Manuel Matola
A canção “Meu Bairro, Minha Língua {…}”, um projeto musical idealizado pelo rapper brasileiro Vinicius Terra e que une importantes vozes da lusofonia, incluindo descendentes de imigrantes em Portugal, vai ser lançado a 05 de março, Dia da Língua Portuguesa, data em que será reinaugurado virtualmente o Museu da Língua Portuguesa em São Paulo.
Um videoclipe e uma Websérie de oitos episódios, que contará como decorreu todo o processo criativo da canção colaborativa que reúne artistas de língua portuguesa, também serão exibidos em todas as plataformas digitais e numa televisão brasileira na próxima sexta-feira, dia em que se comemora o idioma de Camões que está em constante crescimento.
O projeto musical cantado em português visa “aproximar os distantes que pensam novas formas de usar a língua como conectora de bons sentimentos; mesmo que esses distantes estejam em outra ponta de oceano; do outro lado do Atlântico. “Meu Bairro, Minha Língua {…}” nos dá, por intermédio da história de cada artista (suas cores, vozes, nações e origens), a oportunidade de mostrar uma língua democrática, descentralizada, descolonizada e cada vez mais alinhada ao nosso tempo”, lê-se num documento de 50 páginas disponibilizado ao jornal É@GORA pelos mentores da iniciativa.
Em declarações ao jornal É@GORA, o músico brasileiro Vinicius Terra esclarece o racional desse propósito: “É preciso a gente pensar nos novos ícones para reformular a língua. Não adianta mais só ficar falando de Fernando Pessoa”, o poeta-mor que foi quem, de resto, inspirou os novos artistas, incluindo Elza Soares a ecoar o “Meu bairro, Minha Língua {…}”.
Mas mais do que reproduzir o refrão da música que dá nome ao projeto cultural do músico e compositor carioca Vinicius Terra, que “propõe a redescoberta de nossas raízes, heranças culturais e relações históricas, por intermédio de vozes potentes de artistas de países que falam a língua portuguesa”, segundo assinala o mesmo documento, esta ação visa também alertar para as dificuldades por que passa um grupo social muitas vezes não perceptível nesta crise pandémica: os imigrantes.
Por isso, esta canção é também “com certeza” uma oportunidade para chamar atenção daquilo que está a acontecer com os imigrantes por causa da pandemia, afirma o rapper brasileiro, assinalando: “É muito urgente descolonizarmos a língua, uma vez que a língua só faz sentido se ela for viva”.
A canção conta a participação de várias vozes lusófonas convidadas: Elza Soares, Linn da Quebrada, Sara Correia, Dino D´Santiago, Gabriel Marinho, bem como a vocalista Patrícia Relvas e o guitarrista Roberto Afonso do Duo Lavoisier, e ainda o músico e produtor Tayob Juskow, originário de uma família miscigenada, que cruza sangue brasileiro, indiano, moçambicano e polaco.
“O grande objetivo é a gente começar a ter um olhar para a língua portuguesa sem um olhar eurocêntrico. É preciso descolonizar”, até porque “a língua portuguesa é muito moderna. Ela aceita muito de outros idiomas, apesar destas todas reservas e das questões de opressão na História das colonizações. É uma língua que aceita a integração das demais” variantes do português, aliás, “aqui no Brasil a gente usa idiomas dos (povos) originais da terra, a que os europeus chamam de índigenas”, explica Vinicius Terra em conversa telefónica com o jornal É@GORA a partir do Rio de Janeiro.
Com o patrocínio da EDP Brasil, o projeto “Meu Bairro, Minha Língua {…}” não só “encurtou as distâncias dos dois lados do Atlântico”, como também deu força aos artistas que tudo fizeram para ultrapasar as incertezas e desafios em 2020, e agora dar voz a uma língua que “está sempre em construção”.
Apesar da reinaguração virtual marcada para sexta-feira, seis anos após ter sido consumido pelas chamas, o Museu da Língua Portuguesa só receberá visitas do público a partir de julho, uma vez que o emblemático edifício localizado em São Paulo ainda “está sendo reconstruído”, segundo se lê na página oficial da instituição. (MM)