“O metaverso poderá ser crucial para a aniquilação da humanidade”, alerta o neurocientista Fabiano Abreu

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FOTO: Artlabs ©

Manuel Matola

O neurocientista Fabiano Abreu adverte que o Metaverso, a próxima versão da Internet que Mark Zuckerberg pretende criar, poderá concorrer para eventuais problemas de saúde emocional e possível “aniquilação da humanidade”.

“O metaverso poderá ser crucial para a aniquilação da humanidade”, adverte Fabiano de Abreu num artigo científico em que considera que “a Nova plataforma poderá acarretar problemas de saúde emocional” aos usuários, resultando num problema que o académico denomina de “consequências da burla genética”.

No artigo publicado na mais recente edição da revista científica Saúde e Tecnologia, editada no Brasil, o neurocientista luso-brasileiro residente em Portugal, que pertence aos 0.1% dos cidadãos mais inteligentes do planeta, convoca os leitores a refletirem sobre a sua participação na nova experiência digital em plataformas de realidade virtual.

O académico descreve esta nova realidade como sendo um ambiente digital simulado que usa realidade aumentada, virtual e rede de criptomoedas, juntamente com conceitos presentes nas plataformas de media social, de forma a criar espaços para interação do usuário imitando o mundo real.

Fabiano Abreu neurocientista luso- brasileiro. FOTO: Divulgação / MF Press Global ©
Pelo que acautela: “Este novo mundo e realidade, o metaverso, onde o cotidiano é virtual, resultará em um problema que denomino de ´consequências da burla genética`. É muito interessante imaginar as possibilidades de uma vida virtual, até porque imaginamos como seriam e diante a uma região chamada córtex pré-frontal [a região cerebral que está relacionada ao planeamento de comportamentos e pensamentos complexos, expressão da personalidade, tomadas de decisões e modulação de comportamento social]. A mesma região que a realidade virtual afetaria alterando-a anatomicamente a ponto de não conseguirmos imaginar da mesma maneira como seriam as coisas. É controverso, não é?”, questiona, para de seguida responder à sua pergunta.

“Mas é possível!”, assegura, explicando como “isso acontece”: É que “o mundo virtual nos traz satisfações constantes e facilitadoras que interferem no sistema límbico do cérebro, relacionado às emoções, alterando também o lobo frontal, região da prevenção e imaginação de possibilidades”, diz o académico destacando neste processo os efeitos da dopamina, o neurotransmissor que atua em diversas regiões do cérebro ligado à sensação de prazer e motivação.

“No mundo virtual, buscam-se os facilitadores para a recompensa, como acesso fácil e a ansiedade precursora, encontra-se a recompensa a todo instante”, diz Fabiano Abreu no artigo científico em que questiona a relação existente os humanos e o grau de adaptação ao metaverso. “Estaremos perante a nova forma de evolução humana?”, indaga.

Para o estudioso, esse formato de interação contribui para obtenção de informação detalhada sobre qualquer assunto, conteúdos, utilizadores e comunidades em qualquer parte do planeta, sendo uma das maiores criações neste ramo. No entanto, ao ser usada além do limite, essa tecnologia acaba obrigando as pessoas a criarem novos mundos virtuais.

“Nós somos seres programados de determinada maneira e a mudança que está prestes a ocorrer, de forma tão repentina, não nos dará tempo para a adaptação necessária, de uma forma que não nos atinja tão nocivamente”, explicou Abreu em parte do artigo.

Para o académico, no mundo virtual as pessoas procuram recompensa, com acesso fácil e a ansiedade antecipada, mas o que ocorre é que a mesma conquista não libera a mesma intensidade do neurotransmissor, precisando de novos prémios para outras libertações.

“A ansiedade funciona como pendência, faz parte do instinto para procurar uma solução, e quando não encontrada conforme expectativa, leva à insatisfação. Se isso ocorre constantemente, molda a anatomia do cérebro, que gera a alteração da produção de neurotransmissores, levando a uma ‘disfunção homeostática’, isso nos levará a problemas como, distúrbios, transtornos ou doenças como a depressão”, detalhou o neurocientista.

Muitas pessoas insistem em dizer que o ser humano irá se adaptar ao mundo virtual, mas o pesquisador afirma que isso não irá ocorrer, pois existe algo real que nos causa medo: a morte. “A partir do momento que a morte é determinante e é real, ela conduz o nosso instinto, que está relacionado aos riscos reais, ou seja, existe uma burla no nosso código genético, que está determinado e isso causa ansiedade e disfunções”, concluiu.

Na próxima quarta-feira, o neurocientista irá participar do World Creativity Day, no qual Fabiano Abreu irá falar presencialmente sobre “como desenvolver a criatividade”, tema que insere no âmbito de um debate relacionado às questões da Internet e do cérebro, assunto que o luso-brasileiro tem vindo a discutir e estudar nos últimos anos.

Este evento apresenta-se como sendo o maior festival colaborativo de criatividade do mundo e terá transmissão online durante os dias 20, 21 e 22 de abril.(MM) 

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