Lisboa terá Memorial da Escravatura que explicará relação histórica de Portugal com tráfico de pessoas

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O reflexo do comércio negreiro na História Universal

A cidade de Lisboa terá um Memorial da Escravatura, empreendimento que ajudará a fazer contextualização histórica do tráfico de seis milhões de escravos no Império português e perceber a influência afrodescendente na atual cultura portuguesa, fruto da imigração forçada.

Embora Lagos tenha sido a região portuguesa pioneira a receber o primeiro grupo de escravos africanos que desembarcou em Portugal em 1444, a capital portuguesa, Lisboa, conquistou, a partir de 1512, o estatuto de maior entreposto mundial de comércio negreiro e, por decisão de D. Manuel I, deteve o monopólio do tráfico de escravos no então império.

O Memorial da Escravatura, que se localizará no Largo José Saramago, junto ao Campo das Cebolas foi proposto em 2017 pela Associação de Afrodescendentes (Djass), no âmbito do Orçamento Participativo, uma iniciativa da Câmara de Lisboa que elege e financia projetos apresentados pelos munícipes.

Nesta quarta-feura, a Câmara Municipal de Lisboa aprovou, por unanimidade, a criação do Memorial da Escravatura e de um centro interpretativo junto ao Campo das Cebolas, justificando com “a inexistência, em Lisboa, de qualquer monumento ou equipamento que evoque especificamente a relação histórica de Portugal com a escravatura e o tráfico de pessoas escravizadas”

O Memorial da Escravatura junto ao Campo das Cebolas “é uma carência da cidade que deverá ser reparada”, lê-se na proposta assinada pela vereadora da Cultura, Catarina Vaz Pinto, que representa o Partido Socialista na Câmara Municipal de Lisboa.

Por isso, indica o documento apresentado pela vereadora socialista, “pretende-se que (o empreendimento) recorra a uma linguagem artística contemporânea, conceptual e simbólica capaz de assegurar uma presença urbana e de representar a escravatura de uma forma ampla, incluindo as dimensões da memória, da resistência e dos legados e continuidades históricas, estabelecendo a ligação entre passado e presente, dotada de uma natureza interativa e participativa, que interpele e convoque à reunião, à espiritualidade, ao luto, mas também à celebração”.

A decisão sobre o local onde será instalado o memorial foi tomada em reunião pública realizada esta quarta-feira no município da capital portuguesa, que analisou os contornos da execução de um projeto que está avaliado em 150 mil euros.

Anteriormente, a presidente da Djass, Beatriz Gomes Dias, justificou a instalação do memorial junto ao Campo das Cebolas, que se situa numa das zonas mais históricas de Lisboa, entre a Avenida Infante Dom Henrique e o bairro de Alfama, com o facto de “ser uma localização simbólica”, pois à época “foi muito marcada pela chegada de embarcações carregadas de escravos” a Lisboa.

“Consensualizámos essa localização porque também está no centro da cidade, mas acima de tudo porque o local mantém uma ligação ao tráfico das pessoas escravizadas”, disse a responsável pela Associação de Afrodescendentes citada pelo jornal Público.

Beatriz Gomes Dias assinalou que “esse equipamento vai permitir partir do processo de escravização para compreender o racismo contemporâneo. Contar histórias de afrodescendentes na contemporaneidade, várias formas de resistência, de afirmação de subjetividade e de influência na cultura atual”.

A Associação de Afrodescendentes pretende que este monumento seja o início de construção de um equipamento de maior alcance que possa convergir num Museu da Escravatura, um projeto que, de resto, irá auxiliar na desconstrução da narrativa sobre o processo colonial português, especialmente, em África. (X)

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