Considerada uma das 100 figuras mais influentes do mundo pela revista “Time”, esposa de Samora Machel, primeiro presidente de Moçambique – no Governo do qual ocupou a pasta de Ministra da Educação por mais de uma década – e, posteriormente, esposa do líder histórico do ANC e primeiro presidente negro da África do Sul, Nelson Mandela, Graça Machel é a tal.

Pois então, depois das suas recentes (e polémicas) intervenções – na sequência do afastamento, pelo seu próprio partido, a Frelimo, do filho (na verdade enteado) Samora Machel Jr., da corrida à presidência do Município de Maputo – Graça tornou-se numa das subscritoras de várias cartas que o Fórum de Monitoria ao Orçamento (FMO), uma coligação que integra 21 ONG´s e a sociedade civil moçambicana, que consideram que as dívidas ocultas são ilegais e foram usadas para o enriquecimento ilícito de algumas pessoas.
Tais cartas foram endereçadas a diversas entidades internacionais exigindo que o Estado moçambicano seja exonerado do pagamento das dívidas ocultas, sendo uma delas dirigida ao Credit Suisse, pelo seu falhanço na operação.
Graça e o FMO consideram que os empréstimos ilegais atiraram Moçambique para uma crise de dívida e crise económica.
Assim sendo, Machel não só se junta à “campanha do Não” contra o consentimento do Credit Suisse a toda operação que resultou nas dívidas ocultas, como também intervém na carta dirigida ao fundo soberano da Noruega NBIM, o terceiro maior accionista do Credit Suisse, com 4,98%, pedindo o cancelamento da dívida.
Graça Machel e o FMO endereçaram ainda uma carta à directora-executiva do FMI, Christine Lagarde, pedindo que esta instituição reconsidere a sua posição e retome negociações com Moçambique.
A viúva de Machel e Mandela, juntamente com o FMO, também se insurgem contra o regulador financeiro britânico, o Financial Conduct Authority (FCA), e o Serious Fraud Authority, exigindo uma acção contra o Credit Suisse pela sua actuação.
De recordar que o FMI cortou a ajuda financeira a Moçambique, na sequencia da divulgação de todo o manancial das dívidas ocultas, medida esta que foi seguida pelos países doadores do Orçamento do Estado.
UMA MULHER DE CAUSAS

A ultima vez que que Graça Machel apareceu em publico e criou impacto foi (como se disse acima) quando Samrora Machel Jr. – seu filho de criação – foi afastado pela Frelimo, contra a sua vontade da corrida às autárquicas, por Maputo, a favor de Eneas Comiche, num caso que levantou bastante celeuma.
Cerca de dois anos antes, porém, a “mamã Graça” – como é tratada por uma larga franja de moçambicanos – havia estado “presente” num caso mediático e de triste memória que envolveu a sua filha, Josina Machel, espancada pelo ex-namorado, tendo perdido um olho…
Activista dos direitos humanos, especialmente os das mulheres e crianças, e lutadora incansável contra a violência doméstica, Graça – que também é fundadora e presidente do FDC (Fundação para o Desenvolvimento da Comunidade) – empenhou-se a fundo na defesa da causa da sua única filha.
Numa entrevista recente, ela afirmou “costumo dizer que vivi muitas vidas numa só, por isso mesmo vivo as minhas causas porque fazem parte da minha própria vivência“.

E de facto, Graça Machel colaborou com o marido Nelson Mandela, em 2007, na criação da The Elders, uma ONG cujo objectivo é promover a paz e debater temas humanitários no mundo. Formada por 11 líderes mundiais, incluindo ex-presidentes, ex-primeiros ministros, vencedores do Premio Nobel da Paz e personalidades de reconhecido mérito mundial a nível das artes e dos negócios, designadamente Jimmy Carter (ex-presidente dos EUA), Kofi Annan (ex- SG da ONU), Desmond Tutu (arcebispo sul-africano e Nobel da Paz), Fernando Henrique Cardoso (ex-presidente do Brasil), Lakdhar Brahimi (ex- primeiro-ministro da Argélia), Martii Ahitisaari (ex- presidente da Finlândia e vencedor do Nobel da Paz), Ela Bahatt (fundadora da Associação Mulheres Autónomas da Índia), Aung San Suu Kyi (activista de Mianmar e Nobel da Paz), Peter Gabriel (musico britânico) e Richard Branson.
Aos 73 anos de idade a antiga primeira-dama de Moçambique e da África do Sul continua a desenvolver uma intensa actividade em prol do combate à insegurança alimentar em Moçambique, tendo como um dos principais objectivos evitar que as crianças deixem de frequentar a escola precocemente devido a esse flagelo.
Numa ocasião recente Machel lembrou que “a fome mata mais pessoas a cada ano do que o SIDA, a malária e tuberculose juntas, porém dos grandes problemas que a humanidade enfrenta hoje, este é o único solucionável”
O B.I. DE GRAÇA MACHEL

Nascida Graça Simbine, em Incadine (distrito de Manjakaze – Provincia de Gaza, sul de Moçambique) a 17 de Outubro de 1945, a antiga primeira-dama de Moçambique e da África do Sul é Bacharel em Filologia da Língua Alemã, pela Universidade de Lisboa.
Depois de ter sido Ministra da Educação e Cultura, entre 1975 e 1989, esteve ligada a várias organizações internacionais, com destaque para o Fórum de Mulheres Africanas Educadoras, o Fórum da Liderança Africana, o Grupo Internacional para a Crise, o Fundo da Aliança Global para Vacinas e Imunidades, e o MARP – Mecanismo Africano de Revisão de Pares.
Esteve casada com Samora Machel, presidente de Moçambique, entre 1975 e 1986, e com Nelson Mandela, presidente da África do Sul, entre 1998 e 2002, tornando-se na primeira (e até hoje única) mulher a ser primeira-dama de dois países.
Graça Machel é presentemente a presidente do FDC – Fundação para a Desenvolvimento da Comunidade, e patrona do movimento Stop Hunger Now in Southern Africa.