Manuel Matola
A diáspora sul-africana promete dar luta nos próximos dois anos, a nível mundial, para alertar à comunidade internacional para “a morte lenta” que a África do Sul está a registar devido a atrocidades que ocorrem três décadas depois de Nelson Mandela assumir a liderança da nação arco-íris, onde hoje “milhões de pessoas passam fome diariamente”.
“A situação na África do Sul é dolorosa para milhões. O país enfrenta um alto índice de criminalidade, assassinatos, violência de género, fome, abuso infantil e muito mais. É uma sociedade desigual, onde o governo ainda usa narrativas de caráter raciais para gerar divisões entre as pessoas!”, alerta ao jornal É@GORA Antoneita Correia, porta-voz do “Move One Million” em Portugal, uma iniciativa lançada em julho de 2020, que já atraiu o interesse de meio milhão de sul-africanos a nível global.
No fim de semana, pelo menos 250 pessoas participaram em manifestações nas cidades de Lisboa, Porto, Algarve e Madeira, as primeira de muitas que os imigrantes sul-africanos pretendem realizar para expressar ao governo sul-africano e ao mundo que “não aceitam o status quo de longa data como, crime, pobreza, má gestão de fundos governamentais, falta de empregos, falta de acesso a habitação básica, saúde, educação, segurança e alimentação”.
Em entrevista ao jornal É@GORA sobre esta iniciativa global, a responsável explicou que a equipa internacional do movimento está atualmente em conversações para definir “uma nova data adequada” para os imigrantes irem para a rua novamente protestar contra as condições degradação do país.
“É um plano de 20 meses que antecede o processo eleitoral”, disse sobre o “Move One Million” que em Portugal procura representar o país “independentemente de raça, género ou status“.
“Como cidadãos da República da África do Sul, precisamos garantir que as Eleições Diretas ocorram no futuro para que possamos construir uma África do Sul melhor para o nosso povo prosperar”, esclareceu a porta-voz do “Move One Million”, que utiliza as redes sociais e campanhas no terreno para envolver, educar e capacitar os sul-africanos em todas as comunidades a participar nessa luta.
No passado sábado, as quatro regiões portuguesas assistiram a uma marcha lenta pelas ruas ou pelos ajuntamentos nas ruas, com objetivo de motivar pelo menos um milhão de sul-africanos, local e internacionalmente a unir-se num protesto pacifico.
“Na África do Sul, outra manifestação em massa está agendada para 24 de outubro de 2020”, adiantou Antoneita Correia ao jornal É@GORA sobre o movimento fundado por Jarette Petzer e Joanita Van Wyk, que também estão a trabalhar numa campanha de massa por eleições diretas naquele país.
Mote
“A equipe do Move One Million acredita que isso estabelecerá precedência para as gerações futuras, fornecendo um processo legal que dará mais poder ao povo da África do Sul para ‘eleger ou demitir’ aqueles que os representam no governo. Isso está em contraste com a atual legislatura, que prevê eleições indiretas, nas quais os cidadãos votam num partido e o comité selecionado de cada partido escolhe quem eles desejam apresentar como MP (deputado à Assembleia da República) ou MPL (deputado provincial) para representar seu partido no governo nacional ou provincial, respetivamente”, justificam.
Face a isso, os promotores desta campanha internacional dizem que “procuram capacitar os cidadãos da África do Sul a permanecer unidos para garantir que todas as mudanças relevantes sejam feitas na Lei Eleitoral dentro do prazo de 24 meses emitido pelo tribunal”.
À pergunta se os organizadores acham que a África do Sul que Nelson Mandela e Desmond Tutu sonharam está a ser destruída, o membro da comunidade sul-africana em Portugal responde afirmativamente: “Sim!”, aliás, lembra “uma citação de Desmond Tutu afirma: ´Se você é neutro em situações de injustiça, você escolheu o lado do opressor`”.
Segundo a porta-voz do “Move One Million”, o ex-presidente sul-africano “Nelson Mandela representou uma nação arco-íris de justiça e igualdade para todos. Então, depois de quase três décadas de Mandela assumir a liderança da nação arco-íris, o sonho que ele tinha para nossa nação é uma morte lenta devido às atrocidades”.
“As leis draconianas implementadas sob a Lei Nacional de Desastres, entre março e agosto de 2020, resultaram num aumento de dois milhões de cidadãos a passar fome, elevando o número para 15 milhões de pessoas. Também dizimou mais a economia do país, rebaixado para o status de lixo total no início do bloqueio”.
E mais: “De acordo com os relatórios trimestrais recentes, emitidos pela Stats SA, o primeiro trimestre de 2020 resultou nas seguintes perdas de empregos: 17.000 na indústria de comércio, 14.000 na indústria de construção, 2.000 na indústria de transformação, entre outros, e uma redução total de R46. 7 bilhões (2,4 mil milhões de euros) de rendimentos brutos pagos. O transporte terrestre de mercadorias diminuiu 20% em junho de 2020 em comparação com junho de 2019. O setor de mineração caiu 28,2% em relação ao ano anterior em junho de 2020”, apontam.
Por isso, agora, o que mais aflige a diáspora sul-africana perante toda a situação que se está a assistir na África do Sul são “os milhões de pessoas que passam fome diariamente”.
“É desumano”, conclui. (MM)