Os desafios da nova embaixadora angolana e dos imigrantes em Portugal

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Maria de Jesus Ferreira, nova Embaixadora angolana em Portugal

Manuel Matola

A comunidade angolana em Portugal tem uma nova embaixadora: a jurista Maria de Jesus Ferreira, que torna a primeira mulher a exercer a função, no território português, ao suceder no cargo o diplomata Carlos Alberto Fonseca.

O jornal É@GORA pediu a alguns imigrantes angolanos para, numa palavra, dizerem qual é que acham que deve ser a prioridade da nova embaixadora Extraordinária e Plenipotenciária da República de Angola na República Portuguesa.

A diplomata Maria de Jesus Ferreira na apresentação das cartas credenciais ao Presidente português Marcelo Rebelo de Sousa. FOTO cedida pela embaixada de Angola em Portugal
Nomeada a 07 de março pelo chefe de Estado angolano, João Lourenço, a diplomata Maria de Jesus Ferreira apresentou, esta quinta-feira, cartas credenciais ao Presidente português Marcelo Rebelo de Sousa, numa cerimónia privada realizada no Palácio de Belém, em Lisboa.

À pergunta, qual é que acha que seria o principal desafio da nova embaixadora angolana em Portugal, a jornalista, socióloga e escritora angolana Luzia Moniz respondeu perentoriamente: “A despartidarização e ´despidezação` da Embaixada”.

A perceção de que nos serviços consulares angolanos as coisas só acontecem bem para quem é militante do MPLA, ou próximo de alguém deste partido no poder em Angola, não é nova. Aquando da realização das eleições presidenciais, as primeiras em que a diáspora pôde participar, os imigrantes angolanos manifestaram-se à porta do consulado de Angola em Lisboa e exigiram uma mudança de regime, visando despartidarizar as instituições e desconstruir o “partido Estado” – o MPLA -, que tem governado Angola desde 1975, ano da independência daquele país lusófono.

O jornalista Vítor Hugo Mendes apresenta uma justificação para essa perceção que “é premente” alterar ao considerar que “é a embaixada que não cria mecanismo de fácil aproximação” com os vários membros da comunidade diásporica com credos diferentes.

Segundo Vítor Hugo Mendes, “o desafio é da embaixada para a comunidade. A embaixada é (ainda) muito partidária e daí muitos afastarem-se dela. Esse é primeiro desafio”, diz apelando à nova direção da Embaixada e aos imigrantes para necessidade de maior aproximação: “É premente, mas quem se afasta não é a comunidade” angolana residente em Portugal, afirma.

Desorganização institucional

A “desorganização do consulado de Lisboa, o mau atendimento e a má prestação administrativa” são algumas das preocupações que o imigrante Cláudio Bunga destaca ao elencar as várias “reclamações por parte dos utentes” que se deslocam aos serviços prestados pelo consulado angolano em Portugal, o braço executiva da embaixada na relação com o público.

Numa resposta escrita dada quase que de forma telegráfica, Cláudio Bunga aponta os principais desafios da imigração que para si devem fazer parte da lista das prioridades e nortear o trabalho da nova embaixadora angolana em Portugal.

“Podes falar sobre a desorganização do consulado de Lisboa, do mau atendimento, a má prestação administrativa e muita morosidade a tratar e receber documentos. Há muitas reclamações por parte dos utentes” e os serviços consulares “estão se marimbando”, diz o imigrante que veio pela primeira vez a Portugal há quase uma década.

Os desafios da embaixadora Maria de Jesus Ferreira não são só de âmbito social, são também de fórum jurídico que têm implicações junto da comunidade, segundo assinalou a jornalista Jorge Madeira ao resumir os desafios dos angolanos em Portugal numa só palavra: “Legalização”, disse.

Mas há vários contornos desse processo de aquisição do pleno direito de residência em Portugal, acrescentou a jornalista e escritora angolana Sílvia Milonga quando questionada pelo jornal É@GORA sobre quais são para si os principais desafios da nova diplomata.

“Conseguir que os acordos de reciprocidade entre os dois estados sejam mais vantajosos para a comunidade angolana residente em Portugal” é também uma das prioridades que a atual embaixadora vai ter no exercício das novas funções, ao lidar com aquela que é considerada uma das comunidades imigrantes mais representativas da África lusófonas em Portugal, diz Sílvia Milonga.

Sendo que uma das causas da imigração no mundo ainda é especialmente económica, o que determina a atração dos imigrantes para espaços territoriais no mundo onde existam melhores oportunidades de emprego, tal como Portugal, o jornalista Vladimir Prata lembra a necessidade de o governo angolano “tornar expressiva a remessa de dinheiro enviado ao país pela comunidade de imigrantes, contribuindo assim para o crescimento do PIB, o que certamente não acontece nos dias de hoje”.

A jurista Maria de Jesus Ferreira, licenciada em Direito e mestre em Direito Internacional, é uma diplomata de carreira, pois já foi representante Permanente de Angola junto das Nações Unidas.

Hoje torna-se na primeira mulher a exercer o cargo de representante do Estado Angolano em Portugal, onde os anseios de cada um dos 31.435 imigrantes angolanos residentes no país pode representar diariamente seu novo desafio matinal. (MM)

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