Manuel Matola
Morreu hoje o engenheiro e economista angolano Percy Freudenthal, então estudante na Casa dos Estudantes do Império, a primeira rede migratória de intelectuais lusófonos que se lançou no combate contra o poder imperial em pleno Portugal colonial nas décadas de 40 e 60 do século XX.
Autor do livro “Picadas de um matumbo angolano”, uma biografia organizada e publicada por Leonor Vaz Pinto, o angolano Percy Freudenthal, nascido a 29 de maio de 1938, em Luanda, foi militante do MPLA, partido que após a independência de Angola o propôs para a direção da Sonangol, a petrolífera estatal que desde sempre sustenta a economia angolana e as novas elites daquele país lusófono africano.
O seu contributo na luta contra a ditadura elevou-o à categoria de resistente, sobretudo depois de ter sido preso por seis meses pela PIDE, a polícia politica que sempre procurou dificultar a constituição de elites nativas nas colónias portuguesas.
Usando o intelecto como sua principal arma de arremesso, Percy Freudenthal, de 84 anos, rebelou-se contra o poder instituído pelo regime imperial escrevendo livros que também contribuíram para alterar parte das “estratégias” traçadas por aquele sistema politico que inesperadamente se viu confrontado com as ameaças impostas pelos então jovens intelectuais provenientes das ex-colónias.
Em nota hoje divulgada a propósito da morte do engenheiro e economista angolano, a UCCLA “curva-se perante a sua memória”, lembrando “os contributos e o apoio” que Percy Freudenthal deu, em 2014 e 2015, no âmbito da homenagem à Casa dos Estudantes do Império, instituição criada no contexto da política imperial do Estado Novo que serviu de espaço de fermentação de uma consciência anticolonial. (MM)