Manuel Matola
O filme do cineasta moçambicano Júlio Silva “O Poeta da Ilha”, que relata a história de um poeta cabo-verdiano preso pela PIDE três dias antes do 25 de abril e 1974, participa em maio no Festival das Migrações, Culturas e Cidadania, o mais antigo e dos mais representativos festivais interculturais de Luxemburgo.
Segundo a organização, desde que o evento foi fundado em 1981, “ano após ano”, o Festival des migrations, des cultures et de la citoyenneté “bate todos os recordes” de participação, pois conta com mais de 400 stands, além de espaços culturais e zonas de encontros literários.
“Os compromissos associativos que são contados, debatidos, argumentados, são sempre mais numerosos, inventivos, criadores de possibilidades animadoras”, lê-se na página oficial do evento virado para a temática da imigração.
“O Poeta da Ilha” é representado pelo ator cabo-verdiano João Graça, num enredo que gira à volta da prisão deste e sobre outros acontecimentos ligados à temática da procura da liberdade das prisões do Tarrafal e no Fortim, em Cabo Verde, estabelecimentos prisionais usados pela polícia política do regime colonial (PIDE).
A ante estreia do filme teve lugar a 12 de março em Portugal, onde o realizador Júlio Silva vive, pelo que esta é a primeira apresentação internacional da longa-metragem gravada nas Ilhas de São Vicente e Santo Antão com o objetivo de mostrar aos mais jovens o que custou a liberdade aos cabo-verdianos que na clandestinidade lutaram pela independência de Cabo Verde.
Além do ator João Graça, no elenco do projeto destaca-se Bia Barbosa, Rank Gonçalves e Mirita Veríssimo, que é igualmente produtora do filme “Poeta da Ilha”.
Há largos anos que Júlio Silva SE tem dedicado ao cinema rural em Moçambique, após ter criado uma linha cinematográfica muito africana, que aborda a Cultura, História, realidade, o quotidiano e a língua, o que lhe tem valido prémios e convites de outros países da CPLP para lá fazer alguns filmes.
Júlio Silva é dos poucos cineastas rurais em Moçambique, onde também desenvolve trabalhos como escritor, produtor musical, além de ser músico multifacetado com mais de 300 Cd/disco Vinil produzidos a nível dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (CPLP).
Em 2019, o autor foi reconhecido como realizador do Ano pelo círculo de leitores dos Escritores Moçambicanos na Diáspora e ganhou também o Prémio de Melhor Documentário Júri Popular no Festival de FESTIN (Festival de Cinema Itinerante da Língua Portuguesa).
No Brasil também arrecadou no mesmo ano dois prémios com os filmes “Escravatura” e “Chikuembo-1”.
A longa história sanguínea faz de Júlio Silva um verdadeiro imigrante, pois o cineasta é bisneto de alemães, holandeses, brasileiros e cabo-verdianos, uma fusão que o ajuda a saber contar as pequenas histórias de ir e vir pelo mundo também graças à sua veia de Antropólogo cultural. (MM)