Parlamento e os novos “titãs” da imigração: uma luso-guineense e um luso-moçambicano da extrema-direita

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Deputada luso-guineense Romualda Fernandes, do PS, e o deputado luso-moçambicano Gabriel Mithá Ribeiro, do Chega

Manuel Matola

A deputada luso-guineense Romualda Fernandes, do PS, e o deputado luso-moçambicano Gabriel Mithá Ribeiro, do Chega, partido da extrema-direita e anti-imigração, são agora os únicos rostos da imigração num Parlamento gerido em absoluto pelos socialistas.

A XV Legislatura arrancou hoje com um discurso centrado no momento político que se vive na Europa mas que irá modificar o quadro sociodemográfico de Portugal: a receção dos refugiados que fogem à guerra na Ucrânia após a invasão russa.

Pela primeira vez na História da Democracia portuguesa, o Parlamento terá um imigrante, vice-presidente de um partido da extrema direita, que vai estar em contraciclo com a única voz que se mantém no hemiciclo para ecoar os anseios da comunidade imigrante em Portugal: a luso-guineense Romualda Fernandes.

Em termos ideológicos, ambos assumem posições diametralmente opostas, pelo que à deputada socialista caberá o exercício estratégico de “anulação” do partido Chega no Parlamento em matéria de imigração, por forma a dar resposta a já anunciada pretensão do líder do PS, António Costa, que durante a campanha eleitoral se dirigiu diretamente ao presidente do Chega, André Ventura, para o avisar numa curta mensagem: “Comigo não passará”.

Do imigrante moçambicano Gabriel Mithá Ribeiro espera-se, contudo, a responsabilidade também de materializar o que está plasmado no programa eleitoral do partido que se apresenta contrário à presença da comunidade migrante no território português ao assumir uma posição firme relativamente ao futuro demográfico do país: O Chega “recusa fazer da substituição demográfica dos portugueses por não-portugueses a resposta à queda da natalidade”.

No seu manifesto eleitoral, o partido presidido por André Ventura aponta que, neste ponto, “a solução legítima passa por políticas que impeçam o fluxo migratório inverso, a saída para o estrangeiro de milhares e milhares de compatriotas nossos todos os anos”.

Quando foi eleita nas Legislativas-2019, a jurista Romualda Fernandes que agora renovou o mandato até 2026 pelo Partido Socialista atribuiu a si o título de combatente na luta contra as classes desfavorecidas, nomeadamente os imigrantes: “A minha bandeira é contra a exclusão social” em Portugal, disse anteriormente em entrevista ao jornal É@GORA.

Após assumir hoje a nova presidência do Parlamento, o socialista Augusto Santos Silva, ex-ministro dos Negócios Estrangeiros no governo do PS, também deixou ficar uma mensagem subliminar sobre aquilo que deverá nortear a atuação dos deputados socialistas em relação ao Chega, ao afirmar que a “melhor maneira de combater populismo é não lhe dar mais relevância do que teve”.

Embora se tenha comprometido a estar acima dos partidos políticos durante o exercício das novas funções na Assembleia da República, Augusto Santos Silva assegurou que “o único discurso sem lugar” no Parlamento “será o discurso do ódio”.

Quando passam 17 505 dias do tempo da democracia que ultrapassa, em seis dias, a duração da ditadura, que teve precisamente 17 499 dias, há um reposicionamento dos rostos e das vozes da imigração no Parlamento português que pela primeira vez terá o Chega como a terceira posição após eleger 12 deputados entre os 230 parlamentares.

A deputada Romualda Fernandes terá uma espinhosa missão de contrapor a narrativa discursiva que nos próximos quatro anos vai dominar a intervenção dos deputados do Chega que, de resto, será apenas um partido de protesto. (MM)

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