“Há ONG pro-Putin a receber apoios dos portugueses para a Ucrânia” – presidente da associação Ucraniana

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Numa carta enviada às autoridades portuguesas Pavlo Sadokha diz que alguns russos "estão infiltrados" no Alto Comissariado das Migrações (ACM).

Manuel Matola

O Presidente da associação Ucraniana, Pavlo Sadokha, denunciou hoje a existência de associações russas que alegadamente estarão a receber ajuda de portugueses em nome de ucranianos quando sempre se identificaram com Putin e as políticas do governo da Rússia em prejuízo dos imigrantes ucranianos em Portugal. Numa carta enviada às autoridades portuguesas, Pavlo Sadokha diz que “alguns estão infiltrados” no Alto Comissariado das Migrações (ACM). O Jornal É@GORA publica a carta na íntegra:

Secretária-geral do Sistema de Informações da República
EXMA. SENHORA EMBAIXADORA GRAÇA MIRA GOMES
Excelência,

Venho em nome pessoal e da Associação apresentar a Vossa Excelência os melhores cumprimentos aproveitando a oportunidade para alertar para uma situação muito grave sobre a segurança dos ucranianos refugiados de guerra que vão chegando a Portugal, a segurança dos familiares deles na Ucrânia e a segurança da Ucrânia em tempos de invasão russa.

Como Vossa Excelência deve saber, o governo da Federação Russa planeava a invasão militar do território ucraniano já antes de 2014. Para isso, através das suas redes internacionais da propaganda e desinformação (Agência Rossotrudnichestvo, fundação Russki Mir etc.) foram em Portugal (e nos outros países) criados ONG, que apesar de serem multiculturais nos seus estatutos, na realidade e estão diretamente ligados à Embaixada da Federação Rússia. Sobre esta questão tomámos a iniciativa de submeter um dossier o mais completo possível sobre as organizações e os seus agentes de influência da embaixada russa em Portugal.

O principal papel político destas organizações e destes agentes de influência russos infiltrados em Portugal é o de influenciar a comunidade ucraniana, desinformar a sociedade portuguesa e ocidental sobre a história da Ucrânia, da realidade social e política na Ucrânia, convencer os países ocidentais, que o território da Ucrânia sempre pertenceu à Rússia e que o povo ucraniano é tão só uma parte integrante e étnica dentro da nação russa.

Algumas messes antes de invasão russa direta (24 fevereiro de 2022) ao território ucraniano estas organizações de repente limparam toda informação que mostrava ligação com a embaixada da Rússia em Portugal e nas suas páginas web e redes sociais.

Pavlo Sadokha, presidente da associação Ucraniana em Portugal. FOTO: Global Imagens
O agravante desta situação é que estas organizações em Portugal são reconhecidas pelo Alto Comissariado dos Migrações (ACM).

A Associação dos Ucranianos em Portugal e a Embaixada da Ucrânia em Portugal por várias vezes alertaram o ACM e os respetivos Secretários de Estado da tutela sobre o inaceitável facto da comunidade ucraniana em Portugal estar representada pelas associações que fazem parte das instituições de propaganda russa.

Nos estatutos destas organizações pró-russas em Portugal não está definido nem claro que sejam ucranianas. Infelizmente, todas os alertas ficaram sem efeito. Além disso, isso também implica a questão que através do ACM estas organizações podem recebem apoio do Estado português para depois ser usado para fins e eventos de propaganda pró-russa. Quando alertámos para estas situações nunca recebemos a resposta mais uma vez.

Hoje, estamos a receber inúmeros alertas da comunidade ucraniana em Portugal que estas organizações de repente mudaram, aparentemente apenas, de cor política e começarem a receber apoios dos portugueses para a Ucrânia. Os Ucranianos em Portugal estão a perguntar: Os que sempre eram pro-Putin, que falaram mal da nossa pátria, agora estão a receber apoios, que tem como destino a Ucrânia?

O que é mais grave nesta situação, é que o ACM oficialmente reconhece estas associações como ucranianas. O órgão que representa o Estado português no combate contra a discriminação na realidade tenta esconder a discriminação real por parte dos russos aos ucranianos em Portugal.

Por fim, pelo facto do ACM recomendar aos refugiados ucranianos para procurar o apoio das ONG que estão diretamente ligadas à Embaixada da Rússia em Lisboa significa na realidade os ucranianos em fuga da agressão russa na Ucrânia, nomeadamente em Portugal, vão continuar a ser alvos de agentes russos, que vão conseguir mais facilmente ficar com dados pessoais dos refugiados cujos familiares ficaram na Ucrânia, nomeadamente aceder às posições militares ucranianas através dos contactos dos respetivos cônjuges que continuam a fazer a defesa militar da Ucrânia.

Depois de uma reportagem no RR sobre o problema ACM retirou da pagina SOS Ucrânia a informação sobre ONG que dão apoio aos refugiados ucranianos, mas continua reconhecer estes organizações como ucranianos.

Por isso, pedimos muita atenção para esta situação de modo a proteger os refugiados ucranianos em Portugal e a segurança dos seus familiares de momento na Ucrânia.

Antecipadamente grato pela atenção dispensada por Vossa Excelência e prevaleço-me da oportunidade para apresentar os protestos da mais elevada consideração e estima.

Com as mais cordiais saudações,

Presidente da Associação dos Ucranianos em Portugal,
Pavlo Sadokha

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