Manuel Matola
A ideia de 11 imigrantes cabo-verdianos profissionais de saúde em adquirir uma arca ultra-congeladora (a menos de 80 graus) para ajudar Cabo Verde a preservar rapidamente amostras biológicas e alargar a capacidade de diagnóstico do novo coronavírus no país resultou na criação de uma inesperada instituição que, logo à nascença, definiu um âmbito global de atuação: A Associação de Saúde e Solidariedade da Diáspora Cabo-Verdiana.
A agremiação, a primeira do género criada por imigrantes cabo-verdianos congrega médicos de várias especialidades, advogados, professores e deputados, mas a filiação à associação é alargada a pessoas de outras áreas profissionais, segundo referem os estatutos a que o jornal É@GORA teve acesso.
“A Associação é constituída por profissionais de saúde mas não exclusivamente por estes”, lê-se no documento que assinala o âmbito de atuação assente na perspetiva de solidariedade destes profissionais de origem cabo-verdiana, que há anos residem em Portugal.
Segundo dizem os profissionais, a ideia, de trabalhar de Portugal para o mundo, visa continuar a dar o contributo, tanto para o país de acolhimento como para o país de origem, “mas de forma mais organizada, canalizando sinergias de forma a colmatar necessidades sentidas de diversa ordem”.
Quando em junho a equipa destes profissionais de saúde lançaram a campanha denominada “Diáspora solidária na luta contra a Covid-19 em Cabo Verde”, a iniciativa tinha somente um e único propósito: angariar, em apenas sete dias, um fundo de quase nove dos 12 mil euros necessários para a compra e envio para o Arquipélago da arca ultra-congeladora para oferecer ao Instituto Nacional de Saúde Pública de Cabo Verde.
Mas a máquina moderna ainda deverá ser oferecida às autoridades sanitárias cabo-verdianas, porque “a referida arca” ainda “se encontra em processo de aquisição e será enviada com o apoio da embaixada de Cabo Verde em Portugal”, dizem os proponentes da iniciativa em nota enviada ao jornal É@GORA.
Anteriormente, a coordenadora do grupo de profissionais da diáspora cabo-verdiana e agora presidente da Associação, Andredina Cardoso, revelou ao Jornal É@GORA as razões da campanha.
No Arquipélago cabo-verdiano “só existe um aparelho do género”, disse Andredina Cardoso justificando a promoção da campanha que resultou de “uma carência manifestada pelos profissionais de saúde de Cabo Verde”.
Por isso que “imbuídos de um espírito de responsabilidade e solidariedade”, a equipa de profissionais cabo-verdianos residentes no território português pretendia “ajudar Cabo Verde a reforçar os seus meios de diagnóstico com vista à contenção da referida doença”, esclareceu, de seguida, o grupo em comunicado enviado ao Jornal É@GORA.
Hoje, os 11 imigrantes têm uma visão mais alargada, pois, segundo dizem os estatutos, “a Associação poderá coordenar e desenvolver plataformas, nacionais e internacionais, de saúde e de solidariedade social”, pelo que adotou como objeto social duas áreas: “a Educação e investigação para a Promoção da Saúde, Prevenção e Tratamento da Doença”, bem como “a Promoção dos direitos dos migrantes e dos seus descendentes para a integração social, apoio à família, formação e valorização profissional e defesa da habitação digna”.
Propondo-se a intervir em duas áreas principais – Saúde e Área Social – a mais de uma dezena de profissionais cabo-verdianos pretendem agora abraçar estratégias que ajudem a prestar cuidados no domínio da saúde em Cabo Verde e na diáspora.
Falando no ato de tomada de posse dos órgãos sociais, que decorreu na última semana, quarta-feira dia 18 de novembro, no Centro Cultural cabo-verdiano, o embaixador de Cabo Verde em Lisboa, Eurico Monteiro, assinalou a importância da criação da inesperada agremiação.
“É uma associação que se dedica a uma matéria tão importante” e que “trata de um tema que é muito caro a Cabo Verde: a saúde”, disse Eurico Monteiro, destacando a relevância de uma equipa de profissionais em Portugal “não só por razões de caráter geral, mas também por razões muito particulares” de Cabo Verde – ter “uma comunidade significativa de doentes evacuados” para tratamento em hospitais portugueses. (MM)