(Licenciado em Negócios Internacionais)
A guerra, que mudará o século XXI, está a causar destruição em cidades ímpares como Kharkiv, Donetsk, Lugansk, Kherson e Mariupol, dando origem a uma imigração a grande escala de mulheres e crianças ucranianas para os estados-membros da União Europeia.
Estados-membros como Polónia, Hungria, Roménia e Eslováquia foram, e ainda são, a porta de entrada para muitos ucranianos deixando muitos familiares e amigos para trás devido à implementação da Lei Marcial imposta por Volodymyr Zelensky que passa por manter homens de nacionalidade ucraniana com idade entre os 18 e os 60 anos em território do Tryzub (tridente ucraniano e símbolo do país) para proteger e combater contra o exército russo.
Portugal foi um dos países pertencentes à União Europeia que acolheu refugiados ucranianos para sua proteção, dando oportunidades profissionais em vários setores de carácter primário da nossa economia e, além de ser bastante vantajoso para os refugiados estarem em Portugal devido a vários fatores como a vida profissional, o clima pois é muito diferente face ao clima ucraniano, poderá ser também vantajoso para a nossa economia que tenta recuperar face às perdas que houve num período de pandemia.
Primeiramente, antes de explicar o porquê de poder ser vantajoso o facto de que os ucranianos estarem presentes no nosso país, darei uma introdução sobre as relações comerciais que Portugal e Ucrânia possuíam antes de originar o conflito russo-ucraniano, como também, analisar dados estatísticos relativos à exportação proveniente da Ucrânia.
Economia ucraniana: um monstro adormecido no mundo atual
É uma economia emergente com o PIB per capita mais baixo da zona leste do velho continente e conta com uma população de 42 milhões de habitantes e uma força laboral técnica.
A economia ucraniana assenta, sobretudo, na capacidade exportadora dos setores dos cereais e de produtos indústriais como é o caso do ferro e minerais, pese embora o conflito na região do Donbass, onde se situam três cidades muito importantes do país, Donetsk, Mariupol e Lugansk, onde se tem devastado a maior parte da produção industrial da Ucrânia.
A prioridade do país, desde o mítico 24 de fevereiro de 2022, centra-se no esforço e gestão da proteção da sua população, do seu património e da sua identidade como nação, acrescentando também a gestão da crise humanitária que se vive na Ucrânia e o BCU (Banco Central Ucraniano) definiu como o seu principal objetivo assegurar a estabilidade da banca com a inclusão da imposição do controlo de capitais.
Em 2019, houve um crescimento acentuado de 3,2% impulsionado pelo aumento da procura dos consumidores internos, ou seja, os ucranianos decidiram apostar nesse mesmo ano, consumir produtos nacionais “made in Ukraine” e, em 2020, a economia ucraniana sentiu os efeitos provocados pela Pandemia da Covid-19 registando uma contração de 4% que, consequentemente no ano a seguir como em todas as economias mundiais e com a reabertura de alguns mercados e setores, uma retoma de 3,2%, em 2021.
De acordo com as previsões do Economist Intelligence Unit (EIU), em 2022, a Ucrânia irá mergulhar na maior recessão desde a separação com a ex-URSS e a sua independência, em 1991, ao registar uma contração ou recessão próxima de 46,5% devido à invasão russa no país.
De acordo com as previsões do Economist Intelligence Unit (EIU), em 2022, a Ucrânia irá mergulhar na maior recessão desde a separação com a ex-URSS e a sua independência, em 1991, ao registar uma contração ou recessão próxima de 46,5% devido à invasão russa no país.
Num cenário de paz, e em termos de oportunidades de negócio, a Ucrânia poderá revelar-se como um mercado interessante para projetos agrícolas e infraestruturas, dando origem a um aumento do Investimento Direto Estrangeiro porque, antes do início do conflito, o país era um dos líderes mundiais na exportação de produtos indústriais como o ferro e aço, e de cereais.
Relação comercial entre Portugal e Ucrânia: uma oportunidade?
Tendo em conta que Portugal irá e, neste momento, está a sofrer uma degradação neste ponto face à impossibilidade de comunicação entre as empresas dos dois países, Portugal pode ter uma oportunidade de se desenvolver em outros setores para exportação na sua economia.
Lembramos do que referi no ponto anterior sobre os setores em que a Ucrânia era um dos líderes mundiais, em 2017, que ainda se encontrava sob a presidência pró-europeia de Petro Poroshenko, e Portugal com o clima que possuí e é vantajoso para a atividade económica primária como já o é, no setor vinícola, por exemplo.~
Portugal possui um clima favorável para a produção de trigo, cevada e outros produtos agrícolas e, surgindo a vinda de refugiados ucranianos para o nosso país, podemos ter uma oportunidade de não só melhorar o setor da agricultura como também recuperar mais rapidamente as perdas significativas no período que foi a pandemia da SARS-COV-2, aprendendo com um dos melhores neste setor, os ucranianos.
Em 2019, sob presidência de Volodymyr Zelensky, as relações bilaterais entre Portugal e a Ucrânia melhoraram de forma significativa devido ao acordo e respetivo aumento do Investimento Direto Estrangeiro nos dois países, dando origem a uma situação em que ambas as nações realizassem transações internacionais (importação e exportação) entre si e, desta forma consequente, diplomaticamente, as relações neste âmbito também melhorassem entre Portugal e Ucrânia.
Portugal pode vir a ganhar com a presença de refugiados ucranianos no nosso país porque, tendo em conta que a Ucrânia tem conhecimento e mão-de-obra no setor dos cereais e produtos industriais, pode ver a sua quota de mercado nestes setores a aumentar devido a esse fator, dando origem a um aumento de exportações no setor, tentando igualar os números deste processo do setor vinícola e da cortiça, fazendo com que a dependência da nossa economia no setor turismo não seja tão significativo como foi em anos anteriores, principalmente em tempos de pré-pandemia. (JM)