O Nova SBE NOVAFRICA Knowledge Center está a desenvolver um projeto de informação, iniciado há cerca de dois anos, que envolve 8.000 jovens de zonas rurais da Gâmbia, país da África Ocidental com a maior incidência de migrações irregulares para a Europa. O objetivo é ajudá-los a encontrar alternativas à emigração internacional irregular através de uma melhoria das suas qualificações ou da emigração regional.
Todos os dias, milhares de pessoas chegam à Europa, através do mar do Mediterrâneo, à procura de uma vida melhor. São migrantes que, nalguns casos atravessando o deserto, deixam os seus países de origem para perseguirem um sonho que, muitas vezes, termina em pesadelo, num campo de refugiados, em repatriamento e, frequentemente, em morte.
De acordo com vários estudos, uma em cada três pessoas originárias da África Ocidental, que embarca nesta viagem para a Europa, morre. As estimativas referem que apenas quatro por cento conseguem chegar ao destino e estar numa situação regular.
O número de imigrantes económicos, não refugiados, que escolhem a Europa como destino, tem vindo a aumentar. Esta é uma tendência crescente e é uma questão que preocupa a Europa, segundo Cátia Batista, diretora científica do Centro de Investigação NOVÁFRICA na Nova School of Business and Economics (SBE).
Para fazer face a esta problemática, a União Europeia está a financiar várias campanhas de informação em África, mas não há avaliação de impactos sobre os milhões de euros investidos em vários países africanos. O centro, dirigido por Cátia Batista, tem sob a sua responsabilidade um estudo, com duração estimada de 18 meses, sobre “Lacunas de Informação e Imigrações Irregulares para a Europa”, através de uma bolsa da Comissão Europeia no valor de um milhão de euros.
A professora doutorada em Economia explicou ao Jornal É@GORA que o referido projeto visa informar os africanos sobre as políticas europeias nesta área.
“No fundo aquilo que nós fazemos é testar políticas de informação rigorosa que possam promover desenvolvimento económico e tentar maximizar o impacto dos recursos escassos que temos para investir nesta área”, afirmou Cátia Batista.
Europa desconhecida

O trabalho de campo foi feito em contacto direto com as populações no local. “Vimos que os jovens, apesar de acreditarem que um em cada dois emigrantes ia morrer na travessia ao Mediterrâneo, ainda assim 60 por cento dos que entrevistamos queriam vir para a Europa”, explicou. São tipicamente jovens rapazes, muitos deles com menos de 18 anos de idade, “que não conhecem o que é que acontece quando chegam à Europa”.
No entanto – precisou –, são confrontados com outra realidade quando alcançam o continente europeu. “Muitos ficam em campos de imigrantes sujeitos a condições muito complicadas e aqueles que conseguem arranjar emprego de forma legal são explorados”.
O que se pretende, por outro lado, é criar “os caminhos legais” para que os imigrantes possam contribuir e integrar-se melhor na sociedade europeia. A Europa está confrontada com o envelhecimento da sua população e precisa de mais diversidade e de mais contributos produtivos.
Na perspetiva da académica portuguesa, “a imigração é, de facto, um caminho” para suprir tal lacuna e promover o “crescimento harmonioso e sustentável” da velha Europa.
O centro está igualmente a testar políticas de formação profissional. “Porque uma alternativa à emigração pode ser a capacitação dos jovens de modo a que decidam ficar [nos países de origem] e criar os seus próprios empregos”, adiantou.
“Caso decidam ficar na Europa estarão, certamente, mais bem capacitados para se integrarem e contribuir de forma ativa para a economia dos países de acolhimento”, admitiu.
Por outro lado, deu conta, a instituição está também a testar políticas que facilitam a emigração regional legal. Argumentou que “há imensas oportunidades por explorar” a este nível.
Contar histórias de sucesso
Cátia Batista revelou, entretanto, que em Portugal o centro está a dar início a um outro projeto envolvendo imigrantes cabo-verdianos, na perspetiva da sua melhor integração na sociedade portuguesa, para se beneficiar mais do seu contributo.
“Muitos dos imigrantes cabo-verdianos em Portugal, por vezes, não têm a sua situação regularizada. Por vezes, não têm grandes ambições de carreira e isto, no fundo, acaba por limitar o seu potencial”, disse a investigadora. O estudo experimental, que passa pelo teste de diferentes políticas de integração, procura “contar histórias de sucesso” de imigrantes cabo-verdianos radicados no país, que os inspirem a prosseguir esse objetivo.
A investigadora esteve entre os académicos dos Centros de Conhecimento, Hubs e Labs Nova SBE presentes numa conferência de imprensa, aberta por Daniel Traça, diretor da Diretor da Nova SBE, e que serviu para apresentar os projetos científicos que marcarão a atualidade mediática do país para 2019/20, na área das políticas públicas, finanças, data science, trabalho e emprego, economia da saúde, economia ambiental, imigração, educação, integração e competitividade, bem como teoria organizacional. (X)