Manuel Matola e Cris Dias
Aos 18 anos, a peregrina moçambicana Marta Luís contou ao Papa Francisco como é que a “fé em Jesus” a ajudou a contornar o terror que viveu em Cabo Delgado, no norte de Moçambique, onde milhares de famílias são vítimas diárias do terrorismo islâmico.
Um testemunho dado a conhecer a cerca de 1,5 milhão de pessoas do mundo inteiro que participaram hoje na Vigília com o Papa Francisco, no penúltimo dia da Jornada Mundial da Juventude em Lisboa.
Antes da chegada dos terroristas naquela região moçambicana da província de Cabo Delgado, Marta “era acólito e participava na vida da [sua] paróquia” onde se preparava para ser crismada, disse.
“Na região norte onde morávamos, ouvia falar de ataques terroristas que acontecia nas outras localidades perto do nosso distrito, mas não imaginava que também iríamos ser atacados”.
Foi no dia 07 de abril de 2021 que tudo mudou na vida de Marta.
Logo “pela manhã, os terroristas atacaram a nossa aldeia. Fugimos com toda a família para o mato. Ficamos quatro dias escondidos”, contou Marta, destacando os episódios inesperados de um vida de medo, fé e milagre.
“Quando soubemos que os terroristas tinham saído voltamos para casa” [onde] “passávamos o dia” mas “à noite, com medo, voltávamos a dormir no mato. Rezávamos muito, pedindo a Deus que nos livrassemos de todo o mal e para que o Senhor nos desse força para superarmos aquele momento de dificuldade. Não dormíamos a noite toda. Ficávamos a rezar Ave-Maria e o Pai Nosso para que não acontecesse o pior na casa das pessoas”,.afirmou.
Até então nada de mal aconteceu. Seis meses depois, um milagre.
“Depois do ataque do mês de abril continuamos a nossa vida na aldeia. Mas no dia 31 de outubro de 2021, os terroristas voltaram a atacar novamente. Este ataque foi muito grande. Fugimos de novo para o mato. Caminhamos muito sem saber o que fazer. Não tínhamos comida nem água. Passámos muita fome. Os terrorista encontraram-nos no mato e deram tiro para cima” [ou seja, para o ar]. Não fizeram nada com a nossa família”, relatou.
Era o modus operandi dos grupos jihadistas no início do conflito, segundo diz o académico Nuno Rogeiro, no seu livro “Cabo do Medo – O Daesh em Moçambique (Junho 2019-2020)”:
“os ataques às aldeias costuma[vá]m ter o mesmo plano: tiros para o ar e gritos de intimidação, para detectar quaisquer
defesas, e depois movimentos de ângulos inesperados. Os assaltos acontecem geralmente à noite, mas alguns surgem também de surpresa em plena luz do dia. Nalguns casos, apesar de os terroristas possuírem armas de fogo, usam facas e catanas, aparentemente para adensar o aspecto melodramático do ataque, e para não alertarem unidades policiais ou militares próximas”.
Mas Marta confessou ao Papa Francisco o desconforto que viveu.
“Sentimos muito medo e saímos correndo”, disse.
Apesar de o Papa não comentar diretamente as palavras de Marta, o líder da Igreja Católica falou da necessidade de na vida se seguir em frente perante as adversidades.
“Na vida para alcançar as coisas temos que continuar o caminho”, disse o Papa Francisco.
Foi o exercício de migrar que salvou a família de Marta ao se mudar para casa de familiares na província de Nampula, também no norte de Moçambique.
“Com muitas dificuldades conseguimos chegar a província de Nampula onde fomos acolhidos por alguns familiares. Quando estávamos no mato rezávamos muito. Em nenhum momento perdemos a nossa fé”.
Foi a fé que Marta que ajudou a criar uma maior aproximação com Deus.
Diariamente, “pedi a Deus que nos ajudasse e tirasse toda a maldade do mundo e que as pessoas que estavam a provocar essa guerra mudassem de vida”, disse a peregrina moçambicana assegurando.
“Mas em meio ao nosso sofrimento nunca perdemos a fé [e] a esperança de que um dia vamos reconstruir as nossas vidas”.
No penúltimo dia da visita do líder da Igreja Católica a Portugal, Lisboa, a capital portuguesa, vestiu-se de juventude para um encontro unico com Deus através do representante de Pedro, o Papa Francisco.
Foram aos milhares o mar de juventude dos guerreiros que em nome do Senhor se juntaram em prol do Amor para participar na Jornada Mundial da Juventude, orientada pelo Sumo Pontifice da Igreja
catolica romana apostólica.
Foi um encontro recheado de cânticos entoados pelos próprio grupos, onde a música dos grupos e do coro e da orquestra da Juventude2023 ecoaram o amor e paz a partir do palco gigantesco montado para os receber no Parque Tejo.
A Jornada Mundial da Juventude é um encontro onde jovens de todo o mundo se juntam para contribuir com um traço da sua cultura e da sua fé em Deus para se construir um mundo mais justo e solidário.
Com temperaturas de quase 40 graus, os milhares de jovens se juntaram as margens do Tejo para ouvirem o maior representante da Igreja de Cristo e para mostrar ao mundo que a igreja de Cristo se mantêm viva. (MM e CD)