Manuel Matola
A Immpower, o mais novo acelerador de empreendedorismo em Portugal, vai realizar esta terça-feira uma formação gratuita aos migrantes e refugiados que queiram iniciar seus próprios negócios no território português.
A formação realiza-se no dia 19 de setembro, das 18:30 às 20:00, na sala 117 do colégio Almada Negreiros, 1º andar, campus de Campolide da Universidade Nova de Lisboa, indica a organização.
Além de ajudar a ultrapassar algumas barreiras no início do processo de empreendedorismo, a iniciativa vai permitir escalar o negócio, pois visa “capacitar o futuro” e “transformar as comunidades” migrantes em Portugal, onde a taxa de imigrantes empreendedores no espaço europeu aumentou “de forma expressiva” nos últimos dez anos, contra o decréscimo do número dos que trabalham por conta própria decresceu no mesmo período, segundo dados do EUROSTAT resultante de vários inquéritos ao emprego realizados nos 27 países da União Europeia.
Está é “uma oportunidade muito interessante para migrantes e refugiados em Portugal receberem formação e apoio grátis para iniciarem os seus próprios negócios em Portugal”, lê-se numa nota da Immpower enviada ao jornal É@GORA sobre a formação co-organizada pelo ICNOVA (Instituto da Comunicação da NOVA) e o Africano European Narratives.
A formação vai permitir que os empreendedores consigam fazer o seu trabalho em rede, o que dará uma vantagem competitiva para quem pretende iniciar um novo negócio.
Portugal lançou, nos últimos dez anos, mais de 200 projetos de negócios para empreendedores imigrantes, sendo que 80% destes investidores estrangeiros conseguiram manter as suas iniciativas empresariais em funcionamento nos primeiros dois anos no mercado, que são normalmente os mais críticos.
Segundo dados divulgados em 2020 pelo Alto Comissariado para as Migrações (ACM), “este é um valor muito superior ao que globalmente se verifica em Portugal para o mesmo período, onde se regista uma sobrevivência de apenas 50%” para qualquer empreendimento, especialmente, os que têm sido lançados no território português.
Um estudo do Observatório das Migrações, coordenado pela socióloga portuguesa Catarina Reis de Oliveira e produzido com base nos dados da autoridade estatística da União Europeia diz que, “globalmente, no conjunto dos países da União Europeia (UE), o trabalho por conta própria aumentou de forma expressiva entre os nascidos no estrangeiro, quando decresceu para os nativos”.
“Na maioria dos países da União Europeia (27 estados membros da comunidade), a percentagem de nascidos no estrangeiro aumentou no universo de trabalhadores por conta própria ao longo da última década, embora a sua importância relativa tenha variado bastante entre Estados-membros: em 2018 os nascidos no estrangeiro representaram entre 0,9% na Polónia e 59,2% no Luxemburgo (em Portugal representavam 10,1%) no total de trabalho por conta própria”, resume Catarina Reis de Oliveira numa pesquisa que explica o que é taxa de empreendedorismo: o número de trabalhadores por conta própria por cada 100 ativos.
A esse propósito, a Secretária de Estado para a Cidadania e a Igualdade que comenta o estudo, aponta as mudanças operadas no decurso da última década e meia em Portugal: “assistiu ao reforço de imigrantes no peso de empregadores/ as (+15%), apresentando uma evolução contracorrente ao verificado entre nacionais (-7%), sendo de salientar ainda o período da crise económica e financeira, altura em que, ainda assim, continuaram a gerar emprego”.
“Esta é, aliás, uma tendência que os últimos Censos já revelavam relativamente às últimas quatro décadas em Portugal (1981-2011), onde estrangeiros residentes apresentaram sempre maior número de empregadores/as por total de ativos que os nacionais”, prossegue a governante.
Para o então Alto Comissário para as Migrações, Pedro Calado, essas taxas de empreendedorismo em que os imigrantes apresentam resultados superiores aos cidadãos nacionais estão assentes numa base: “a ideia de ´empreendedor` está amplamente associada à capacidade de agir, de inovar, correr riscos, de ser dinâmico e capaz de tornar uma simples visão numa realidade tangível”.
Mas as políticas adotadas pelas autoridades portuguesas, nomeadamente o “quadro político e legal” que tem vindo a alterar-se ao longo dos anos, também fazem parte das razões apontadas por Pedro Calado para compreender as motivações que encorajam os imigrantes a pautar por trabalhos por conta própria.
“Um pouco por todo o país é visível que os imigrantes têm revitalizado ruas comerciais, criado emprego e trazido novos produtos. Desempenham, portanto, um papel muito importante na economia e na sociedade portuguesas”, afirma Pedro Calado no preâmbulo do estudo publicado pelo Observatório das Migrações, entidade sob alçada do Alto Comissariado para as Migrações. (MM)