Manifestação anti-racista 6ªfeira quer Ventura fora do Parlamento, deputado reage: “o CHEGA não é racista”

1
1477
Lisboa será fim de semana palco de eventos contra o racismo e de negação à existência do fenómeno

Manuel Matola

Uma manifestação anti-racista vai realizar-se esta sexta-feira em frente à Assembleia da República para exigir a retirada do Parlamento do deputado e líder do CHEGA André Ventura que, entretanto, agendou para o dia seguinte, sábado, um protesto com 1500 pessoas para defender que “Portugal não é racista”.

Quase uma dezena de organizações anunciou que se vai concentrar “na sexta-feira, dia 26 de junho, às 16:00” diante do Parlamento para exigir “que os guardiões institucionais da Constituição de Abril saiam da sua letargia e excluam, pelo seu manifesto racismo e fascismo, o CHEGA e o deputado André Ventura da Assembleia da República”.

Mas em reação ao jornal É@GORA, o líder do CHEGA, o único partido da extrema direita e anti-imigração em Portugal, contestou a realização de uma manifestação “contra partidos legitimamente eleitos”.

“Não compreendemos, nem aceitamos uma manifestação que seja contra partidos legitimamente eleitos”, disse André Ventura numa nota enviada ao jornal É@GORA pela assessoria de imprensa.

Os organizadores da manifestação de sexta-feira, que se realiza sob lema “Acordai! O Racismo e o Fascismo estão na Assembleia!” consideram que “a chegada do partido CHEGA e do deputado André Ventura à Assembleia da República é um sinal do avanço do racismo e fascismo na sociedade portuguesa, ao qual os partidos políticos e instituições democráticas não têm dado cobro”.

Na nota justificativa, as sete organizações, incluindo o Sindicato de Estudantes, se identifica como “uma organização estudantil revolucionária e anti-capitalista que defende a educação pública, gratuita, laica e democrática”, acusam André Ventura de estar envolvido em várias ações pró-racistas, juntamente com Mário Machado, líder do grupo de extrema-direita ´Nova Ordem Social`, indiciado no “assassinato, há precisamente 25 anos, de Alcindo Monteiro por um grupo neonazi”.

“São inúmeras e públicas as evidências de que o CHEGA, o seu deputado e vários dos seus dirigentes têm ligações à extrema-direita (grupos e movimentos neonazis e salazaristas)”, referem as organizações.

E exemplificam com ações que partem desde a “manifesta e sistemática perseguição à comunidade cigana desde a sua campanha nas autárquicas em Loures 2017 até, já como deputado na AR, no quadro da pandemia COVID-19”, ao “incitamento ao ódio racial contra esta, assim como o seu desprezo por outros portugueses racializados (como quando defendeu que uma deputada negra deveria ir “para a sua terra”)”, numa alusão à Joacine Katar Moreira.

“É conhecida a sua estratégia de instrumentalização e manipulação de sectores e associações sindicais das Forças de Segurança, contribuindo para a constituição do Movimento Zero e para a infiltração de elementos racistas e fascistas na polícia. Tem também na mira outros sectores do Estado, apregoando defendê-los, para deles retirar votos e apoio, ao mesmo tempo que no seu programa propõe a privatização dos serviços públicos, o despedimentos de funcionários públicos e, no fundo, a precarização das condições de vida de todos os trabalhadores”, acusam na carta divulgada nas redes sociais.

Schoolgirl learning in the classroom and writing into workbook. Her classmates are in the background.
Os organizadores do evento de sexta-feira consideram ainda que “o CHEGA e André Ventura utilizam a Assembleia da República para fazer propostas inconstitucionais e de incitamento ao ódio (castração química, confinamento específico das comunidades ciganas, o fim do combate à discriminação racial, etc.), chegando mesmo a propor uma IV república, numa afronta expressa à Constituição e ao regime democrático”.

“Por tudo isto”, os protestantes assumem uma posição: “Exigimos que os partidos políticos confrontem directa e activamente o CHEGA”.

Segundo os organizadores, as forças políticas com assento parlamentar “não podem continuar a seguir uma estratégia de relativização leviana do seu poder, assim como de negação total do racismo ou a sua redução a casos pontuais”.

Por isso, insistem: “Exigimos que os guardiões institucionais da Constituição de Abril saiam da sua letargia e excluam, pelo seu manifesto racismo e fascismo, o CHEGA e o deputado André Ventura da Assembleia da República”.

E mais: “exigimos uma ação consequente e célere na proibição e extinção de organizações racistas e fascistas, sobretudo num momento em que por cá e noutras partes do mundo estas estão em ascensão”, dizem, apelando para o respeito da Lei Fundamente do país.

“Cumpra-se o artigo 46º (alínea 4) da CRP: ‘Não são consentidas (…) organizações racistas ou que perfilhem a ideologia fascista’. Cumpra-se o artigo 160.º (alínea d) ‘Perdem o mandato os Deputados (…) por participação em organizações racistas ou que perfilhem a ideologia fascista'”, lê-se na nota dos sete organizadores do evento, designadamente: Núcleo Antirracista de Coimbra, Associação Cavaleiros São Brás, Consciência Negra, Núcleo Anti-Racista do Porto, Instituto da Mulher Negra em Portugal, Femafro e o Sindicato de Estudantes.

Em reação ao jornal É@GORA, o deputado e líder do CHEGA refuta as acusações de que o seu partido paute pela discriminação dos portugueses ou minorias étnicas.
 
“Para que fique claro: o CHEGA não é racista. Nunca foi racista, nem nunca será e não será um grupo de manifestantes mal-informados e, acima de tudo, mal-intencionados que o vai fazer parecer”, lê-se na mensagem enviada ao jornal É@GORA.
 
E acrescenta: “Nós somos a expressão dos portugueses comuns que se sentem obrigados a permanecer em casa, porque a esquerda tomou conta das ruas e isso tem de acabar. É tempo de a direita poder sair à rua sem medo e, essencialmente, sem vergonha de ser de direita e tenho a certeza que os portugueses de bem estarão connosco no sábado para mostrar que o nosso país não é racista”.

“Portugal é um país racista”, mas “existe na sociedade um problema de racismo estrutural” – Ventura

Citado pela Lusa, o líder do CHEGA diz que o partido vai manter a manifestação agendada para sábado e estima que poderá juntar cerca de 1.500 pessoas que defendem que Portugal não é racista, ainda que em Lisboa tenham sido decretadas restrições a ajuntamentos devido à pandemia do novo coronavírus.

O presidente do Chega, André Ventura, endereçou na terça-feira duas cartas à Câmara Municipal de Lisboa e ao Ministério da Administração Interna, nas quais manifesta a “intenção de realizar uma manifestação em Lisboa, no próximo sábado dia 27 de junho, organizada, calma e pacífica, cumprindo ao máximo as regras do distanciamento social e outras que o bom senso dite, de forma a assegurar a segurança máxima de todos os participantes”.

O protesto, cujo objetivo é contrariar a ideia de que “Portugal é um país racista e de que existe na sociedade um problema de racismo estrutural”, está marcada para as 14:00 e sairá do Marquês de Pombal em direção ao Terreiro do Paço.

“Nós, portugueses, orgulhosos do nosso país e da nossa história – com todos os seus defeitos e qualidades; nós, portugueses, que não somos racistas e que defendemos a sociedade multicultural com todos os seus direitos e deveres, temos de sair à rua e mostrar que recusamos todos os epítetos pejorativos que nos querem colar”, lê-se na missiva endereçada a Fernando Medina e Eduardo Cabrita, à qual a Lusa teve acesso.

Segundo a Lusa, o grupo coordenador da manifestação teve esta quarta-feira uma “reunião preparatória” com a PSP, e fonte do Chega disse à Lusa que são esperadas cerca de “1.500 pessoas no total”. (MM)

1 COMENTÁRIO

  1. “PORTUGAL É UM PAÍS RACISTA”, MAS “EXISTE NA SOCIEDADE UM PROBLEMA DE RACISMO ESTRUTURAL” – VENTURA

    O Dr André Ventura disse isto???
    A SÉRIO? É PARA RIR???
    “PORTUGAL É UM PAÍS RACISTA” ???????

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here