Manuel Matola
O cineasta moçambicano, Júlio Silva, já está em Cabo Verde para fazer, este mês, a rodagem do seu novo filme o Menino do Mar, que retrata o naufrágio do navio “Vicente” ocorrido há oito anos no mar de Cabo Verde .
O enredo é baseado “num facto verídico”, diz ao Jornal É@GORA Júlio Silva, imigrante em Portugal, que pretende levar para as telas um episódio trágico que teve lugar no alto mar: um menor que morreu de hipotermia nos braços do pai. Em choque com a morte, o progenitor, que, então agarrado a uma paleta durante três dias à espera de socorro, acabou por se descuidar e o corpo do menor desapareceu.
O incidente terá resultado de uma onda gigante inesperada que atingiu o navio “Vicente”, da companhia Tuninha, conta o cineasta sobre o facto ocorrido a 8 de janeiro de 2015 a quatro milhas náuticas do porto de Vale dos Cavaleiros, ilha do Fogo, com 26 pessoas a bordo, entre membros da tripulação e passageiros.
Na altura, causou comoção em quase toda comunidade cabo-verdiana em quatro ilhas do arquipélago – São Vicente, Praia, Ilhas de Fogo e a de São Vicente -, onde várias pessoas tentarem ajudar nas buscas do corpo do menor que estava entre as 15 pessoas que morreram, três das quais eram passageiros e 12 tripulantes.
“Após ouvir esta história, o pai [do menor] falou-me de vários sobreviventes” – 11, no total -, alguns dos quais Júlio Silva conseguiu os abordar para poder “retratar os vários episódios de uma mesma história”, disse.
Na sequência deste percurso nas artes cinematográfica e da escrita, foi há dias galardoado na 3ª gala dos Afro Descendentes que se realizou, em Zurique (Suíça).
No novo filme Menino do Mar, volta a usa a sua veia multifacetada de cineasta e escritor pelo que procurou falar com quase todos 11 sobreviventes que estiveram na embarcação, então pilotada por um capitão de origem cubana que também morreu afogado.
As duas investigações então realizadas ao afundamento do “Vicente” responsabilizam o comandante da embarcação e as autoridades marítimas pelo acidente em que morreram 15 pessoas.
Do incidente, 11 pessoas foram resgatadas com vida, bem como o corpo de um membro da tripulação. As restantes 14 pessoas nunca foram encontradas. Em maio de 2016, as autoridades caboverdianas declararam os óbitos.
Após o incidente, oa familiares das vítimas ameaçaram processar o Estado cabo-verdiano.
Em 2019, a Justiça reabriu o caso e Ministério Público cabo-verdiano requereu o julgamento de quatro pessoas acusadas de homicídio negligente na sequência do naufrágio do navio “Vicente”. (MM)