Manicure cria campanha para arrecadar fundos em prol de brasileiros retidos em Lisboa

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FOTO: Redeemer

Elisabeth Almeida (Correspondente em São Paulo)

    Uma campanha para ajudar os imigrantes brasileiros a comprar bilhetes em voos comerciais para retornar ao Brasil acaba de ser lançada no Rio de Janeiro, numa ação que é tida como última esperança para as dezenas de pessoas que ainda aguardam o repatriamento de Portugal.

    A Manicure Rafaela Alves ficou sensibilizada com a situação vivida por vários imigrantes brasileiros, que em abril iniciaram uma luta para regressar ao país de origem, pelo que a empreendedora decidiu criar uma campanha em prol deste grupo, que anteriormente e, durante cinco dias, também esteve retido à porta do aeroporto de Lisboa debaixo “do frio, da chuva, com fome e com sede”.

    Hoje, são 12 os cidadãos brasileiros que continuam albergadOs no Inatel de Oeiras, na capital de Lisboa, à espera de repratriamento.

    “Ajudem a nossa causa. Estamos tentando apoiar todos aqueles que se encontram sem condições de viajar ao Brasil, passando necessidades”, diz o texto publicado pela proprietária no site oficial da loja.

    Sediada no Estado do Rio de Janeiro, em Xerém, a distribuidora da manicure Rafaela Alves vende cursos e produtos voltados para profissionais da área, como a venda de Máscara Face Shield Plástica Lavável – Viseira para proteção de gotículas e impurezas a preço de custo.

    Doar uma parte do valor arrecadado para a compra de bilhetes em voos comerciais foi a maneira como a também empresária encontrou de ajudar outras manicures a reabrirem seus serviços e igualmente poderem contribuir para o regresso de brasileiros retidos em Portugal desde a eclosão da pandemia do novo coronavírus.

    “Criamos um produto para ajudar na repatriação de pessoas que não têm fundos para viajar de Portugal para o Brasil e ficaram abandonados em país terceiros, sem o apoio de Consulados e Embaixadas”, lê-se na mensagem divulgada no site da loja on-line, onde as viseiras de proteção custam 25 reais (4 euros) e que podem ser usadas não somente por profissionais da área de embelezamento e cuidados com as mãos e pés, mas por todos que trabalham lidando diretamente com o público. As viseiras são confeccionadas com material leve, confortável devido ao seu enchimento com EVA, lavável e extremamente higiénicas.

    Brasileiros ‘acampadoS’ em Portugal

    Já há quase 30 dias após tornarem notícia em todo o mundo, a história do grupo de brasileiros retidos em Portugal devido à pandemia do novo coronavírus parece estar longe do fim. Com o isolamento social e a queda brusca nos ordenados, muitos se viram sem condições de se manter na terra de Camões e, sem dinheiro, também não têm condições para comprar passagens para o Brasil.

    O grupo, também conhecido por ter ‘acampado’ no Aeroporto Internacional de Lisboa, começou com aproximadamente 30 pessoas, das quais uma grande parte conseguiu um voo de repatriamento dentro do último voo que o governo brasileiro fretou. Desde o início desses voos o governo Federal vai tirar dos cofres públicos cerca de 1,4 milhões de euros (mais de 6 milhões de reais).

    Ao fim, sobraram 13 imigrantes, que não conseguiram o repatriamento e contaram com a ajuda da Segurança Social de Portugal para conseguirem uma hospedagem, comida e apoio psicológico. Locados no Inatel de Oeiras, aos poucos os brasileiros foram conseguindo criar um novo desfecho para toda esta situação: dez integrantes do grupo conseguiram voos comerciais para o Brasil entre os dias 23 deste mês e 4, 5 e 6 de junho.

    Já William de Jesus, um dos imigrantes que havia conseguido uma proposta de trabalho na região de Lisboa e desistido do repatriamento, vendo porém que a proposta não lhe era viável, diz que pretende agora retornar ao Brasil o mais rápido possível.

    Ao parecer que tudo caminhava para um final feliz, mais imigrantes brasileiros apareceram pedindo ajuda para retornar ao país de origem, somando até o momento mais de uma dezena de pessoas que, de facto, não têm condições financeiras de comprar passagens em voos comerciais, dados que há dificuldades de novos voos de repatriamento.

    Entre o grupo remanescente está Ilker Luiz, que diz sentir um certo descaso por parte das autoridades brasileiras.

    “Até agora não tivemos nenhuma resposta do Consulado, que nem sequer nos responde mais. Está certo que aqui temos comida e um lugar para dormir, mas toda esta situação está nos afetando drasticamente e o esgotamento mental e o stress já faz parte do nosso quotidiano”, relatou ao Jornal É@GORA.

    Para Ilker Luiz, as autoridades consulares brasileiras em Portugal deviam fazer mais e agir de forma diferente, até porque “o papel que eles têm tomado agora” demonstra que se estão a tornar no “maior inimigo dos brasileiros dentro das terras lusitanas”.

    “Tudo o que eu espero do Consulado do Brasil é que eles façam o papel deles, de ser defensor do povo brasileiro. De ser amigo, de ser humano, de ser alguém que defende os interesses de seus filhos, da sua pátria e que não seja o inimigo. O papel que eles têm tomado agora (é de alguém de quem se vai) tornando o maior inimigo dos brasileiros dentro das terras lusitanas. Quem deveria ser defensor, se tornou inimigo e é o único que não tem ajudado em nada. Os portugueses e o estado português ajuda e os ‘bonitões’ que deveriam lutar a nosso favor tem cruzado os braços e dificultado o nosso acesso à justiça e tem mentido em mídia pública. É isso o que ele (Consulado) tem feito”, encerrou Ilker.

    Estimada em 151 mil antes do início da pandemia da Covid-19, os cidadãos do Brasil são a maior comunidade estrangeira residente em Portugal, onde se estima que vivam 480 mil imigrantes que integram 123 nacionalidades existentes no território português. (EA)

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