Há “falta de interesse a nível político” para resolver problemas sociais nos bairros pro-imigrantes

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Bairro da Jamaica, Margem Sul

O antigo presidente do Sindicato dos Profissionais de Polícia António Ramos considera que, em Portugal, há “falta de interesse a nível político” para resolver os problemas sociais dos bairros onde reside maioritariamente imigrantes, e prevalece um “clima de falta de confiança”.

“A nível político não há qualquer interesse, só ficam preocupados quando rebentam as bombas nesses locais”, disse António Ramos numa entrevia ao “jornal I”, dias depois de pelo menos cinco mil de agentes da PSP, do denominado Movimento Zero, anunciarem que “só em situações de extrema gravidade” é que vão fazer patrulhamento nos considerados bairros problemáticos de Lisboa.

Para o antigo responsável do Sindicato português dos Profissionais de Polícia, “um dos problemas mais graves é o problema de integração destes jovens no mercado de trabalho: eles têm uma entrevista de trabalho e ao dizerem que são do bairro tal, têm o rótulo e são logo excluídos dessas entrevistas”.

Por isso, António Ramos considera que “tem de haver uma intervenção do centro de emprego, do centro de formação profissional, da segurança social, do Estado” dos jovens dessas zonas, porque a situação dos bairros tem “o efeito bola de neve que começa, por exemplo, nos problemas de inclusão dos jovens dos bairros”, e “para quem (pretende) encontrar um emprego não é tarefa fácil”.

Nos últimos anos, a atuação da polícia portuguesa tem sido questionada, nomeadamente, por organizações de apoio às populações imigrantes e das minorias étnicas, como o SOS Racismo e várias outras entidades, nacionais e internacionais, que acusam alguns sindicatos da polícia de preconceitos raciais e de alegadamente “extravasarem as suas funções e competências” ao integrarem “elementos violentos e de extrema-direita nas forças de segurança”.

Apesar de o antigo presidente do Sindicato dos Profissionais de Polícia (SPP-PSP) reconhecer que “os comandos hoje não estão sensibilizados para isto”, afirma que o problema não está nos agentes, mas sim na sociedade, nos preconceitos sociais e na falta de sensibilidade dos comandos da PSP, escreve o “jornal I”.

“O que falta nos bairros é o clima de confiança”, diz o sindicalista já na reforma, apontando outros dois problemas para a situação que se assiste nos bairros periféricos de Lisboa, onde vivem, sobretudo, comunidades racializadas.

“Os problemas que acontecem nos bairros são problemas que não têm nada a ver com a polícia, são problemas sociais, são problemas que tem de ser o poder local e o poder nacional a resolver”, garantiu António Ramo.

E exemplificou: entre 2002 e 2012, a estrutura sindical levou a cabo algumas atividades através da criação de um gabinete de mediação que, mais tarde, descontinuou, por não ter havido uma forte aposta da parte do Ministério da Administração Interna, então dirigido por António Costa – o atual Primeiro-ministro – para que estes gabinetes vingassem.

António Ramos sublinhou que a falta de financiamento condicionou, por exemplo, a tentativa de criar observatório comum à Área Metropolitana de Lisboa.

Recentemente, oito polícias foram condenados por sequestro e agressões a moradores da Cova da Moura, no Concelho de Amadora, e um grupo de agentes entrou em rixas com residentes no bairro da Jamaica, em Seixal, arredores de Lisboa.

Posteriormente, o ex vice-presidente da Associação Sindical dos Profissionais da PSP, Manuel Morais, denunciou o que considerou ser a existência de racismo na PSP.

Sobre esse e outros casos, o sindicalista António Ramos defendeu ao “jornal I” a necessidade de se ter uma polícia de proximidade e de mediação que ajude a integrar as comunidades residentes nos bairros habitados maioritariamente por imigrantes. (X)

 

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