Rodrigo Loureço e Manuel Matola
Os produtores do filme ‘Pele escura – da periferia para o centro’ percorreram quase dois anos e meio até conseguirem apresentar no próximo domingo no Centro Cultural de Belém o seu novo projeto cinematográfico cuja narrativa gira em torno de seis personagens de bairros periféricos de Lisboa que decidem se deslocar ao CCB para assistir a um espetáculo.
Após um “longo caminho” de contratempos inerentes à produção, o Centro Cultural de Belém (CCB) irá receber, no próximo dia 4 de julho, a apresentação do novo projeto da cineasta angolana Graça Castanheira.
Em vésperas da estreia, o encenador e diretor de atores do filme ‘Pele escura – da periferia para o centro’, Meirinho Mendes, revelou ao jornal É@GORA quais os contornos do extenso caminho que normalmente se percorre até à concretização de trabalhos desta dimensão.
“Levou para aí dois anos desde as negociações com o CCB e até chegar o financiamento do ICA, foi um longo caminho. Se estivermos a falar do processo de criação do guião até à rodagem, levou mais ou menos dois meses e meio, e depois a rodagem com todas as suas condicionantes, mau tempo, imprevistos/doença, foram três semanas. Estas coisas levam tempo a ser concretizadas”, disse Meirinho Mendes, em declarações ao jornal É@GORA.
A película será exibida no próximo domingo no mais emblemático centro de arte contemporânea de Portugal, localizado na zona nobre de Lisboa, Belém, e servirá de mote para a realização de um evento paralelo no mesmo dia 4 de julho no CCB: seis momentos de conversas para que se reflita sob várias perspetivas e abordagens as temáticas que o filme aborda.
Segundo a sinopse, o filme ‘Pele escura – da periferia para o centro’ coloca a problemática do racismo “na mesa dos debates e reflexões através da história de uma viagem da periferia ao centro da cidade de seis amigos afro-descendentes, inscrevendo-se na paisagem branca e nas marcas exteriores de prosperidade”, indica uma nota enviada pela equipa de produção.
O ponto de partida para este trabalho cinematográfico, cujo enredo gira em torno das seis personagens vindas de Porto Brandão e Cacém, partiu de uma ideia original do músico e escritor Kalaf Epalanga.
O evento tem início marcado para as 15:00, hora em que será exibido ‘Pele escura – da periferia para o centro’, pela primeira vez, sendo que o filme volta a ser reproduzido de hora em hora até ao término do evento, por volta das 20:00.
Ao longo da tarde haverá seis debates sobre a temática abordada em “Pele escura – da periferia para o centro” com vários convidados de diversas áreas: o urbanista e investigador António Brito Guterres, o arquiteto Ricardo Bak Gordon, a atriz e encenadora Zia Soares, a cantora Selma Uamusse, e a socióloga Karina Carvalho.
Também farão parte da conversa a jornalista do ´Afrolink` Paula Cardoso, o sociólogo e fundador da plataforma de ‘Reflexão Angola’ Manuel Dias dos Santos, o professor e historiador Diogo Ramada Curto e, por fim, a realizadora Graça Castanheira, bem como o encenador e diretor de atores do filme Meirinho Mendes.
Todos os painéis de comentadores serão moderados por Angella Graça, presidente da direção do INMUNE – Instituto da Mulher Negra em Portugal.
Poucos dias depois de ser conhecida a sentença do caso do ator Bruno Candé, cujo homicida foi condenado a 22 anos de prisão, o encenador e diretor de Atores sublinha que o filme ‘Pele escura – da periferia para o centro’ “nada tem haver com um assassinato”, mas sim com “o princípio de algo que vai ajudar no debate, e um documento importante para a causa, para a luta”.
Para definir o filme, Meirinho Mendes decidiu utilizar a palavra ‘antirracista’ e justificou a escolha como “um processo antirracista na luta pela descolonização do pensamento”.
Ou seja, “o filme é processo antirracista na luta pela descolonização e contra a negação da História. É uma contribuição para o debate”, finalizou. (RL e MM)