o dia com a certeza de que ele foi produtivo”, conclui.
O seguimento da youtuber Joana Gonçalves, com canal de mesmo nome, é mais conhecido como Life Style, onde se dá dicas de maquilhagem; produtos de beleza caros e os acessíveis; receitas e viagens. Além disso, a portuguesa também compartilha sua vida na cidade do Porto e a rotina de dona de casa e mãe.
Para Joana, a plataforma, hoje em dia, já não é mais tão utilizada para “passar o tempo” e sim para agregar conhecimento.
“O meu canal é muito baseado na minha vida; nas minhas experiências, seja de coisas que eu gosto e recomendo. O YouTube é usado também para aprender e eu falo isso por mim, já que tudo o que eu sei de maquilhagem eu aprendi por lá e também me atualizo com novas técnicas pela plataforma”, disse a youtuber.
Para a publicitária brasileira Mayara Elisa da Silva, o YouTube é uma das ferramentas mais democráticas que existe, onde ricos e pobres têm acesso a mesma informação e de forma gratuita.
“Foi-se o tempo em que a questão do ´ser culto` era referida apenas para pessoas com maior poder aquisitivo ou matriculadas em escolas voltadas para a elite e hoje eu posso assistir aulas sobre vinhos; história da arte; idiomas; educação financeira e tantas outras coisas quando eu quiser. Como tudo não é perfeito, é preciso ter foco para não acabar gastando o seu tempo vendo fofocas, resumo de novelas ou coisas do tipo. No mais, vejo o Youtube como fonte de inspiração e aprendizagem para as pessoas e tudo isso podendo ser acessado também pelo celular, ou seja, onde quer que você esteja”, disse Mayara ao Jornal É@GORA.
Youtubers e o novo coronavírus
Em tempos de isolamento social, total ou parcial, as plataformas digitais se tornaram as melhores amigas dos confinados de plantão e com isso os criadores de conteúdo (youtubers) tem se desdobrado ainda mais para elaborar vídeos que sejam informativos e que possam ajudar aos seus inscritos meios de ultrapassar a pandemia mundial causada pelo novo coronavírus da melhor maneira.
Adelaide Miranda, por exemplo, tem focado ainda mais em compartilhar tudo o que aprendeu e ainda aprende na ‘escola da vida’. “Quem é Adelaide Miranda? Mãe, engenheira, escritora, empresária e cofundadora da Luso Star Apartments e da Schola Vitae; no meio disso tudo eu não passo de uma mera cidadã do mundo”, diz ela no primeiro vídeo do Ponto de Viragem.
“Sempre em dia de Lua Cheia e de Lua Nova, pois são dias de reflexão e também para nos dar duas semaninhas para praticar tudo o que vamos aprender aqui”, explicou.
“Guarde tudo aquilo que lhe faz sentido e o que não fizer sentido, deita fora. Nem tudo aquilo que eu vou dizer vai servir para vocês. O que não servir não ponham na vossa gaveta, pois vão encher sem necessidade nenhuma. Encha apenas com aquilo que vos vai fazer crescer”, reflete Adelaide sobre a importância de ‘gastar’ tempo e espaço apenas com aquilo que de fato vá te ajudar a melhorar como pessoa ou profissional.
Gratidão, amor próprio, amizade, foco e determinação são alguns dos temas abordados por Adelaide Miranda, em busca do desenvolvimento pessoal e também com reflexões sobre “quem e como você quer estar no pós-pandemia?” com vídeos curtos (com no máximo 6 minutos), objetivos e práticos.
Já o conteúdo de Ricaaaaaardo Ventura, como o próprio se apresenta em seus vídeos no canal Não minta pra mim, segue informando seus inscritos dentro da programação neurolinguística e mostrando as várias vertentes que o seguimento possui como a linguagem não verbal em uma mesa de negociação; em um paquera (engate) ou como ela (PNL) pode ser utilizada por palestrantes para o convencimento e manter seu público engajado; políticos e pastores.
“O Não minta pra mim, na realidade, nasceu com um viés corporativo e eu ensinava isso também nos meus livros, o Comunicar, vender e negociar com PNL, eu ensino a linguagem silenciosa justamente para a comunicação, para vendas e persuasão”, disse Ricardo Ventura, que foi um dos primeiros a escrever sobre a programação neurolinguística no Brasil.
“O meu último livro, o Como manipular e persuadir milhares de pessoas, é voltado também para o mundo corporativo e ele é muito importante para que as pessoas vejam que o ‘não verbal’ não é só descobrir se alguém está mentindo ou não; é muito maior que isso. Você usa isso em terapia e pode ser usado por médicos, usariam isso com muita mestria os dentistas, terapeutas, psicólogos, psicólogos infantis, pedagogos, advogados e todas as pessoas que trabalham com o ser humano”, afirmou Ricardo em entrevista ao Jornal É@GORA.
Há pouco mais de um mês Ricardo Ventura criou um quadro em seu canal onde fala exclusivamente sobre o novo coronavírus – o Linguagem silenciosa já tem dois vídeos até o momento -, que foi gravado em forma de live, ‘O que nunca te contaram sobre o coronavírus?’ e ‘Coronavírus: entre vidas ou dinheiro’, onde o especialista discute as várias narrativas usadas pelos “media” e pela população. (X)