Lorena criou um “Guia do Emprego em Portugal” e “Currículo Magnético”, hoje 200 imigrantes já têm trabalho

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Lorena Almeida, criadora do Modelo de “Currículo Magnético”

Manuel Matola

A brasileira Lorena Almeida chegou a Portugal quando tinha apenas 17 anos, era ainda “uma menina que não conhecia nada do mundo”. Através de uma formação gratuita ministrada pelo Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP), há mais de uma década, obteve certificação em Administração com especialização em Recursos Humanos. Nos 14 anos seguintes, enquanto técnica de recrutamento em diversos ramos de atividade, fez de tudo um pouco e colheu uma vasta experiência sobre o processo de contratação de trabalhadores. Numas férias em dezembro último no Brasil foi confrontada por brasileiros que pretendem emigrar com várias perguntas sobre o que na verdade as empresas portuguesas exigem no processo de seleção de candidatos. Aos 30 anos, Lorena Almeida teve como que um despertar do seu potencial. “Entendi que [afinal] eu era uma expert sobre [a realidade do] mercado do trabalho português e decidi ajudar outras pessoas”. De regresso a Lisboa, em janeiro passado, começou a produzir um “Guia do Emprego em Portugal” e desenvolveu o que chamou de “Currículo Magnético”, um modelo de currículos exclusivos que ajuda, sobretudo, os imigrantes a se destacarem no mercado laboral português. “Foi um sucesso”, pois, “desde janeiro que eu comecei, tenho cerca de 200 pessoas que foram empregadas”, assegura em entrevista ao jornal É@GORA. Acompanhe:

O que motivou à produção deste Guia do Emprego para imigrantes em Portugal?

Quando cheguei a Portugal, onde vivo há 14 anos, eu tinha 17 anos. Era uma menina que não conhecia nada do mundo. Passei por muitas dificuldades de uma imigrante jovem, brasileira, negra e por situações muito específicas que me tornaram na mulher que sou hoje.

Veio sozinha?

Não. A minha mãe veio seis meses antes e depois viemos eu e as minhas irmãs. Somos três irmãs. Só que basicamente era uma criança: filha caçula, eu não sabia nada da vida. Logo que cheguei a Portugal fui trabalhar. Eu nunca tinha trabalhado na minha vida. Fui trabalhar sem entender nada [especialmente a] forma como os portugueses falam. Digo isso várias vezes: nós os brasileiros achamos que o português é a mesma língua, mas as diferenças são muito grandes. Para nós os brasileiros, no primeiro momento, é muito difícil a compreensão [do que os portugueses dizem]. Portanto, eu já fui trabalhar com 17 anos sem saber como e o que é trabalhar e sem entender a língua. Depois estudei em Portugal, onde, durante três anos, fiz um curso de administração com especialização em Recursos Humanos. Durante os 14 anos sempre fui uma pessoa low-profile. Cheguei a passar um ano sem redes sociais, porque não é o meu estilo [de vida]. A minha vida sempre foi muito privada: sempre fiz as minhas coisas e fui alcançando o meu sucesso sempre guardando tudo para mim. Em dezembro do ano passado eu estive no Brasil e tive [como que] um despertar, pois entendi que eu era uma expert sobre [a realidade do] mercado do trabalho português e decidi ajudar outras pessoas. No início, quando eu decidi partilhar a experiência dos meus conhecimentos foi uma situação natural. Acho até que é comum nas pessoas que se tornam especialistas num assunto, no primeiro momento falarem para a comunidade com a qual se identificam. Eu nem sequer decidi que iria falar apenas aos brasileiros para quem comecei a falar sobre como é o mercado do trabalho. [De início] comecei a publicar informações e naturalmente foram brasileiros os que se identificaram mais comigo. Antes do Guia do Emprego, comecei a prestar um serviço que chamei de “Currículo Magnético”, onde eu desenvolvia currículos exclusivos de acordo com o mercado de trabalho que a pessoa pretendesse, com as experiências e formação de cada pessoa. Esse método de “Currículo Magnético” que eu criei – comecei em janeiro – foi um sucesso. Quando eu tive aquele despertar no Brasil cheguei em Portugal no dia 02 de janeiro e comecei a desenvolver o método. Foi uma coisa muito natural pois eu não tinha um plano. Decidi publicar que eu fazia esse serviço e centenas de pessoas me procuraram. Depois as pessoas comunicaram-me que tinham conseguido arranjar trabalho.

O que tem de especial o “Currículo Magnético” e no que difere do “Currículo Europeu”?

Descobri que tanto o “Currículo Magnético” que eu crie quanto o “Currículo Europeu” são invenções. Não existe um padrão exato que todas as empresas queiram. Eu já fazia currículos para mim e para todos os meus amigos e familiares desde que me lembro que estou em Portugal. E todos os currículos que eu fiz e submeti sempre fui chamada para as entrevistas. E em todas as entrevistas que eu fiz sempre fui contratada. Não estou a querer dizer que seja a melhor. Não. Eu tinha essas estratégias [que uso no “Currículo Magnético”], só que para mim era uma coisa natural. Quando comecei a estudar sobre isso, entendi que as pessoas tinham muitas dificuldades, fosse pela língua, ou outra coisa. A diferença entre um “Currículo Magnético” e um currículo comum já começa pela língua. No Brasil, o formato de um currículo é como se fosse um histórico escolar: uma coisa muito carregada, com informação muito misturada, confusa, quando num “Currículo Magnético” as informações estão estruturadas de uma maneira limpa e clara [constando] apenas informação necessária, usando português de Portugal e, de acordo com o setor de trabalho e as experiências da pessoa, eu vou desenvolvendo aquela informação mais chamativa às empresas.

Quantas páginas tem um “Currículo Magnético”?

O “Currículo Magnético” tem no máximo duas páginas. Eu não vou falar do nome, mas há um site onde as pessoas colocaram [a informação de] que esse é o site para o “Currículo Europeu”. O que eu costumo dizer às pessoas é: claro que você pode fazer o currículo nesse site. Mas, primeiramente, a pessoa que acabou de chegar a Portugal ou está no Brasil não vai saber a linguagem [que é aí usada, pois] é muito diferente. Posso dizer isso porque eu vi muitos currículos não só de brasileiros como também de outras nacionalidades. Como na maioria das empresas em que passei eu já trabalhei nessa parte dos recursos humanos e recrutamento, pessoalmente, sendo brasileira, tenho dificuldades em compreender o que as pessoas querem dizer nos currículos comuns. Começa por aí. A pessoa que vai fazer o currículo naquela plataforma que eu não vou dizer o nome não vai saber muito bem a linguagem [que tem que usar]. Obviamente, a pessoa pode escrever com linguagem brasileira e a outra pessoa [da empresa em Portugal] pode[rá] entender, porque nós sabemos que os portugueses entendem muito mais o português do Brasil do que os brasileiros o português de Portugal.

Em relação ao “Currículo Europeu”, é apenas a linguagem ou há uma sucessão de erros comuns que a Lorena terá identificado nos outros currículos?

Existe a questão de erro na linguagem, mas existe também uma sucessão de erros: essa informação too much [ou seja, excessiva]. E isso existe nessa plataforma que não vou citar o nome. Algumas pessoas enviaram-me currículos de 10 páginas feitos nessa plataforma. Então a pessoa pensa: ´aqui é o modelo europeu e que tudo que fizer está maravilhoso`, mas não é isso: eu até digo que se a pessoa pretende fazer o modelo europeu faz só duas páginas que vai ficar muito melhor. Além desta plataforma mais usada dar essa liberdade que te vai levar a cometer erro ela vai [também] deixar o teu currículo igual aos demais. Como disse, eu já trabalhei nas empresas de recrutamento e sei que as empresas não vão olhar para currículos quando eles são todos iguais. Muitas empresas chegam a receber diariamente centenas de currículos e o primeiro fator a chamar atenção é o visual. Então, quando se tem currículos todos iguaizinhos com o símbolo do tal site [o documento] não vai chamar atenção. Por isso que eu digo que se alguém colocou essa ideia de que esse é o melhor currículo, então faz sozinho que é melhor. Se não tem condições de pagar alguém para fazer para si então faz sozinho.

Como é que sucede a produção do Guia e como ele está estruturado?

Quando eu comecei a oferecer esse serviço notei que [para se ter sucesso numa candidatura, o fator-chave] não podia ser só o currículo. As pessoas tinham muitas dificuldades, no geral. Além da assessoria na produção do currículo ofereço uma consultoria especializada, só que mesmo assim houve pessoas que não compravam porque têm dificuldade, daí que querem fazer tudo sozinhas. Acho muito bem. Foi então que decidi fazer o “Guia de Emprego em Portugal” para ajudar as pessoas que querem fazer as coisas sozinhas. Aí no Guia descrevo como é o mercado de trabalho; qual é a ligação contratual entre a entidade patronal e o empregado; digo como se destacar no mercado de trabalho e como fazer currículo.

E este Guia é virado para que tipo de perfil de trabalhadores ou candidatos?

O Guia foi escrito especialmente para brasileiros – eu uso uma linguagem muito voltada para o Brasil – e principalmente para pessoas brasileiras que já estejam em Portugal. O Guia é também para as pessoas que tenham chegado a Portugal, estão confusas em relação [à estratégia a adotar para se ter sucesso quando concorrem] ao mercado de trabalho tanto operacional quanto ao mercado de trabalho que exige que seja necessário ter uma formação específica. O Guia está bem estruturado para estes dois tipos de profissionais.

A Lorena está cá há mais de uma década e deve ter percebido que há uma mudança no perfil dos imigrantes brasileiros em Portugal nos últimos tempos: antes, maioritariamente, eram pessoas menos formadas e hoje são pessoas com qualificações acima da média: com ensino superior. Este Guia está a virado para essas pessoas ou para quaisquer brasileiros?

Da forma como está estruturado ele vai servir tanto para pessoas com menos formação, que procuram um trabalho mais operacional e também para pessoas que têm mais formação e que chegaram agora, estão um pouco mais confusas. A linguagem está bem universal para estes dois tipos de pessoas. Eu não quis diferenciar. Tenho uma equipa que me está a ajudar na produção do material. No início foi-me sugerido isso: que eu precisava escrever para um ou para outro grupo, mas eu não quis. Fiz de forma a que esses dois públicos consigam captar. Mas a verdade é que – não queria dizer isso desse jeito para não ser desagradável – as pessoas que têm uma formação/profissão especializada têm mais facilidade de compreensão. Isso é um facto. E as pessoas menos favorecidas financeiramente, as que vêm sem planeamento, sem dinheiro e muitas vezes sem visto de trabalho [normalmente] não têm muita paciência. Não querem ler, querem emprego para ontem.

O Guia está em forma de livro. Qual é o número de páginas que tem e como é que se isso se traduz naquilo que é a quantidade de informações necessárias para as pessoas saberem?

O Guia de informação direta tem 18 páginas.

O que isso reflete: que há uma panóplia de informação que não está a ser explorada e que as pessoas têm muita coisa por saber?

A estrutura do Guia, cronologicamente, está desde a decisão de trabalhar em Portugal até ao momento da contratação. É essa informação que está aí detalhada. Eu pesquisei e escrevi toda a informação. Não copiei de um lugar. Eu escrevi e digitei tudo que está aí no livro. Tudo são palavras minhas. Tudo que tem a ver com as questões legais, obviamente, eu confirmei nas fontes oficiais onde a informação está disponível, mas tudo foi escrito por mim.

Falou-me há pouco de um número de pessoas com quem está a trabalhar na equipa. Quem são, o que elas fazem e qual foi o contributo específico que elas deram?

Neste momento, tenho um mentor que me ajuda principalmente na parte do negócio em si porque não sou uma comunicadora nata, nem uma empreendedora nata. O que estou a fazer é empreendedorismo e eu estou a falar com muitas pessoas. Como havia dito, sou uma pessoa completamente low profile. Eu não sabia como me comunicar com muitas pessoas, apesar de ser muito comunicativa no dia a dia e profissionalmente falando era uma novidade para mim. Esse mentor tem um gestor de tráfego que define quem são as pessoas que vão ser alcançadas e depois também tem um gestor de conteúdos que ajuda no desenvolvimento de como eu falar para as pessoas, porque às vezes sei o que vou falar mas falta aí a desenvoltura, as palavras corretas.

Então essas pessoas aparecem mais tarde após a produção do livro?

Toda a informação que está no Guia foi feita 100% por mim. A equipa dá-me um redireccionamento, uma mentoria. A ideia do Guia foi da equipa. No início eu falava com mais de 100 pessoas todos os dias em mensagens privadas onde eu dava informações. E chegou um momento em que eu estava desesperada porque eu queria falar com todo o mundo, queria os ajudar e me era impossível. Foi aí que a equipa sugeriu questionando-me: por que não faz um E-book a explicar tudo isso. Foi então que escrevi. Toda a parte do conteúdo do E-book é 100% da minha autoria.

É possível dizer qual o número de pessoas que terão tido sucesso depois de ter contactado a Lorena, ou pelo trabalho que a tem estado a fazer ao nível de impulsionar os seus currículos?

Vou falar do número direto de pessoas que eu obtive feedback, mas eu sei que indiretamente o número é bem maior: desde janeiro que eu comecei tenho cerca de 200 pessoas que foram empregadas.

Pode descrever quais foram as área e quais os perfis das pessoas que foram aceites?

É bem variável. Também tem muito a ver com a ideia de se querer trabalhar rápido seja no que for, aceitando num primeiro momento trabalho que não sejam delas,[pelo que] posso dizer que 80% das pessoas conseguem trabalho na área que elas querem, sejam na área administrativa, restauração, cuidado de idosos, ou crianças. Das pessoas que veem ter comigo, a minha intenção é que elas consigam emprego na área que elas querem e nas suas áreas de trabalho. Eu sei que existem muitas pessoas que são mentoras e que conhecem [a área] por estudar – é válido na mesma-, mas posso dizer que já trabalhei desde fábrica de frango à gestão financeira [num trabalho] de escritório. Como eu conheço a fundo muitos setores de trabalho em Portugal por já cá ter trabalhado, então sou muito versátil. Esse é o meu grande diferencial. Eu conheço [as coisas] porque estive no campo.

Como é que a Lorena ganha disso tudo que faz?

No inicio de janeiro quando eu cheguei do Brasil mesmo antes de eu decidir colocar os meus serviços à disposição e receber algo em troca durante duas semanas que eu decidi ajudar as pessoas que tinham dúvidas. E posso dizer que mesmo depois que eu comecei a ganhar dinheiro pelo meu trabalho – esta não é a minha fonte de renda neste momento, pois tenho outro trabalho como administradora e gestora de conteúdos online – eu já me senti bem por estar a ajudar as pessoas. Sei que ainda falta muito caminho pela frente, ainda nem me posso considerar uma empresária porque estou no começo, mas estou a realizar um sonho de trabalhar e ajudar as pessoas ao mesmo tempo. Isso para mim é inexplicável.

Este trabalho de contacto com as pessoas é feito integralmente online?

Sim, é tudo online.

Além das pessoas que estão em Portugal, a Lorena tem sido contactada por pessoas que estejam noutras paragens do mundo?

Sim, principalmente, angolanos.

Quais são as perguntas e preocupações comuns que tem estado a receber destas pessoas, quer as que estejam no Brasil, as que estão cá ou, como disse, as de Angola?

Então vamos lá: primeiro, não encontrar trabalho na área que elas gostam e encontrar trabalho e ganhar mal. São basicamente essas três principais [preocupações]. Mas a principal preocupação das pessoas é o medo de não encontrar trabalho. Exemplo: quando a minha mãe decidiu viajar para morar em Portugal – esse sempre foi o plano da minha mãe – ela vendeu tudo que nós tínhamos. É [uma decisão] muito comum as pessoas deixarem tudo para trás para começarem uma nova vida. E aquele pensamento do imigrante de que vai ganhar dinheiro já menos comum – até porque mudou um pouco o perfil dos brasileiros em Portugal. Antes havia muito este perfil de imigrantes que pensava ´vou para Portugal ganhar dinheiro e voltar para o Brasil`. Hoje isso mudou: a maioria das pessoas tem o mesmo plano que o da minha mãe que é o de mudar para Portugal para ter uma vida melhor e deixar tudo para trás. Quando você deixa tudo para trás, vende tudo que tem para ir para um novo país [surge a pergunta]: e se der errado? E o primeiro ponto para dar errado é você não conseguir trabalho.

“Já tenho um projeto em desenvolvimento: estou a gravar um curso”

Qual é a responsabilidade das associações pró-imigrantes e, acima de tudo, do próprio governo de Portugal na disponibilização de informações que fizeram com que a Lorena cumprisse esse dever?

Posso dizer a gente só falou de coisas boas até agora [risos]. Mas quando eu coloquei [o anúncio nas minhas redes sociais dando conta] de que fazia currículo e cobrava por isso – eu não inventei essa modalidade de trabalho, até porque é algo super comum [aliás] mesmo brasileiros que estão no Brasil e nem conhecem o mercado português cobram um valor super alto – eu recebi muitos comentários a dizer: ´mais uma brasileira querendo se aproveitar de quem acabou de chegar`. Muitas pessoas não entenderam e diziam: ‘não precisam pagar, pois as associações podem fazer grátis´. Mas aproveito a pergunta para esclarecer que, na sua grande maioria das pessoas que trabalham nas associações, pelo menos em Portugal, recebe pelo trabalho. Elas não trabalham gratuitamente. São pessoas que têm uma carga laboral normal de 40 horas semanais e recebem um salário normal. Elas estão aí a trabalhar. Ponto. Portanto, ao meu ver, o perfil de ajuda das associações não é o de prevenção do problema e o de encontrar soluções para o problema. E no meu trabalho eu quero prevenir para que as pessoas tenham conhecimento, que elas saibam o que fazer para que não fiquem sem emprego. O governo português, basicamente, ele dá o direito de a pessoa pedir um visto de trabalho e vir para Portugal já com um visto de trabalho. Existe essa regra simples, só que as pessoas querem vir como turistas, para depois trabalhar clandestinamente. Neste caso, se descobrir, o papel do governo é basicamente o de cobrar uma multa ao empregador que fez isso, porque uma empresa não pode colocar uma pessoa a trabalhar de fora ilegal; pode, sim, pegar uma pessoa que já esteja em regularizada mas estando em situação irregular [por exemplo com título de residência expirado] desde que seja tudo dentro das trâmites legais – alguém com contrato de trabalho, segurança social, seguro de saúde, desde que esteja tudo certinho. O que acontece é que as pessoas vêm como turistas, aceitam trabalhar sem contrato por valores abaixo do ordenado mínimo e neste caso as regras são claras: o governo determina que a pessoa vá embora e o empregador vai ter que pagar uma multa. O que o Estado português vai fazer? Ele já fez: permitiu que as pessoas viessem trabalhar com o visto. Mas a pessoa tem que fazer a parte dela. Procurar trabalho dá trabalho.

Como é que o Guia está a ser promovido? Como é que a Lorena está a fazer chegar ao público-alvo?

Inicialmente através do meu Instagram eu mantive o link para as pessoas descarregarem o E-book. [Até quinta-feira, dia 12/05], 400 pessoas chegaram a descarregar gratuitamente. E decidi retirar.

Porquê?

Primeiro, porque senti que foi um pouco desvalorizado. Na verdade, quando decidi tirar, foi um momento de reflexão. Foi um trabalho muito difícil que eu fiz. Eu tinha consciência de que poderia não ser tão valorizado quanto deveria, mas mesmo assim eu decidi que queria oferecer gratuitamente. Eu não sabia por quanto tempo ele estaria disponível gratuitamente. Mas esteve. Quatrocentas pessoas descarregaram. Muitas pessoas mandaram mensagem a agradecer mas na sua grande maioria as pessoas não valorizaram: continuaram mandar muitas mensagens sobre questões que estavam explícitas no E-book que está numa linguagem leve e com uma explicação super concisa. Segundo: o facto de o E-book ser grátis levou as pessoas a pensar que eu trabalhava de graça, que a minha mentoria era de graça, que o meu currículo era [oferecido] de graça. Basicamente que eles até podiam me levar para casa de graça. Eu comecei a sentir-me um pouco desconfortável e senti que estava exposta demais e que não estava disposta a isso nesse momento. Então tirei do ar. Neste momento está guardado. Não sei o que vai ser feito do E-book.

E o futuro?

Em termos projeto, já tenho um em desenvolvimento: estou a gravar um curso. É que em conversa com a minha equipa eu entendi que eu não posso falar só para a minha comunidade. Foi um pouco difícil aceitar, porque eu estava naquela paixão de querer apoiar o Brasil, do género, eu sou brasileiro e quero contar as coisas aos brasileiros. Eu não sou uma pessoa muito patriota mas eu amo muito o meu país. Portanto, eu queria que todos os brasileiros fossem felizes em Portugal como eu. Então foi um pouco difícil esse balde de água fria quando me foi dito que não posso falar só para a minha comunidade. Na verdade, no início eu nem queria falar para todos os brasileiros. Queria só falar para os brasileiros negros, então foi um processo que agora entendi, daí que estou a gravar um curso para pessoas que queiram alcançar sucesso profissional em Portugal. E esse curso não vai ser grátis. Vai ter um preço acessível. Não quero ser uma pessoa que faz preços milionárias para alcançar pessoas milionárias. Não é esse o meu plano. Vou manter sempre preços acessíveis. Mas é um trabalho e tenho que cobrar. É muito estranho que estando em 2022 as pessoas não entenderem que os serviços online são como quaisquer outros.

Esta estratégia que poderá ser adotada passa por traduzir os conteúdos para outras línguas?

Eu estou a estudar espanhol, uma língua que de eu gosto. Estou na Espanha. No próximo ano pretendo passar um período nos Estados Unidos da América para aperfeiçoar o inglês. Portanto, o futuro é que eu possa comunicar com pessoas de todas as línguas, no caso, em espanhol e em inglês que são duas línguas universais.

Neste momento a tradução e eventualmente colocação de legendas é uma possibilidade?

Não, porque eu tenho a noção que o mercado de desenvolvimento pessoal e profissional é bem concorrido. Eu estou a descobrir que eu não poderia competir com uma pessoa que fala inglês, pelo que neste momento vou comunicar para pessoas que falam português.

Perguntava se dentro daquilo que vão ser os vídeos vai, por hipótese, colocar a legenda quer em espanhol ou inglês.

É uma possibilidade, mas não é o meu foco. Eu não posso competir com as pessoas nativas que têm um curso em inglês. As pessoas – mesmo os brasileiros – são mais voltadas para conteúdos na sua língua. Porque é que no Brasil é tudo dublado? Os brasileiros não sabem inglês porque não consomem, na sua grande maioria, inglês desde criança. É tudo dublado. Na Espanha também é tudo dublado. O 007 [James Bond] fala espanhol. No Brasil 007 fala português do Brasil. Como eu tenho essa noção, existe a possibilidade de [os conteúdos] estarem legendados mas não é o meu foco, porque sei que as pessoas querem ouvir nas suas línguas e não ler [legendas].

E isso não irá potenciar, até certo ponto, aquilo que foi a frustração da Lorena quando disponibilizou o E-book que tem lá todos os conteúdos escritos e as pessoas não viram porque pretendem eventualmente os conteúdos falados?

É simples dizermos que as pessoas preferem ouvir do que ler. Isso é facto. Mas o público que gosta de ler, ele gosta de ler. Ponto. Uma pessoa que gosta de ler nunca vai preferir um livro que esteja em disco. Mas quando eu falei no E-book não estava a falar só na preguiça de ler. Estava a falar na desvalorização. Quando você tem [acesso] a algo grátis, dificilmente vai dar valor que aquilo tem. E aquele E-book que eu produzi tem um valor inestimável. E na minha cabeça as pessoas iam entender isso mas elas não entenderam [ao que devem ter pensado]: se é grátis então não deve ter nada [de especial pelo que] não vou ler. É como quando vamos ao supermercado. Quando temos acesso àquele folheto com as promoções, sempre pegamos mas não o lemos. Foi exatamente isso que eu senti no meu E-book: foi desvalorizado por ser grátis. Nem falo da questão da leitura, porque uma pessoa que vai baixar um E-book, ela lê. Não se vai requisitar um livro a biblioteca se a pessoa não gosta de ler. Parto do princípio de que quem descarregou o E-book gosta de ler. Não teve preguiça, apenas não deu o devido valor. Mas o curso, primeiramente, não vai ser grátis. Só vai ter acesso ao curso quem estiver disposto, quem quiser comprar, quem tiver interesse. Eu sei que um espanhol vai optar por um conteúdo em espanhol. Posso estar enganada e espero estar enganada. Terei muito gosto em ter alunos espanhóis, ingleses…, de todos os países [risos].

Quais são os três conselhos que a Lorena daria a quem quisesse vir trabalhar em Portugal?

O primeiro conselho de todos é: não venham como turistas se vocês querem trabalhar. No E-book eu também falava disso. Obviamente, cada pessoa sabe de si e sim: se você trabalhar em Portugal por um X período, você depois tem direito a pedir autorização de residência. Mas eu não aconselho. O que aconselho é que a pessoa só saia do seu país com visto de trabalho que dê autorização para trabalhar em Portugal. Para conseguir este visto – podemos colocar este como ponto dois – é procurar trabalho estando ainda no seu país. E como você vai procurar trabalho? Através dos principais sites que disponibilizam vagas. Posso dizer nome de um: o Net Empregos. Eu consegui muitos dos meus dos trabalhos através deste portal que é o maior portal de vagas de emprego em Portugal. É de validade e podem confiar. Para as empresas postarem aí passam por uma verificação. Isso é muito importante. Para você procurar trabalho não estando no país você precisa garantir que é um trabalho sério. É muito arriscado você aceitar vagas de emprego de pessoas que postam nas redes sociais. [É preciso questionar] quem é aquela pessoa, [saber] que empresa é aquela. É muito arriscado. Não façam isso. Procurem sites oficiais de emprego.

E a terceira?

A terceira e última que posso dar é: estudem bastante o país [para saber] como é Portugal; quais são as leis trabalhistas; como está o mercado; qual é a linguagem utilizada. E agora vou falar diretamente para os brasileiros: não acreditem que lá [em Portugal] a língua é toda igual. Não. Estudem. Consumam conteúdos de Portugal antes de chega [pois] vai ajudar muito. (MM)

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